O Cruzeiro campeão da Copa do Brasil de 1993

Com informações do Guerreiro dos Gramados
Foto: arquivo

O capitão Paulo Roberto levantando a taça

Na década de 80, o Cruzeiro passou por uma fase de reestruturação. O time esteve em sérias dificuldades financeiras, e por isso viveu um longo período de vacas magras. Nos anos 80, o time somente conseguiu vencer os Campeonatos Mineiros de 1984 e 1987. Montava equipes modestas, que faziam campanhas razoáveis nos torneios em que disputava. Tudo isso, para economizar o máximo possível, assim saneando as dívidas, e reformulando a estrutura do clube. Um mal que veio para o bem. Na década de 90, o Cruzeiro foi arrasador. Durante toda a década o clube conquistou seis títulos internacionais, dois nacionais, um regional e sete de nível estadual. Foi considerado pela imprensa esportiva do Brasil, como o Campeão da Década.

Dentre todos esses títulos, a Copa do Brasil de 1993 teve grande importância para a galeria de troféus do clube. Primeiro por que o Cruzeiro não conquistava um título nacional desde 1966, quando levantou o caneco da Taça Brasil. Segundo que, a Copa do Brasil era uma competição recentemente implantada no calendário da CBF (começou a ser disputada em 1989) – seguindo os padrões da Copa do Rei (Espanha) e Taça da Inglaterra – e dava uma vaga direta na disputa da Taça Libertadores da América do ano seguinte. Assim, a Copa do Brasil passou a ser o segundo torneio mais importante do país, e era disputada por equipes de todos os estados. Até então,apenas Grêmio, Flamengo, Criciúma e Internacional haviam conquistado o torneio. Resumindo, mais um novo troféu na galeria de conquistas do Cruzeiro surgiria no ano de 1993.

O início da trajetória rumo ao título - A Copa do Brasil de 1993 contou com a participação de 32 clubes de 24 estados do Brasil. Ainda não havia sido implantado o sistema de vitória por dois ou mais gols na casa do adversário na primeira fase, que eliminaria o segundo jogo. Portanto, a equipe poderia abrir larga vantagem de gols na primeira partida, que o jogo de volta seria obrigatório. O Cruzeiro encarou a Desportiva do Espírito Santo na primeira fase. O jogo de ida foi realizado no dia 16 de março daquele ano, no Estádio Engenheiro Araripe – Cariacica. A partida terminou empatada por 1 a 1, com Washington marcando para o time capixaba, e Cleison fazendo o gol da Raposa. Três dias depois, as equipes voltaram a se enfrentar em Belo Horizonte, no estádio do Mineirão. Dessa vez, o Cruzeiro atropelou – venceu por 5 a 0 – com gols de Cleison (2), Nivaldo (2) e Éder Aleixo. A equipe mineira avançou às oitavas-de-final para enfrentar o Náutico, que por sua vez, eliminou o CRB de Alagoas com duas vitórias: ganhou por 1 a 0 em Maceió, e goleou por 5 a 0 em Recife.

No dia 6 de abril de 1993, Cruzeiro e Náutico fizeram o primeiro confronto das oitavas, no Estádio dos Aflitos em Recife. A Raposa encontrou sérias dificuldades, principalmente devido às condições precárias do gramado do estádio e acabou sendo derrotada pelo placar mínimo: um a zero para o Timbú. O gol dos pernambucanos foi marcado pelo armador Paulo Leme, e deu ligeira vantagem ao Náutico para a segunda partida. No Mineirão, o Cruzeiro tinha uma missão espinhosa pela frente, pois qualquer gol que o Náutico marcasse, poderia complicar a situação do time celeste cada vez mais. Era a regra do gol fora de casa valer como critério de desempate.

