A paixão do torcedor de futebol rende dinheiro, mas não pode ser vendida

Por Lucas Paes
Foto: Getty Images

Torcedores do Liverpool protestam frente ao Elland Road

Os bastidores do futebol europeu estão pegando fogo com a criação da Superliga Europeia. Desde as primeiras especulações, até anúncios oficiais, aconteceu um enorme rebuliço e a ideia não pegou bem entre torcedores e, é claro, nem com a UEFA e com a FIFA. Com ameaças de banimentos, suspensões e outros tipos de represálias, fica claro algo muito assustador e muito triste: ricos e poderosos podem mudar o rumo do esporte mais bonito do planeta em uma canetada. Fica também muito claro que, o que esses sujeitos parecem não entender é que a paixão do futebol dá dinheiro sim, mas não está a venda.

Desde o anúncio da criação da Superliga Europeia, a reação de torcedores, principalmente os ingleses, foi absolutamente negativa. As páginas de Inter, Milan, Juventus e do Big Six foram inundadas com comentários contrários a competição e na tarde desta segunda, antes do confronto entre Leeds United e Liverpool, torcedores dos dois clubes se reuniram em frente ao Elland Road e fizeram protestos. O ônibus do Liverpool foi recebido com vaias e xingamentos, uma cena que se tornará comum, provavelmente, considerando, claro, que os Reds sigam jogando a Premier League.

A ação causou muita revolta nos torcedores de Liverpool e Manchester United pois tanto John Henry, da Fenway Sports Group quanto os Glazzers, donos dos Red Devils, tem relações conturbadas com os torcedores. No antigo time de Fergunson, o ódio é exacerbado e deixado claro a todo momento. Nos Reds, atuais campeões ingleses, a relação com a FSG tinha melhorado, mas parece ter retornado a estaca zero. O que falta à muitos destes dirigentes entenderem é que o futebol, em todos os seus aspectos sociais e culturais, é imensamente maior que qualquer esporte dos Estados Unidos.

A nós, apaixonados do futebol, soa como uma enorme decepção tudo o que está sendo feito. Para nós aqui do Brasil não muda muita coisa, mas para os que vivem estes clubes como vivemos o Santos, o Corinthians, a Briosa, é desalentador. Para o torcedor, é como se destruíssem tudo aquilo que faz sentido para ele. Mesmo para os que de longe simpatizam e torcem por um clube estrangeiro, é estranho, dolorido e se ajunta a um sentimento de traição. É como se os clubes perdessem sua alma, essencialmente.


Para resumir o sentimento, um dos clubes envolvidos, o Liverpool, tem em seu lema a belíssima frase "Você nunca caminhará sozinho". Pois depois de tudo isso, o que fica claro é, que para quem comanda esses clubes, vários outros podem e devem caminhar sozinhos. Até os sonhos dos próprios torcedores, já que de nada vale mais ser a "Realeza Européia". Diferente da NBA, o futebol não é só entretenimento, é sentimento e, por mais que esse sentimento gere dinheiro, ele não pode, em nenhuma hipótese, ser vendido.
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