João Saldanha e sua fase na Seleção Brasileira

Por Bruna Menezes
Foto: arquivo

João Saldanha

João Alves Jobim Saldanha nasceu em 3 de julho de 1917 em Alegrete, Rio Grande do Sul, conhecido por "João Sem-Medo" justamente por ser um grande dramaturgo e também famoso por suas crônicas esportivas. Se formou no final de 1940 em sua primeira graduação, cursou Direito na atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas não seguiu carreira.

Em 1941 após sua graduação, João se tornou zagueiro do Botafogo aos 24 anos, e por entregar um bom desempenho em campo e pelos seus avanços no futebol, em 1957 trocou a camisa de jogador pela camiseta de treinador oficial do clube, neste ano o time foi Campeão carioca, e continuou atuando na equipe do Botafogo por três anos.

João deixou os gramados e resolveu seguir acompanhando os grandes times através dos bastidores, foi então que em 1960 se formou em jornalismo, sua segunda graduação, se tornando destaque na profissão de cronista esportivo.

Sua trajetória foi traçada por diversas reviravoltas, apesar disso Saldanha nunca se mostrou com receio de se colocar a frente e mostrar de peito aberto suas opiniões, muitas vezes consideradas afiadas. Também nunca escondeu sua visão e seu posicionamento militante (comunista) em suas escritas.

Ainda assim, mesmo com uma carreira brilhante de cronista, seus antigos resultados no campo na época que era treinador, não foram esquecidos e em 1969 João Saldanha recebeu o convite para ser técnico da seleção brasileira, onde cordialmente aceitou o convite e voltou novamente para os gramados. E após o treinamento, a seleção passou a jogar bem, entregando um bom desempenho e 100% de aproveitamento em campo na eliminatória, de 6 jogos que o time participou, o gaúcho obteve as seis vitórias, tornando os seus jogadores conhecidos como os "Feras do Saldanha". Sendo assim, a seleção foi classificada para a Copa do Mundo.

Como já foi dito, João Saldanha nunca escondeu sua opinião sobre a política local e nessa época, estávamos passando por momentos difíceis por parte do então governo militar, onde a ditadura mandava e desmandava no Brasil, e Saldanha sempre deixava claro a imagem que tinha da situação, e isso já incomodava os "governantes", como por exemplo, um depoimento que fez logo após ser demitido, Saldanha disse que "era difícil tolerar um cara com longa trajetória no Partido Comunista Brasileiro ganhando força, debaixo da bochecha deles."

Muito se fala sobre os motivos que levaram Saldanha a ser destituído do cargo de treinador faltando poucos meses para a Copa, mas em 1970 o técnico já tinha selecionado alguns nomes para jogar pela seleção, onde o país anfitrião seria o México, porém um dos governantes tinha o seu jogador favorito e criou um impasse na hora de selecionar oficialmente os nomes que seriam convocados, fazendo João Saldanha se revoltar ainda mais com essa interferência política.

Até então a convocação estava definida dessa forma; Garrincha tinha sido desconsiderado pelo técnico. Pelé foi um dos primeiros nomes que foram adicionados na lista do treinador, e os demais jogadores conhecidos como os "Feras do Saldanha" estavam quase todos convocados, entretanto o general Emílio Garrastazu Médici era fã de futebol e desejava ver Dadá Maravilha na seleção. O Brasil era uma ditadura e as ordens de um presidente militar eram de extrema importância, que deveriam ser cumpridas. Saldanha não se intimidou com a pressão palaciana e disse: “Eu não escalo os ministros do presidente e o presidente não escala os jogadores”.


Os militares pressionaram a CBD (Confederação Brasileira de Desportos), atual CBF, e Saldanha foi demitido, e quem assumiu a seleção após sua saída foi Zagallo, que escalou Dadá para jogar e o Brasil se tornou Tricampeão após derrotar a Itália. Porém essa vitória é considerada mérito de Saldanha, já que ele passou todo o período desde as eliminatórias, treinando o time, foi o verdadeiro responsável pela taça de ouro que o Brasil conquistou no México, arrisco dizer que sem os seus comandos o Brasil poderia não ter sido campeão naquele ano.

Após o ocorrido e sua retirada do posto de treinador, Saldanha seguiu na crônica esportiva brasileira, onde contava com grandes nomes como Nelson Rodrigues e Armando Nogueira. Os três participaram da primeira mesa redonda da televisão brasileira, a Grande Resenha Facit, transmitida pela Rede Globo. Em 1990, João Saldanha foi contratado pela Rede Manchete para comentar os jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo realizada na Itália. Sua saúde já estava debilitada e pouco tempo depois o ex-técnico e cronista morreu em 12 de julho de 1990, em Roma.
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