Foto: Paul Ellis/AFP
Klopp deixará o Liverpool em Junho
A profissão de treinador é certamente a mais ingrata do futebol. Em qualquer crise, o primeiro local onde a bomba explode é geralmente em quem treina o time, sendo que algumas vezes a culpa mal é de quem está comandando. Porém, o futebol também já criou relações entre treinadores e clubes que são tão fortes que é até difícil separar um do outro, casos como Telê Santana e São Paulo, Alex Fergunson e Manchester United, entre outras. O futebol tomou um de seus maiores golpes na manhã desta sexta, dia 26 de janeiro de 2024: Klopp e Liverpool anunciaram que em junho terminará uma das mais bonitas relações entre um treinador e um clube, já que o alemão deixará Anfield ao fim da temporada.
Klopp chegou a Anfield em 2015 e revolucionou completamente o maior clube da Inglaterra, a exemplo do que fizera Bill Shankly nos anos 1960. O alemão pegou um clube devastado por anos de campanhas abaixo do que sua história pedia e transformou essa equipe numa das mais fortes do mundo. Mais do que isso, reestruturou também o clube ao ponto de colocar a máquina vermelha de volta ao funcionamento. O anúncio do fim da relação cai na torcida como um luto, no nível do que foi a saída do próprio Shankly.
Klopp fez história treinando o Liverpool, mesmo que a quantidade relativamente "baixa" de títulos talvez faça alguns estranharem essa frase. O Alemão cumpriu o própósito que colocou no início de sua passagem, transformou os desacreditados em torcedores crentes que as coisas poderiam dar certo, transformou o clube. Mais do que isso, foi capaz de entender como poucos o "ethos" do que é o Liverpool, seja o clube ou a cidade, conseguiu como poucos criar uma ligação quase familiar com uma torcida, ao ponto de fazerem muitos sentirem que o fim iminente de sua passagem no clube cai como a perda de um ente querido. Ele ressignificou e ao mesmo tempo se encaixou como poucos no que todo e qualquer torcedor dos Reds pensa o que é de fato "ser Liverpool".
A música que a torcida criou para o alemão, hit das arquibancadas inglesas montado em cima da clássica Ticket to Ride, dos Beatles, mostra bem o que é essa relação: "Eu estou tão feliz que Klopp é um Red, eu estou tão feliz que ele entregou o que prometia". Ao mesmo tempo, numa relação tão visceral, tão forte, é normal que haja um desgaste pessoal enorme e é completamente compreensível que um cara que dá tudo de sí no trabalho como é Jurgen esteja cansado.
O que foi possível conhecer do ser humano Jurgen Klopp explica muito do motivo desse final de relação. O alemão é, curiosamente diferente do que muitos entendem como o jeito de alguém deste país, um sujeito de grande coração que coloca todo o seu sentimento dentro do trabalho, um homem que toma muitas decisões baseados na sua família. Recentemente, Jurgen teve o nascimento de seu primeiro neto e aos 59 anos é possível entender que ele pense que há coisas que valem mais a pena do que a carreira no futebol. Nos resta respeitar uma decisão que parece motivada por algo muito maior que o esporte.
A este sujeito que vos escreve, que jamais escondeu que o Liverpool é um dos dois clubes que gosta na Europa, a notícia caiu como uma bomba. O único pedido que faço é que, caso exista alguma justiça nesse mundo tão cruel, então que o título da Premier League fique em Anfield Road, fechando com enorme justiça a passagem mais marcante que vivi de um treinador dentro de um clube. Você foi fantástico Jurgen, responsável direto por muitos dos jogos mais especiais que vi como um fã de futebol.
O futebol, aliás, é quem mais perderá com o fim da era Klopp. O esporte bretão verá o fim de uma das maiores relações entre um treinador e um time que este maravilhoso jogo já gestou e restará a todos nós agradecer por sermos testemunhas do sujeito que desafiou a lógica, do único capaz de parar Pep Guardiola e do homem que se descreveu como "normal One". Danke, Jurgen.
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