A fundação do Sport Club Santa Cruz, o "Azulão do Piauitinga"

Por José Augusto dos Santos
Colaboração de José Felix dos Santos, desportista e ex-supervisor do clube
Foto: arquivo

O esquadrão azul: pentacampeão sergipano: 1956, 1957, 1958, 1959 e 1960

A nossa redação procurou o Sr. José Felix dos Santos, ex-supervisor da equipe, memorialista e desportista. Ele conta que em 1930, os funcionários (da engomadeira) da extinta Fábrica Santa Cruz localizada no muncípio de Estância-SE, a 68 km da capital Aracaju, por iniciativa do senhor José Vieira, apelidado de Zeca Vieira procurou com os colegas de trabalho os diretores e fundadores da fábrica, o então empresário João Joaquim de Souza Sobrinho com o sonho de fazer um campo para praticarem o futebol, a resposta foi lacônica: “não”! Mas fizeram uma proposta que autorizaram eles fazerem o campo e forneciam toda ferramenta necessária: enxadecas, pás, picaretas, enxadas, foices, machados e galinhotas, para surpresa dos diretores o pessoal aceitou.

Sonho do Sr. Zeca Vieira floresceu, foram seis anos construindo o campo, o primeiro jogo foi em 1936, a Fábrica Santa Cruz que neste período estava entrando em decadência, indo à falência. Em 1937 foi vendida ao Coronel Gonçalo Prado, que presenteou o seu querido genro, o ex-senador Dr. Júlio Cesar Leite.

Em 1937 o Dr. Júlio convocou o senhor Manoel Soares, encarregado geral da motriz e outras pessoas, para organizarem o time, desta reunião surgiu a data de fundação 1º de maio, data para homenagear os funcionários que em 1930 iniciaram a construção do campo.

Sob o comando de Dr. Júlio foi cercado o campo todo com tela igual ao da quadra de basquete, criou a diretoria e formou o primeiro time de futebol, denominado Sport Clube Santa Cruz. Entre o final da década de trinta e o início da década de quarenta, o Dr. Júlio e Constâncio Vieira, associaram as duas empresas, a Fábrica Santa Cruz e a Fábrica Bomfim era Leite Vieira e Companhia. Os times passaram a ser A.C Bomfim União Têxtil e E.C Santa Cruz União Têxtil havia pacto para não jogarem pra evitar intriga.

Desfeita a associação os times voltaram aos seus nomes Bonfim e Santa Cruz. Entre os anos de 1942 ao ano de 1945, o período intenso da Guerra, o time deu uma parada. Mas houve muitas construções na fábrica, com compras de máquinas, construções de garagens, do refeitório, da creche, as sete casas e o pontilhão para chegar no Posto Vitória vindo pela fábrica. José Felix conta também que devido a guerra mundial foi batizada de Monte Castelo, uma homenagem aos nossos pracinhas pela tomada do Monte Castelo na Itália.

Em 1945, o azulão retorna com o Sr. Manoel Soares e Dantinhas organizando o time. Em 1946 aproximando 1947, o senhor Edgar Barreto é convidado para comandar e criar o basquete no Santa Cruz, ele formou boas equipes, mas foi no futebol que marcou época.

Durante este período dois jogadores chegaram de Maruim, um lateral esquerdo de nome Cecílio e José de Gemí, um grande goleiro e todos os simpatizantes do Santa Cruz, ao final de uns cinco meses o primeiro jogo, com o América, depois foi o Guarani, atual Estanciano. O local foi o campo do Estanciano teve uma lotação nunca vista, resumindo, final do jogo Santa Cruz 4X1, tínhamos um trio de atacante muito bom, Terêncio, Humberto e Naná.

Feito o batismo do Santa Cruz e do treinador, logo começou a chegar jogadores, ABC, João Cego, Aluísio Maria da Cachorra (demorou pouco), Serraria, Zé Dinêz, Vermelho, Rocha, Zé dos Santos, Valdomiro e outros. Os prata da casa: Zezé Oião, o grande Tarati, Everaldo, Zito Aguiar, Pingo de Ouro, Zelito e tantos outros.

Em 1947 Dr. Júlio iniciou a reforma da Vila Operária e iniciado a construção das arquibancadas, todavia aconteceu um imprevisto grande, no dia 30 de novembro do referido ano, aconteceu uma das grandes cheias dos rios Piauitinga e principalmente do Piaui. A chuva começou em um domingo à tarde, o Santa Cruz jogou com o Atlântico de Aracaju (não existe mais), venceu por 6X3, o jogo foi campo do Estanciano, tendo em vista que o campo do Santa Cruz já estava em reforma. Por volta das 10 horas a parede da ponte ao lado da maré caiu, estrondo foi muito forte quem estava na feira ouviu, foi uma procissão de gente em direção a fábrica.

No dia seguinte no horário de sempre todos estavam na fábrica, centenas de operários choraram em vê as ruínas, o memorilista José Felix conta ao chegar em cima da ponte e olhar a destruição e disse: “nosso sonho das arquibancadas vai demorar, Dr. Júlio vai cuidar primeiro da reforma da fábrica, comprar máquinas e construir a parede”. Para surpresa de todos, conta Felix o Dr. Júlio tocou as duas obras, a reforma da fábrica e a construção das arquibancadas.

No dia 1º de maio reinaugurou tudo. Na fábrica aconteceu a visitação pública às 10h horas da manhã e à tarde foi a inauguração das arquibancadas, realizando o sonho de todos os desportistas estancianos com o jogo Santa Cruz x Ypiranga de Salvador, vitória do Ypiranga 4x1.

O Santa Cruz jogou com Nivaldo e Lulu, Aloísio Abreu, Zé Dinez e Cecílio, Brasil, Zelito, depois Terêncio, Humberto e Naná o melhor jogador da partida foi Wilson, depois Manuca. O maior público que a Vila Operária já recebeu, este jogo foi transmitido pela antiga Rádio Difusora na voz de Alfredo Gomes, ex-funcionário do escritório da Fábrica Santa Cruz.

A equipe não era filiada à Federação Sergipana de Futebol, a luta para filiar demorou quatro anos, entretanto, só conquistou a filiação após uma ação judicial impetrada por Dr. Jorge. Em 1955 já filiado o time disputou o primeiro campeonato.


A partir de 1956 até 1960, só deu Santa Cruz, sendo o primeiro campeão profissional em 1960 quando começou o profissionalismo em Sergipe, sagrando-se Pentacampeão. Convém ressaltar que naquela época o campeonato começava em agosto e terminava no ano seguinte, por isso que a final do último título foi realizada em 21 de maio de 1961. O Azulão do Piauitinga disputou o campeonato sergipano somente até 1990, último jogo foi realizado no Estádio Augusto Francão (Francão) em Estância, vitória do Santa Cruz 3x1 contra a Desportiva Confiança.

Passaram pela presidência do Santa Cruz vários desportistas, inicialmente Manuel Soares, Clementes Freitas, Rubens Prado Leite e Washington Vidal Santana. Destacamos também os grandes patronos da equipe Dr.Júlio César Leite, Dr. Jorge Prado Leite e Ivan Santos Leite.
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