Foto: Divulgação/Liverpool FC
O domingo do dia 19 de maio de 2024 fica marcado como uma das datas mais tristes da história do futebol inglês e do futebol mundial. Nesta tarde inglesa e brasileira, a Premier League se despediu de Jurgen Klopp, que treinou o Liverpool em sua última partida nesta vitória/empate/derrota para o Wolverhampton por X a X. Diante de um Anfield Road lotado, o jogo ficou em segundo plano para as lindas e justas homenagens de despedida a um sujeito que é quase um Bill Shankly da era moderna. Um ser humano que virou a personalidade estampada do Liverpool.
Jurgen chegou a Anfield num cenário devastado, numa situação parecida, guardada as várias devidas proporções, ao que Shankly enfrentara no início dos anos 1960, quando pegou um clube na segunda divisão com problemas estruturais graves. Se não estava na segunda divisão, os Reds que receberam Klopp em 2015 eram um clube com falhas estruturais agudas comparados aos rivais, com um elenco que não estava sequer próximo da envergadura da instituição. Era um trabalho de reconstrução, de, como tão sabiamente descreveu o alemão, transformar os desacreditados em otimistas.
Ao seu estilo, Klopp foi conquistando uma das torcidas mais fiéis, fanáticas e também mais machucadas do futebol. A sua primeira temporada já mostrou o lado que seus times sempre tinham de colocar o coração no jogo, o que ocorreu principalmente e notavelmente nas vitórias de 5 a 4 sobre o Norwich, num jogo normal de Premier League que foi um cartão de visitas do que estava por vir e na classificação diante do Borussia Dortmund na Europa League com uma vitória por 4 a 3 que foi uma prévia de noites épicas continentais.
O título não veio, a campanha terminou em dor na final, mas os alicerces estavam sendo firmados. Aos poucos, Klopp deu ao time a cara que tornaria a melhor equipe do mundo dali a alguns anos. Chegou Mané, Firmino se acertou, chegou, já com uma classificação de Liga dos Campeões obtidas, Mohamed Salah, que seria o grande nome ofensivo da era Klopp e se tornaria um dos maiores da história do clube. Em meio ao épico da Liga dos Campeões da temporada 2017/2018, Coutinho foi embota, mas abriu espaço para Van Dijk. A dura derrota na final para o Real Madrid abriu a porta para Alisson e assim se formou a espinha dorsal de um dos maiores times da história do futebol.
A partir da temporada 2018/2019, vencer o Liverpool virou uma tarefa para pouquíssimos privilegiados. Na Premier League, incríveis 97 pontos não foram suficientes para o título, mas o território continental, estrada tão conhecida pelo clube, virou um caminho quase tranquilo. Uma vitória diante do Bayern dentro da Alemanha começou um mata-mata que passou por uma classificação tranquila diante do Porto e um épico diante do Barcelona, uma das maiores viradas da história, que tornou o título quase protocolar diante do Tottenham. A primeira taça foi só a Liga dos Campeões.
No ano seguinte, a Premier League veio com os Reds liderando de ponta a ponta, numa campanha que parecia uma espécie de resposta na força do ódio ao City. A Liga passou perto de novo em 2022, numa temporada que quase virou um épico de uma quadrupla, mas que terminou com duas enormes tristezas ao final da Premier League e da Liga dos Campeões. As dores também foram parte da era Klopp e elas engrandeceram esses nove anos tanto quanto as vitórias. A própria temporada de despedida foi cheia de tristezas.
Porque boa parte do que Klopp foi, é e sempre será também tem a ver com as dores que vieram nesses anos. As derrotas em finais, as duas temporadas abaixo em 2020/2021 e 2022/2023, as feridas dolorosas que tornaram tão especiais os momentos de alegria e que mostraram que Klopp era também um ser humano. Derrotas que são também normais no cotidiano de um time gigante, que são o tipo de decepção que uma instituição da envergadura do Liverpool tem que possuir, a dor de um vice-campeonato e não a decepcionante e latejante rotina do ostracismo.
O citado "ser humano" Klopp é na verdade o grande motivo deste sujeito ser tão amado por tanta gente, até não torcedora do Liverpool. Jurgen tem um carisma quase incompreensível num futebol tão pasteurizado, um genuíno ar de alguém que você adoraria sentar para um churrasco. Um sujeito que mostra em todas as atitudes o seu enorme coração, seja no claro modo como conquista seus atletas, na forma como deixa suas posições humanitárias claras. Jurgen Klopp é descrito por muitos como um ser humano melhor que um treinador de futebol e ele é um dos melhores treinadores do planeta.
Anfield se despediu de Klopp com muitas homenagens e lágrimas e tamanhas honrarias só são conquistadas pelos gigantes. O alemão foi uma espécie de Bill Shankly dos nossos tempos, um respiro de sentimento num futebol tão frio e matemático e foi um privilégio assistir seu time jogar, foi um privilégio torcer para que seus times vencessem. Foi uma incrível jornada que valeu cada segundo vivido. Ao fim disso tudo, só posso, assim como tantos, usar uma frase simples em seu idioma natal para resumir algo que as palavras não são suficientes para descrever: Danke, Jurgen!
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