'Febre de Bola' e a vida de torcedor fanático pelo Arsenal

Com informações do Medium
Foto: divulgação


Não como a versão chinfrim, piegas e norte-americana (que fala sobre baseball, com Jimmy Fallon e Drew Barrymore), o filme Febre de Bola ou Fever Pitch, de 1997, retrata uma parte da vida de um professor chamado Paul Ashworth, interpretado por Colin Firth e fanático pelo Arsenal. Como poucas obras do cinema, o filme fala bastante sobre futebol e é norteado por ele para contar a história de um meio-romance com uma colega de trabalho de Paul, Sarah Hughes (Ruth Gemmell). Diferentemente de qualquer romance, a história de Sarah e Paul quase se perde em meio à paixão pelos Gunners, o que torna o enredo interessantíssimo.

Para começo de conversa, o filme foi baseado no livro homônimo de Nick Hornby, lançado em 1992. A obra de Hornby é autobiográfica, mas isso não impediu que o diretor David Evans adaptasse um pouco essa questão para facilitar a narrativa. Esqueçamos essa parte e falemos do que realmente importa aqui: o filme.

Você já deve ter visto várias tentativas de romancear o amor de um homem por um time, num longa-metragem. Mas quantos desses foram fiéis em datas, personagens, cronologia e respeito aos clubes? Dá até para contar nos dedos. Marvellous é um deles, mas vou falar deste em especial nos próximos dias. Voltemos a Paul Ashworth, um professor de inglês desleixado, fanático pelo seu Arsenal e que vive em 1988. Ao lado de seu fiel amigo Steve (Mark Strong), o protagonista vive a ansiedade de um título inglês dos Gunners na temporada 1988–89, em pleno reinado do Liverpool do lendário Kenny Dalglish, que já ocupava o cargo de jogador-treinador.

O enredo apresenta Paul e Sarah, nova professora do colégio, de uma forma ríspida. Ela é toda recatada, dedicada, rígida e autoritária, ao contrário de Paul, que prefere ser amigo dos seus alunos e não parece impor tanta disciplina em classe. Ele também treina o time juvenil da escola, que disputa competições interescolares. Nesse intervalo, o filme mostra como é que o rapaz virou torcedor do Arsenal, ainda garoto, graças a uma ideia do seu pai, que separado da mãe de seus filhos, tenta encontrar uma atividade para ficar perto das crianças. Uma delas foi ir ao Highbury, antigo estádio dos Gunners.

As constantes viagens no tempo mostram a relutância de Paul em ir ao estádio, visto que ele não gostava de futebol. No entanto, bastaram alguns minutos de arquibancada para que o menino fosse contaminado com o clima e a fantasia que só o esporte pode proporcionar. Deste momento (1968) em diante, ele passou a frequentar o Highbury, comprando o season ticket do clube, quase sempre quando o pai estava em Londres. Mas nem isso impediu que ele virasse um torcedor assíduo com o passar dos anos.

A fila - O Arsenal, então, passou a encarar um certo jejum de títulos. De 1971 em diante, o time não conseguia vencer campeonatos, e mesmo repleto de ídolos como Liam Brady (o preferido de Paul), as glórias passavam longe. Nessa angústia, Paul começa a se envolver com Sarah, que desde o início o considera um bobalhão e panaca que faz qualquer coisa por futebol. Certamente você já deve ter ouvido isso de alguma namorada ou de algum parente que não aprecia esse mundo. Bem, azar o deles.

A vida de Paul então começa a ser um constante conflito de interesses. Mesmo com Sarah aderindo aos poucos ao Arsenal e se interessando pelo clube, o seu parceiro parece não largar a corda da relação com o time para lhe dar atenção. Em várias cenas, chega a ser triste como ele simplesmente ignora os pedidos ou a presença dela para ouvir notícias ou acontecimentos ligados aos Gunners. Aliás, quem nunca deixou a comida esfriar na mesa porque estava entretido com um lance de perigo na TV?

Pois bem, o que diferencia Paul dos demais, talvez até você mesmo que esteja lendo, é o fato dele sempre colocar o Arsenal como principal motor do seu cotidiano. Se o time vai mal, ele fica mal, se o time vai bem, ele fica bem. E claro, estamos falando de um período de jejum da equipe, que de longe, lembra a aflição da torcida arsenalista nos dias de hoje. Paul tem o talento de disseminar o fanatismo pelo Arsenal em seu círculo social. É uma das grandes marcas do longa.


Antes que eu estrague alguma surpresa ou dê algum spoiler, é preciso dizer: esse fanatismo cego pelo clube chega a assustar. Alguém que dedica toda a sua vida a um time, por maior que seja o amor, acaba perdendo pequenas nuances da vida, como viagens, jantares e outros momentos ao lado de alguém. É impossível não torcer para os dois, ao mesmo tempo que há o desejo de repreender Paul pelo seu comportamento juvenil em relação a Sarah.

A parte compreensível do dilema do personagem, é que não é das coisas mais fáceis explicar para alguém que não gosta de futebol, que você prefere ficar em casa nas quartas-feiras à noite ou nos domingos à tarde, para ver qualquer jogo que esteja passando na TV. Bem aventurados os que possuem uma parceira igualmente fanática, tema no qual sou suspeito para opinar. Quem não tem a mesma sorte, precisa ter muito jogo de cintura para não deixar um interesse dominar o outro.

Sabendo disso, assista ao filme e descubra como é que Paul conseguiu encontrar um meio-termo para abraçar os dois amores da sua vida. E veja até onde você iria para manter aquecida a paixão pelas cores que você aprendeu a venerar desde menino.
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