Contra a Imigração dos Estados Unidos e o Austin FC, haitiano Violette consegue classificação histórica na Concachampions

Com informações de O Gol e Trivela
Foto: divulgação Concacaf

Com problemas, mas forte retranca, o Violette conseguiu o resultado necessário para classificar

Mesmo tendo metade do time com visto de entrada negado para os Estados Unidos e ter contratado às pressas quatro jogadores amadores para não tomar WO, o Violette AC, do Haiti, sobreviveu ao forte ataque do Austin FC para garantir sua vaga nas quartas de final da Concacaf Champions League de 2023, após uma vitória por 2 a 0 do time norte-americano na segunda partida das oitavas de final na noite de terça-feira (14), no Q2 Stadium, em Austin, Texas. Os haitianos haviam vencido o jogo de ida por 3 a 0.

Longe do abastado mundo do rival da MLS, o Violette é um time que conta com atletas semi-profissionais. Embora pagos, a dedicação exclusiva ao futebol é uma realidade distante para os jogadores locais. A maior parte divide o tempo com outra profissão, ou com os estudos, quando podem. Mas tradição não falta à equipe.

Apesar de uma história de altos e baixos desde sua fundação em 1918, o Violette foi sete vezes campeão haitiano. Nem mesmo vencer a Liga dos Campeões da Concacaf seria um feito inédito: o clube se sagrou campeão em 1984. O auge, no entanto, ficou no passado e a equipe chegou a figurar na segundona local... Até recentemente.

A classificação para a Liga dos Campeões atual veio depois de título no Campeonato Apertura de 2020/21. A temporada completa não foi realizada por conta dos conhecidos problemas locais com um combo de desgraças: Covid-19, inflação, violentas disputas internas, assassinato do presidente Jovenel Moise e um terremoto que matou mais de 2 mil pessoas e deixou milhares de desabrigados.

Com poucos jogos disputados desde então e longos meses de inatividade, a aposta era que o Violette seria apenas um figurante contra o Austin, com estrutura e orçamento muito superior. O time do Haiti foi ainda obrigado a jogar na República Dominicana. O resultado foi surpreendente: 3 a 0, com o pouco conhecido Michenaider Chery em destaque, autor de dois gols.

Vistos negados - A goleada do Violette tornou toda a epopeia para o jogo de volta ainda mais interessante. Não está claro há quanto tempo o clube se mobilizou para conseguir os vistos, mas o fato é que há pouco que possa ser feito contra a apertada política norte-americana. Para habitantes de um país pobre e com tantos problemas como o Haiti, não é fácil e muito menos garantido entrar nos EUA, mesmo que todos os procedimentos corretos tenham sido adotados.

Quatro dias antes do jogo de volta, a Concacaf teve de se pronunciar para garantir que o jogo iria acontecer. Mas a entidade evita falar publicamente do assunto, delicado, por expôr problemas institucionais difíceis de resolver. Impedir um time que acabou de ganhar de 3 a 0 de participar de um jogo por conta do veto nos vistos não é exatamente algo que contribua para a imagem de uma disputa justa dentro dos princípios do esporte. Ainda mais quando a equipe vencedora tem de lutar já com uma desigualdade de estrutura e orçamento, entre outras intempéries. Mas o regulamento é claro: a culpa do que acontecer é apenas do clube, ou no caso, da vítima.

Haviam precedentes e eles mostravamm que se o Violette falhasse, seria punido, independente da imagem de justiça desportiva. No ano passado, o Calvaly, também do Haiti, teve de abandonar o torneio por conta da dificuldade em conseguir os vistos para encarar o New England Revolution, dos EUA. A diferença é que o clube desistiu antes do jogo de ida, causando a impressão de que não teria de qualquer maneira capacidade para seguir em frente no torneio. Além de uma multa, o Cavaly foi punido com exclusão por dois anos das competições da Concacaf. O Violette tenta evitar o mesmo destino, e apelou para uma estratégia inusitada.

"Mercenários da bola", no bom sentido - Com a certeza de que não terão força completa, e com receio de não terem sequer um time para mandar a campo, o Violette recorreu para o jogo de volta contra o Austin para uma estratégia incomum: buscar reforços dentro dos Estados Unidos.

O apoio veio do FC Motown Celtics, da segunda divisão da USL, liga menos abastada que a MLS. Samuel Pompée é ex-jogador do Violette, e Maudwindo Germain fez parte das seleções de base do Haiti. Ambos foram liberados para jogar pelo clube na Liga dos Campeões. Outros ex-atletas do Motown foram também recrutados, como Dumy Fede. "Mercenários" contratados a princípio para apenas um jogo e tinham uma missão complicada pela frente.

O jogo - A partida foi toda disputada no campo de ataque do Austin. Durante o primeiro tempo, os texanos tiveram 71% de posse de bola, com 18 finalizações. Foi um verdadeiro bombardeio, mas com pouquíssima pontaria. Só cinco tiros acertaram o alvo. E não encontraram o rumo das redes porque o goleiro Paul Decius estava com o corpo fechado. Logo no primeiro minuto, ele realizou uma ótima defesa dupla, inclusive parando Driussi. Continuou sempre muito atento e bem colocado, mesmo sem tantos cacoetes da posição, embora o que impressionasse de verdade era a falta de capricho do Austin. Quando a bola entrou, o tento seria anulado por um toque de mão da jogada.

O Violette teve um pouco mais de escape no primeiro tempo. Foram quatro finalizações e algumas boas jogadas, mas também sem precisão nos arremates. Nenhum deles foi no alvo. Desta vez, o jogo aéreo visando Chéry não funcionou como na ida. E o segundo tempo seria totalmente concentrado na defesa para os alviazuis. A equipe conseguiu dois míseros arremates, e ambos vieram em chutões do meio do campo para aliviar um pouco a pressão nos minutos finais. O Austin conseguiu ser mais sufocante, com 81% de posse e 17 finalizações. Os texanos mexeriam finalmente no placar, mas não o suficiente.


O primeiro gol do Austin saiu cedo, aos seis minutos do segundo tempo. Rigoni cruzou e Driussi pegou bonito de primeira. Até parecia que a porteira se abriria. Com um pouco mais de insistência, os texanos ampliaram aos 18. Foi mais um tento de Driussi, agora num frangaço de Paul Decius, que tinha a bola em suas mãos e a deixou escapar por entre os dedos. O Violette parecia se fundir. No entanto, um dos grandes méritos do time foi se refazer desse baque. As muitas finalizações bloqueadas reconstituíam o moral. E uma longa revisão de pênalti esfriou os oponentes. O Austin teve um penal inicialmente marcado a seu favor aos 26, que poderia forçar a prorrogação, mas que acabou corretamente anulado.

O Austin chegou a ficar 17 minutos sem finalizar depois de seu segundo tento. Assim, a blitz final só se intensificou depois dos 35 do segundo tempo. Foram nada menos que 12 finalizações depois disso. Os defensores do Violette eram heroicos para travar muitas tentativas, enquanto também contavam com a sorte em tiros que passavam perto. Mais importante, Paul Decius não se abalou com o erro crasso e voltou a operar seus milagres. Os haitianos tentavam queimar tempo com cera e, dos três substitutos, dois entraram por lesões nos titulares. Por conta disso e também da revisão do penal, a arbitragem deu dez minutos de acréscimos, que bateram quase 12. Os alviazuis, entretanto, resistiram. E o lance mais emblemático aconteceu no último ataque do Austin. Paul Decius fez uma defesa à queima-roupa contra Driussi e selou a classificação.
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