Vendidas como solução, SAFs podem ser também pesadelo

Por Lucas Paes
Foto: José Sena Goulão/Lusa

O Belnenses SAD é um exemplo de uma situação que deu errado

Recentemente, uma lei assinada e sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro permitiu aos clubes de futebol do Brasil se tornarem Sociedades Anônimas de Futebol, o que permite aos times daqui se tornarem empresas e terem donos e não mais serem clubes com presidentes como eram até pouco tempo atrás. O Cruzeiro foi vendido dessa forma para Ronaldo Fenômeno e próximo do natal se anunciou também a venda do Botafogo. Alguns torcedores tratam as SAFs como a solução dos problemas, mas elas também podem virar um pesadelo.

Uma Sociedade Anônima de Futebol é basicamente quando um clube se torna uma empresa, necessitando então de um conselho fiscal e de toda uma transparência e modelo de gestão relativos a empresas. As mudanças são tanto para bem quanto para mal, pois se pode atrair investimento, uma SAF também pode fazer com que um clube literalmente feche as portas, já que elas não estão protegidas de uma falência como clubes tradicionais de futebol, na teoria pelo menos, estão.

No Brasil, já existem diversos clubes que aprovaram o formato. Além de Botafogo e Cruzeiro, que já foram efetivamente vendidos, Athletico Paranaense, Sertãozinho, Botafogo de Ribeirão Preto e Coritiba são já os casos mais conhecidos que aprovaram a mudança, enquanto ela já começa a ser discutida no Vasco, por exemplo. O Athletic Club, de Minas Gerais, também já efetivou a mudança. Uma situação já mais antiga é a da Ferroviária, que virou S/A ainda nos anos 2000, mas funciona num formato misto, já que a Sociedade Anônima administra apenas o futebol.

Exemplos de clubes administrados como empresa ou mesmo com donos existem no mundo inteiro. A Premier League inteira segue um modelo parecido, onde os clubes possuem donos, o que acabou permitindo até que príncipes comprem clubes de futebol, o que ocorre notoriamente com o Manchester City e agora com o Newcastle. Na teoria, a Premier League é exemplo de sucesso do modelo clube-empresa, mas existem problemas, como os casos do Arsenal, onde torcedores reclamam dos donos constantemente e do Manchester United, onde também há uma guerra entre torcida e donos. Num caso mais extremo, por exemplo, o Liverpool chegou a falir com os antigos donos (Hicks e Gillet), porém foi comprado pela NESV, que virou a FSG.

É claro que existem diversos exemplos onde a SAF foi benéfica no mundo, seja no formato SAF propriamente dito, que existe com um nome pouco diferente em Portugal e na Espanha. Por lá, existem exemplos de situações que deram muito certo, como a do Sevilla, que virou um grande na Espanha após virar um clube empresa, o Atlético de Madrid, que cresce dia após dia e hoje tem total condição de equilíbrio com Real e Barça (na verdade tem situação financeira muito mais confortável que a do Barça), Porto, Benfica, entre outros. Mas, existem clubes que se dissolveram, como o Conpostela, por exemplo.

O maior exemplo de problema com uma SAD, porém, ou SAF, entenda como quiser, vem justamente de Portugal e mostra o que pode ocorrer quando a situação dá errado. O Belenenses é um dos clubes mais tradicionais do país, sendo um dos únicos campeões além do trio de gigantes, o outro sendo o Boavista. Depois de problemas que começaram já no início da década de 2010, na temporada 2017/2018 ocorreu a separação oficial, com o Clube de Futebol Os Belenenses ficando no Jamor, com o apoio da maioria da torcida mesmo em uma divisão baixa e o Belenenses SAD ficando com a vaga na Liga Portuguesa, porém sem o apoio da torcida e se tornando um clube odiado no futebol local.


Um situação que não necessariamente deu errado, mas que causa um ódio enorme foi a do MK Dons, de Londres. O clube foi resultado da venda do Wimbledon para outros donos e acabou mudando de localidade e de nome indo para uma área mais nova da cidade. Com o fim do antigo Wimbledon, torcedores pelo país inteiro pegaram um ódio absurdo do MK, algo que prevalece até os dias atuais e provavelmente não mudará em nenhum momento.

É preciso saber separar as coisas, as SAFs podem ser benéficas, principalmente em clubes vilipendiados por dirigentes amadores, mas pode também ser um problema. É ideal caminhar com cautela sobre os clubes que estão assumindo esse formato, pois o capitalismo é dinâmico e impiedoso e ninguém no mundo do dinheiro é "bonzinho". Resta a nós aguardar as cenas dos próximos capítulos e observar o que ocorrerão com as novas SAFs brasileiras.
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