O Tango de Dom Lionel (por una cabeza)

Por André Louro
Foto: Fifa.com

Messi vem tendo uma grande Copa do Mundo

Al Pacino, um dos atores mais intensos do cinema americano, em Perfume de Mulher, interpreta Frank Slade, um tenente-coronel americano cego, cuja cegueira é fruto de sua imprudência e de seus arroubos machistas e autoritários. Tal imprudência teria ainda vitimado um jovem amigo companheiro de farda. Slade jamais se perdoaria. Passa a viver num casebre no quintal de sobrinhos, perde o gosto pela vida. Sempre mal humorado, mal educado, vítima de sua angústia, até que resolve reunir suas economias para realizar a última viagem.

Nova Iorque é seu destino. Ele planeja tudo com antecedência, aproveita uma viagem da família que o deixa aos cuidados de um jovem universitário com quem o velho coronel irá reaprender o valor da vida.

Acontece que nessa película, assim ser reportariam los hermanos argentinos, a certa altura, ao realizar um de seus últimos desejos em vida que era de ter uma bela refeição num determinado restaurante, provavelmente daqueles que ostentam estrelas michelin, os companheiros de viagem encontram na mesa ao lado uma bela jovem. Slade decide que o jovem Charlie Simms deve conhecê-la. A aproximação se dá com o coronel adivinhando o perfume da mulher, daí o nome do filme.

O fato é que o velho coronel cego acaba dançando um tango com a jovem, numa das cenas mais apaixonantes da história do cinema. Num dado momento, ela se diz com medo de aceitar o convite para o tango. Slade, então a questiona de quê teria medo e a moça diz que de errar por não saber dançar e então esse, para mim, é a cereja do bolo, é “the crèam de la crèam” da história, quando ele a convence de que ela deve aceitar seus serviços (de professor de dança) porque não há erros no tango, não como na vida. No tango é muito mais simples, se cometer um erro, apenas continue dançando, tudo num discurso sedutor. Por óbvio, a bela jovem desconhecida da mesa ao lado aceita o convite e o casal baila como um verdadeiro par de bailarinos de Rosário ou de Buenos Aires, embalados por una cabeza.

Assim, de forma absolutamente glamourosa, o jovem Lionel vem bailando pelos campos a encantar o mundo desde que iniciou a carreira tendo por companhia e ídolo um tal Ronaldinho Gaúcho, “o Bruxo”.

Acontece que sua tragédia, como no tango, tem muitos acertos traduzidos em gols e assistências, mas também tem erros, alguns dos quais fazem com que seus compatriotas cheguem a flertar com a possibilidade de rejeitá-lo. Alguns até chegam a chamá-lo de estrangeiro, no entanto, La Pulga é insistente e segue a bailar sua arte de empilhar pelotas nas redes.

O melhor dos melhores deste século, vai a cinco Copas do mundo em busca de colocar seu país no topo do mundo. Seu único objetivo é levar para casa a taça, para o povo de Evita, de Maradona e Carlos Gardel, mas não vence, tampouco em 2010, na África do Sul. Em 2014, no Brasil, foi eleito o melhor entre os melhores. Foi à final, mas os alemães cassaram o triunfo argentino “por una cabeza”. Em 2018, na Rússia, quem não permitiu a vitória argentina foram os burocratas e competentes croatas, mas a vingança viria quatro anos mais tarde neste 2022, com a devolução de um placar de 3 a 0 arrasador que credenciam Messi e toda Argentina na final da Copa do Catar.

E agora?

Os guerreiros de la Plata serão embalados pelo tango de Gardel, vencerão “por una cabeza”, vencerão com folga como bateram os croatas na semi-final ou o genial Lionel Messi será mais um deus do futebol a compor a equipe dos “sem copa” como Zico, Platini, Puyskás, Cruyff ou seu próprio conterrâneo Alfredo Di Stéfano?

Quem viver verá.

A quem possa interessar, penso que será uma vitória contra os franceses Mbappè e companhia por 3 a 2, com gol de Dom Lionel no último minuto do segundo tempo da prorrogação, “por una cabeza”.