Com informações da CBF
Foto: Naomi Becker / Fifa
Formiga: 26 anos de Seleção Brasileira
Cinco de junho de 1995. Tinha início a segunda Copa do Mundo de Futebol Feminino, na Suécia, e a Seleção Brasileira, formada sete anos antes, estreava logo contra as donas da casa. Entre as jogadoras do time Canarinho tinha uma jovem de 17 anos que dava os primeiros com a camisa amarela. Seu nome? Miraildes Maciel Mota, mas pode chamar de Formiga. Imaginem que mais de 26 anos depois, ela se despediria da mema equipe, com 43.
No início, aos 13 anos, Formiga rechaçou o apelido, inspirado no fato de que ela, incansável, corria o campo inteiro para ajudar sua equipe. Jamais parou de fazê-lo. “No fim, percebi que o apelido caía bem”, reconheceu. E como. A volante esteve com a Seleção em todas as Olimpíadas desde que o futebol feminino começou a ser disputado, em Atlanta 1996. De todas as Copas do Mundo, só não participou da primeira, em 1991.
Na edição seguinte, em 1995, lá estava ela e, quem diria o destino, encarando Pia. A sueca atuou por 90 minutos, mas não conseguiu evitar a revanche brasileira sobre as anfitriãs. Do banco, a jovem promessa de apenas 17 anos vestia a Amarelinha pela primeira vez e comemorou muito o gol de Roseli, que deu a vitória à Canarinho.
O grupo de sua estreia tinha Sissi, Pretinha, Michael Jackson, Márcia Taffarel, Andréia, Tânia Maranhão e outras históricas Guerreiras do Brasil. Enfrentou a Alemanha de Birgit Prinz e Heidi Mohr, as maiores artilheiras da história das vice-campeãs de 1995. Naquele ano, o Brasil parou na fase de grupos e a Noruega ficou com o título. Em 1999, a Seleção chegou à sua primeira semifinal, vencendo as norueguesas na disputa pelo bronze.
Era o prenúncio de um feito inédito de uma geração que, reforçada por jovens promessas como Marta, Cristiane e Rosana, chegaria à sua primeira final olímpica em 2004. O Brasil jogou melhor, teve um pênalti não marcado a seu favor, mas o gol de Abby Wambach na prorrogação deu o ouro aos Estados Unidos.
“Em Atlanta, em 1996, fomos as quartas colocadas, e nós mesmas não imaginávamos que chegaríamos. E a nossa medalha de prata, em 2004, foi a melhor. Foi fantástica a maneira que a gente trabalhou em tão pouco tempo. Infelizmente não veio o ouro, mas eu fiquei muito feliz que conseguimos colocar a Pretinha em uma final”, lembrou.
Em 2007, Formiga ajudou a Seleção a chegar à primeira decisão de Copa do Mundo de sua história, após golear os Estados Unidos por 4 a 0 na semi. A derrota para Alemanha teve revanche nas Olimpíadas do ano seguinte, com nova goleada por 4 a 1. Aquela edição terminou com a segunda prata olímpica da Canarinho, após as Guerreiras do Brasil serem superadas na prorrogação pelos Estados Unidos de Hope Solo, Carli Lloyd e da técnica Pia Sundhage.
A sétima e última participação olímpica de Formiga, em Tóquio 2020, marca um momento de renovação da Seleção Brasileira. Agora, aos 43, era ela quem recebia e passava toda sua experiência às novatas. A caçula daquele elenco, Giovana Queiroz, de apenas 18 anos tem 25 anos a menos que a volante, um a mais que Formiga quando estreou pela Canarinho.
Onipresente em Olimpíadas, Formiga personifica a história da Seleção e do futebol feminino. Os piores momentos, os melhores, as maiores vitórias, as derrotas mais doídas: ela sempre esteve lá. Sentiu todas elas, lutou até o fim a cada batalha. Christine Sinclair, Megan Rapinoe, Alex Morgan, Vivianne Miedema, Lucy Bronze… a brasileira enfrentou praticamente todos os grandes nomes internacionais da modalidade. Ganhou o ouro pan-americano diante de um Maracanã lotado contra os Estados Unidos, em 2007, e outros dois em 2003 e 2015. Conquistou ainda o Sul-Americano de 2010 e a Copa América de 2018.
Duas medalhas de prata e três semifinais olímpicas, um vice-campeonato de Copa do Mundo, recorde de participação em Olimpíadas (sete), o mesmo número de Copas no currículo… Formiga é a atleta, entre homens e mulheres, que mais vezes vestiu a camisa da Seleção Brasileira; a mais velha a participar e marcar gol em Copas; a atleta brasileira que mais participou dos Jogos Olímpicos, junto a Robert Scheidt; a única jogadora de futebol a ter disputado todas as edições das Olimpíadas. Chegou como promessa, tornou-se referência e se despede da Canarinho como um dos maiores nomes da história do futebol e do esporte brasileiro.
Quando o apito final soou em Manaus, não marcou apenas o término de uma partida. Foi o derradeiro capítulo de uma das mais belas histórias de amor que o futebol já escreveu da maneira como nos acostumamos a ver nos últimos 26 anos: Formiga, a lenda, a dona do meio-campo, a incansável Guerreira do Brasil.
O cenário muda, o legado fica, o amor também. É impossível falar da trajetória da Seleção sem falar da carreira de Formiga e vice-versa. Assim como as outras pioneiras da história do futebol feminino brasileiro, sua impressão digital estará em toda conquista da Canarinho. E seu exemplo será sempre a bússola das gerações futuras.
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