Mas o Cruzeiro fez o básico para reverter a vantagem do Timbú: com gols de Nonato e Nivaldo, o time fez 2 a 0 e avançou às quartas de final da competição. Dessa vez, o adversário seria o São Paulo, que havia eliminado Sergipe e Rio Branco nas fases anteriores. O time paulistano usava uma equipe formada por jogadores reservas na competição, pois dava prioridade à disputa da Taça Libertadores da América (na qual se sagrou campeão no mesmo ano). A primeira partida foi realizada no Morumbi, e o Cruzeiro levou a melhor: venceu por 2 a 1, com gols de Boiadeiro e Nivaldo; enquanto Cláudio Moura descontou para os paulistas. O Cruzeiro levava a vantagem de ter vencido fora de casa para Belo Horizonte. No jogo de volta, empate por 2 a 2 – Cleison marcou duas vezes para o Cruzeiro, enquanto Elivélton e Douglas anotaram os tentos do São Paulo. Mais de 36 mil pagantes acompanharam a partida no Mineirão. Cruzeiro classificado para as semifinais, dessa vez para enfrentar o Vasco da Gama.

Semifinal: Roberto Gaúcho e Edenílson são decisivos - Dessa vez, a primeira partida do Cruzeiro seria em casa. Mais de 32 mil torcedores vão ao estádio para empurrar o time celeste. A torcida do Vasco, em menor número, também aparece para dar seu apoio à equipe. O jogo começa e o Cruzeiro ataca como um rolo compressor para cima do Vasco. O atacante Edenílson constrói as principais jogadas do time na partida, dando muita dor de cabeça aos defensores vascaínos. Depois de muita pressão, a Raposa abre o marcador com Luís Fernando Flores – depois de um lançamento de Nonato, ele mergulhou de cabeça para fazer o gol – Cruzeiro 1 a 0. Minutos mais tarde, o Vasco empata depois de uma falha no sistema defensivo do Cruzeiro. A zaga deixa o time carioca tabelar e a bola sobra para França, que chuta cruzado, sem chances para Paulo César Borges. Mas no fim do primeiro tempo, o Cruzeiro marca o segundo gol: depois de um passe de Roberto Gaúcho, Edenílson manda para as redes. No segundo tempo, o Cruzeiro ainda aumentaria a vantagem, em mais um gol marcado por Edenílson – dessa vez de cabeça – depois de um belo cruzamento do inteligente Roberto Gaúcho. Final de jogo no Mineirão, e o Cruzeiro vence por 3 a 1, podendo perder por 1 gol de diferença no jogo da volta no Maracanã.

No jogo de volta cerca de 22 mil torcedores vão ao estádio para apoiar o Vasco. A tarefa era complicada, mas o time cruzmaltino tinha total confiança de que poderia bater o Cruzeiro dentro do próprio domínio. Começa bem, pressionando bastante. Paulo César faz duas boas defesas no início do jogo. Ainda no primeiro tempo, o Vasco abre o marcador com Valdir, depois de uma dividida com o goleiro cruzeirense e vira o primeiro tempo com o placar de um a zero. Na segunda etapa, o Cruzeiro começa a equilibrar as ações e chega ao gol de empate. O capitão Paulo Roberto solta uma bomba em uma cobrança de falta de longa distância e a bola entra no ângulo esquerdo de Carlos Germano. Um golaço do lateral-direito cruzeirense! Quase no final da segunda etapa, a Raposa ainda teve outra chance de marcar: Roberto Gaúcho sofreu pênalti e o lateral Paulo Roberto se encaminhou para a cobrança, mas acabou acertando o poste direito do gol vascaíno. Final de jogo – Vasco 1×1 Cruzeiro. O time mineiro avançava à sua primeira final de Copa do Brasil para enfrentar o Grêmio, que por sua vez já havia conquistado a competição em sua primeira edição, no ano de 1989.

A grande final – mais uma vez brilha a estrela de Roberto Gaúcho - Por um lado, o Grêmio tinha o artilheiro Gílson e o habilidoso Dener. Por outro, o Cruzeiro contava com a inteligência de Roberto Gaúcho e a classe de Marco Antônio Boiadeiro. Era uma final bastante disputada. O Grêmio chegava à decisão com a campanha de 4 vitórias, 3 empates e 1 derrota. O tricolor gaúcho havia eliminado Sorriso/MT, União Bandeirante/PR, Palmeiras e Flamengo. O Cruzeiro também teve a mesma campanha do Grêmio (4 vitórias, 3 empates e 1 derrota), e passou por Desportiva, Náutico, São Paulo e Vasco. Houve um fato curioso nessa decisão: foram escalados árbitros de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul para apitar a decisão. Márcio Rezende de Freitas foi o responsável pelo apito no primeiro jogo em Porto Alegre, e Renato Marsiglia foi o juiz na segunda partida em Belo Horizonte.

