Por Alysson Siqueira
Foto: divulgação
Lamartine Babo é o autor dos hinos dos times do Rio de Janeiro
Das histórias de conquistas gloriosas, passando pelos sonhos de futuras vitórias e culminando nas declarações de amor eterno, os hinos dos clubes de futebol brasileiros são um capítulo instigante da música e do esporte no país. Compositores desconhecidos e de renome nacional se dedicaram a estas criações. O autor do hino atual do Grêmio Foot Ball Porto Alegrense é ninguém menos que Lupicínio Rodrigues. Lamartine Babo é autor dos hinos de Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo, ou seja, dos quatro clubes de maior apelo popular do Rio de Janeiro. Até mesmo o português Roberto Leal entrou para essa história assinando o hino da Portuguesa de Desportos.
“Vamos todos cantar de coração”, “Até a pé nós iremos”, “Sou tricolor de coração”, “Salve o Corinthians, o campeão dos campeões”, “Salve o Tricolor Paulista”, “Agora quem dá bola é o Santos”, “Uma vez Flamengo, sempre Flamengo”, são frases que foram se tornando célebres a cada conquista acumulada pelos clubes. Mas o que pouca gente sabe, é que muitos desses hinos só surgiram depois de anos de história do clube.
Os hinos dos clubes cariocas, por exemplo, foram compostos por Lamartine Babo na década de 1940 como marchinhas em homenagem a cada um deles. O sucesso foi tão grande, que logo substituíram os hinos originais. Histórias parecidas têm os hinos do Grêmio, do Santos, do São Paulo e tantos outros que, após um fato marcante de suas histórias, ganharam uma composição festiva que, em questão de algum tempo, foi adotada como hino.
Independentemente dos textos dos hinos, essas composições musicais também expressam valores culturais da região e do tempo em que foram criadas. As marchinhas de Lamartine Babo carregam a estética das marchas carnavalescas da época em que foram criadas, agregando a síncope rítmica do samba com a marcação da marcha militar de origem europeia. Já dentre os hinos dos clubes do sul do país há uma certa predominância da marcha militar. É assim com as músicas de Grêmio, Atlhetico Paranaense e do Internacional de Porto Alegre, esta última já com algumas características de marcha carnavalesca. Em São Paulo, observamos uma mistura de influências. Os hinos do São Paulo e do Palmeiras têm estilo europeu, enquanto os do Corinthians e do Santos são típicas marchas-rancho. Os clubes da região Nordeste também utilizam ritmos brasileiros, como o hino do Sport de Recife que é um frevo. Enfim, são tantas as características regionais dos hinos dos clubes de futebol, que o tema suscita um estudo mais completo.
Mas para além do retrato da cultura local, os estilos musicais escolhidos para representar os clubes em seus hinos, parecem estar afinados com o estilo de jogo de cada time. Embora o futebol, de maneira geral, esteja trilhando um caminho em que a força física tem predominado sobre o que costumamos chamar de futebol arte, o estilo de jogo aguerrido característico dos clubes do Sul parece ser movido pelas marchas militares, enquanto o estilo mais leve e alegre dos times cariocas poderia muito bem ser jogado ao som de marchinhas de carnaval. Certamente teremos uma discussão interdisciplinar neste ponto, mas antes disso deixo a proposição de que cada clube marcha e joga conforme a sua própria música, mas no final de cada campeonato só vai tocar um hino: o do campeão.
Autor: Alysson Siqueira é mestre em Música e professor da Área de Linguagens Corporal e Cultural do Centro Universitário Internacional Uninter
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