Goleada sobre o Real Madrid expõe o renascimento do Barcelona com Xavi

Por Lucas Paes
Foto: Reuters

O Barça goleou no Bernabéu

Glorioso e forte nos últimos anos, o Barcelona viveu um assustador e lento processo de "morte". O time que dava show, que encantava o mundo com Guardiola, que assustava defesas com o trio MSN, se viu incapaz de bater de frente com equipes fortes e chegou nesta temporada sem perspectiva. Caiu na fase de grupos da Liga dos Campeões, estava fora do G4 da La Liga, parecia destinado a nada. Trocou de treinador, Koeman deu lugar a Xavi e o time foi se acertando, vencendo e renascendo. Neste domingo, dia 20 de março, deu a prova definitiva de seu renascimento, ao golear o Real Madrid por 4 a 0 dentro da casa Merengue.

O processo do fim das glórias do Barcelona foi assustador. Começou ainda na época do trio MSN, quando o time se mostrou incapaz de avançar na Liga dos Campeões após o título de 2014/2015. Teve seus capítulos mais tristes, porém, a partir de 2018. Primeiro, uma eliminação inacreditável para a Roma, depois a virada sofrida contra o Liverpool, culminando no desastroso 8 a 2 do Bayern. Messi, maior jogador da história do clube, saiu e a perspectiva era terrível para os azulgranas.

Depois de um início tão ruim com Koeman, a volta de Xavi ao clube, desta vez como técnico, pareceu uma solução desesperada. Poucos, porém, conseguem entender tão bem o que é o Barça como o histórico meia espanhol. Em pouco tempo, o antes visionário centrocampista mudou completamente o ambiente, potencializou os ótimos jovens do elenco, reforçou com jogadores pontuais os setores e fez com que os Culés jogassem um futebol que voltou a encantar o continente. Na Europa League, esse ponto se mostrou na trauletada sobre o Napoli em pleno San Paolo. Porém, nacionalmente, ainda faltava uma consagração.

É claro que alguém pode contextualizar que no clássico deste domingo, onde estranhamente o Real Madrid jogava de preto em casa e mais bizarramente ainda o Barça veio de amarelo e vermelho, os Merengues vinham sem Benzema, mas isso não tira o mérito da partidaça que fez o Barcelona no território inimigo. Os azulgranas, que não venciam um clássico desde 2019, quebraram a marca em grande estilo. 

Ancelotti errou, escalou muito mal o Real Madrid. O líder do campeonato deu espaços que os ótimos jovens do Barcelona aproveitaram e jogaram como gente grande. O experiente Aubameyang desfilou seu futebol sob o solo do Bernabéu como se fora Messi há alguns anos. Pedri, tão novo, parecia um craque experiente e jantava toda a meia cancha madridista, inoperante. Militão, Alaba e todo o setor defensivo do time da capital espanhola não conseguiam entender o passeio que sofriam dentro de casa. 

Faltava ao Barcelona uma atuação de gala desse estilo contra o maior rival. Quase todos os times históricos recentes azulgranas tiveram em algum momento um desfile humilhante diante do maior rival, muitos deles no Bernabéu. Quase todos eles tiveram em comum atuações magistrais de Messi. Neste domingo, o conjunto de Xavi provou que não só há vida sem o argentino como essa vida pode ser muito feliz para sua torcida. O resultado deixa, ainda que esta seja uma disputa mais difícil, o campeonato espanhol aberto. Dá para sonhar, ainda que a vantagem madridista seja imensa.


O mais importante do El Clássico desde domingo, porém, foi mostrar ao mundo que, ainda que talvez não ao nível do clube da elite que inclui Manchester City, Liverpool, Chelsea e Bayern, o Barcelona está renascendo. Toda a volta tem de ter seu primeiro passo e uma goleada sobre o maior rival dentro da casa dele é um passo enorme rumo a volta do Barça ao lugar que ocupou durante a maior parte deste milênio: o topo.
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