Bola rolando no Olímpico e o endiabrado Dener foi o primeiro a levar perigo contra o gol de Paulo César Borges. Ele driblou dois atletas do Cruzeiro, mas bateu fraco para o gol, facilitando a defesa do goleiro. A chuva tomava conta do jogo. O gramado ficara todo encharcado, prejudicando bastante o toque de bola, que era uma das principais características do Cruzeiro. Mesmo assim, o jogo foi recheado de lances de perigo. O Cruzeiro assustou mais. Como em uma cabeçada de Roberto Gaúcho, depois de cruzamento feito pelo veloz Edenílson. No segundo tempo, Dener disparou pelo lado esquerdo e ao entrar na pequena área, finalizou para fora, perdendo uma chance incrível. Cleison também teve a oportunidade de marcar. Ele dividiu a bola com o goleiro Eduardo, mas ao tentar finalizar, foi prensado pelos zagueiros gremistas. Com todas as chances desperdiçadas, o jogo terminou empatado por zero a zero. O Cruzeiro levava consigo um empate e a vantagem de poder decidir dentro de casa. Esperava o apoio do torcedor para poder levantar o caneco dentro do Mineirão.

Dia 3 de junho de 2010, chegava o dia da grande decisão. Mais de 70 mil torcedores lotaram o Mineirão para empurrar a Raposa rumo ao título. Foi o maior público da competição, que gerou uma renda superior a Cr$ 11 milhões. Só a vitória interessava ao Cruzeiro. Um empate por 0 a 0 levaria a decisão para os pênaltis, e qualquer empate com gols, daria a taça ao Grêmio. E o Cruzeiro saiu na frente no primeiro tempo. Roberto Gaúcho arriscou um chute de longe, a bola saiu fraca e defensável para o goleiro Eduardo. Mas o arqueiro gremista não segurou e acabou levando um baita frango – bola no fundo do gol e o Cruzeiro abre o placar – um a zero. Depois do gol celeste, o Grêmio acordou e foi todo para cima, tentando buscar a igualdade.


E chegou ao empate: depois de um escanteio cobrado por Carlos Miguel, Pingo subiu na pequena área e cabeceou a bola no canto esquerdo do goleiro Paulo César, deixando tudo igual no Mineirão. E assim terminou o primeiro tempo, tudo empatado no estádio e o Grêmio com a vantagem por ter marcado gol fora de casa. Mas no início da segunda etapa – mais precisamente aos 20 segundos – o Cruzeiro novamente desempatou a partida. Escanteio cobrado, Paulo Roberto ergueu na grande área e Cleison subiu para fazer o segundo gol, de cabeça. O Cruzeiro passava à frente novamente, 2 a 1. A equipe mineira só não fez mais gols, por que o árbitro Renato Marsiglia deixou de marcar um pênalti claro, e o goleiro Eduardo fez grandes defesas durante o restante da segunda etapa. E assim permaneceu até o final, quando aos 48 minutos do 2º tempo, o juiz encerrou a partida. Cruzeiro campeão!

Foi o primeiro troféu da Copa do Brasil levantado pelo Cruzeiro. O time conseguiu uma vaga na Taça Libertadores da América de 1994, competição na qual não disputava desde o ano de 1977. Depois desse título de 1993, mais três troféus da Copa do Brasil viriam a parar nas mãos do Cruzeiro (1996, 2000 e 2003). Além disso, era o início de uma década vitoriosa, onde o Cruzeiro deu muitas alegrias aos seus fiéis torcedores e também cresceu bastante no número de adeptos do clube. Um título que ficará na memória de todos, por engrandecer e fortalecer mais ainda a tradição do Cruzeiro Esporte Clube no cenário do futebol.
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