O Inter campeão brasileiro invicto em 1979

Por Ricardo Pilotto
Foto: Arquivo

O Colorado foi campeão brasileiro invicto em 1979

A finalíssima do Campeonato Brasileiro de 79 entre Internacional e Vasco teve todas as atrações necessárias para uma grande decisão. Afinal, o confronto entre gaúchos e cariocas colocou duas torcidas fanáticas frente a frente, fechando a década de 70 no futebol de nosso país em grande estilo. Naquela ocasião, quem levou a melhor foram os colorados, que, há exatos 44 anos, puderam aproveitar todo o tipo de comemoração que um conjunto vencedor merece.

O time porto alegrense foi para a partida decisiva disputada no dia 23 de dezembro de daquele ano em vantagem. No jogo de ida, a equipe comandada por Ênio Andrade conseguiram superar um Maracanã lotado com 60 mil pessoas nas arquibancadas, a chuva, e as importantes ausências de Falcão e Valdomiro. Para 'homenagear' dois dos grandes craques daquele elenco, o Inter marcou um gol para cada, sendo os dois, feitos por Chico Spina, que atuou na ponta-direita. Inclusive, um dos tentos foram originados de assistência de Valdir Lima, que jogou como alternativa para o meio campo vermelho e branco.

Confiante pela vantagem construída no Rio de Janeiro e eufórica pela excelente caminhada que o Clube do Povo construiu no decorrer da competição, a torcida gaúcha fez a sua parte e abarrotou o Beira-Rio, que completava 10 anos de existência. Até chegar na decisão, o Internacional já havia disputado 22 partidas, somando 15 vitórias e sete empates. Teve um dos melhores ataques, com 38 gols e uma das defesas menos vazadas com apenas 12 tentos sofridos. Além do título, a nação vermelha e branca queria a conquista de maneira invicta.

Do lado oposto, havia um time com um estilo de futebol bastante ofensivo e afim de estragar a euforia, que exigia muito respeito. Oto Glória, treinador do Gigante da Colina, afirmou às vésperas da grande final que o Vasco teria uma missão difícil, mas nada impossível. Para manter as esperanças em relação ao título, o treinador Cruzmaltino montou um esquema extremamente ofensivo, pensando especialmente no atacante Roberto Dinamite. Entretanto, o clube carioca sequer imaginou que esta atitude poderia ceder tantos espaços para o memorável meio campo colorado.

Aquele Inter teve uma grande contribuição no processo de revolução do futebol brasileiro. Enquanto o elenco bicampeão jogava no 4-3-3, desenho tático feito para priorizar Valdomiro e Lula, que jogavam abertos pelas pontas direita e esquerda, a equipe de 79 tinha a capacidade de variar do esquema composto duas linhas de três para atuar com um meio de campo com quatro atletas. O coringa era Mário Sérgio, que veio a suceder Lula no mesmo lugar do campo, mas teve de fazer um função completamente distinta.

Apelidado de Vesgo, por conta da sua rara habilidade soltar a bola de um lado ao mesmo tempo que olhava para a direção oposta, tinha como característica a recomposição, saindo do trio de ataque e recuando para meio campo. Com isso, ficava mais perto de Falcão e formava uma dupla habilidosa, que tinha uma capacidade enorme de furar qualquer bloqueio do adversário. A movimentação de Mário obrigava as defesas adversárias a abrir espaços para o ataque colorado, que contava com algumas surpresas para vencer os jogos, como o memorável Jair.

Porto Alegre estava com uma temperatura elevada e estava prestes a receber um jogo de alta tensão. Ênio, técnico do Internacional, aproveitou que tinha todos os seus jogadores à disposição e escalou os seus 11 titulares. Sendo assim, foi a campo com Benítez; João Carlos, Mauro Galvão, Mauro Pastor e Cláudio Mineiro; Falcão, Batista e Jair; Valdomiro, Bira e Mário Sérgio.

Foi este time, que empurrado pelo pulsante Beira-Rio, criou diversas chances no decorrer do primeiro tempo. Uma delas, aconteceu logo no início, quando Jair recebeu lançamento primoroso de Bira, superou a zaga na base da velocidade, e na meia-lua, viu que o arqueiro vascaíno estava adiantado. Com isso, o artilheiro vermelho e branco tentou encobrir, mas o goleiro conseguiu se recuperar e evitar o primeiro gol da partida. 

Na sequência, o Inter continuou em cima e ainda mais perigoso. Antes de chegar a metade do primeiro tempo, foi a vez de Batista, que fez um campeonato maravilhoso, levar perigo à meta Cruzmaltina. O camisa 10 acertou um balaço da intermediária ofensiva aproveitando corte parcial da defesa e obrigou outra belíssima intervenção de Leão.

Os companheiros do setor ofensivo do goleiro do Vascão não acompanharam seu rendimento e apenas assustaram Benítez num chute de Wilsinho, que foi lançado por Dinamite, tentando aproveitar o montinho artilheiro para surpreender o goleiro do clube gaúcho. Porém, o arqueiro paraguaio conseguiu espalmar sem grandes dificuldades.

O tão procurado primeiro gol do Inter foi marcado aos 41', com as características do time de Ênio. O paredão colorado percebeu a movimentação de Mário Sérgio, que recuou para o meio campo defensivo e jogou no craque com as mãos. Com marcação a partir de trás do meio campo, o Vasco não apertou a saída. O camisa 11 foi inteligente: percebeu que Jair entrava no vazio que o "Vesgo" enquanto Bira puxava a marcação da dupla de zaga, e fez o lançamento para o camisa 9.

Quando a bola chegou, ele só deu leve desvio para trás. Livre de marcação, Jair disparou em velocidade, e em apenas dois toques, para inaugurar o placar: o primeiro, foi para fintar Leão, e o segundo para colocar a bola no fundo das redes.

O gol colorado acabou com o psicológico dos jogadores vascaínos. Antes do intervalo, Falcão e Bira fizeram uma belíssima tabela numa jogada que terminou com finalização de letra do Rei dentro da pequena área. Entretanto, Leão brilhou e fez a defesa com o tornozelo. Antes do encerramento do primeiro tempo, Valdomiro acertou a trave numa de suas cobranças de falta magistrais. No fim das contas, quem se sagrou herói foi o eterno ídolo: Paulo Roberto Falcão.

Na marca dos 13', Paulo Sérgio voltou a compor o setor defensivo. Na oportunidade seguinte, quem deixou preencheu o espaço deixado por vesgo foi Cláudio Mineiro, que recebeu um belo lançamento. O lateral-esquerdo emendou um cruzamento rasteiro da quina da grande área, tentando encontrar Bira, que chegava com rapidez a pequena área.


Ainda antes que o centroavante, Leão tentou afastar a bola para a marca penal. No fim, quem levou a pior foi o goleiro, que estava numa situação de desvantagem numérica na área: um quatro contra três. Por fim, a bola acabou sobrando ao cinco, que acertou um lindo chute rasteiro e muito forte no canto direito, levando cerca dos 70 mil torcedores ao delírio com o segundo gol.

A festa nas arquibancadas do Gigante da Beira-Rio era tanta que o gol perdido por Chico Spina após passe de Paulo Sérgio sequer foi lamentado. O gol de Wilsinho, que diminuiu aos 39', não causou preocupação. O Inter já estava praticamente com as mãos na taça e foi confirmado logo depois do apito de José Favile Neto. 

Naquele momento, o Internacional conquistava o seu terceiro título brasileiro. Desta vez, coroado com campanha especial: de maneira inédita e nunca mais repetida.
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