Por Lucas Paes
Foto: Divulgação/CBF
Douglas chegou a atuar pela Seleção Brasileira
O futebol brasileiro, como instituição e como marco cultural tem toda uma tradição enraizada de tempos antigos, menos profissionais e mais lúdicos que os atuais, onde jogadores poderiam ser ao mesmo tempo boêmios numa sexta-feira e craques de um grande no domingo. Onde o jogador que gostava de beber, fumar e sair era visto como um estilo invejado e desejado de vida, além de ser exemplo quando este fazia tudo isso e destruía seus adversários dentro de campo. Recentemente, um dos últimos "românticos" desse futebol anunciou sua aposentadoria dos gramados: o meia Douglas, vulgo o último "camisa 10".
Dono de um bom futebol e de uma visão de jogo privilegiada, Douglas fez sucesso vestindo principalmente as camisas de Grêmio e Corinthians, onde em ambos os casos teve mais de uma passagem e marcou o coração dos torcedores,além de também ter o carinho das torcidas de São Caetano e Criciúma, este último seu clube de origem. O agora ex-jogador fez 38 anos em 2020 e estava sem clube desde o início do mês, quando rescindiu seu contrato com o Brasiliense. Já não era mais os mesmos de outros anos.
Douglas foi capaz de reunir num mesmo pacote os lances épicos que fizeram a euforia das torcidas e um estilo malandro fora de campo, sendo diversas vezes fotografado com cerveja e cigarros em momentos fora do campo, fato que inclusive gerou um carinho maior de muitos torcedores. Chamado de jogador raiz, foi primeiramente no Corinthians peça chave do título da Copa do Brasil de 2009, sendo o maestro da conquista num time que tinha um certo Ronaldo no ataque. No ano seguinte, passou por pouco tempo nos Emirados Árabes antes de voltar ao Brasil e jogar pelo Grêmio.
Curiosamente, em seu retorno a Azenha, recebeu a única convocação de sua vida a Seleção Brasileira. Entrou em campo num jogo contra a Argentina e acabou dando o azar de neste amistoso errar no lance que ocasionou o gol dos albicelestes. Acabou nunca mais convocado, nem por Mano, nem por Dunga, nem por Tite. Ainda assim, era adorado no Brasil, chamado de Maestro Pifador e Último Camisa 10. Este último apelido fazia mesmo sentido, pois Douglas foi um dos últimos de uma posição em extinção: o 10 clássico, que cada vez mais é substituído, de certa forma no sentido bom, por meias mais versáteis que chegam ao ataque ou mesmo por "camisas 10" que jogam onde ficaria o "camisa 9".
Foi na segunda passagem pelo Corinthians que ficou ainda mais no coração da Fiel Torcida, quando fez parte do time campeão da Libertadores e do Mundial de 2012. Ainda teve tempo de retornar ao Grêmio e, mesmo que se destacando menos, vendo a ascensão de nomes como Everton e Luan, fazer parte da equipe campeã da Copa do Brasil e da Libertadores naquele período. Ainda acumulou passagens por Vasco e Avaí na carreira, além é claro do Brasiliense, seu último clube.
Douglas deixará o futebol órfão da romântica espécia do jogador "beberrão" e decisivo. Dono de grande talento, é de se questionar se ele não poderia alçar maiores voos caso cuidasse um pouco mais da carreira, mas como questionar a trajetória de alguém que marcou época vestindo a camisa de dois gigantes do futebol brasileiro e sul-americano? É preciso ponderar que hoje se vê muito o sucesso como jogar na Europa e essa visão não é de toda errada, mas é completamente equivocado considerar que um jogador que conseguiu se tornar ídolo de dois gigantes como Grêmio e Corinthians tenha "fracassado" na carreira.
Ficará agora de Douglas a lembrança nas torcidas onde seu estilo único, saudoso e carismático marcou época. Agora, ao "10Doga" caberá curtir a aposentadoria dos campos fazendo o que mais gosta sem a cobrança de torcedores, dirigentes, companheiros de time e treinadores. Os gramados sentirão falta de seus passes e sua categoria, mas cada atleta sabe seu tempo e seu limite. Resta aos que viram lembrarem agora do último camisa 10, do último "jogador raiz", uma instituição em extinção no futebol, mas que sempre causará as lembranças nostálgicas aos torcedores.
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