Por Lucas Paes
Foto: GazetaPress
A torcida é o maior patrimônio da Ponte Preta
120 anos é uma marca que poucos clubes no mundo possuem. Com exceção da Inglaterra, onde a maioria dos times surgiu antes até de 1900, pouquíssimas instituições no futebol podem se orgulhar de estarem vivas há tanto tempo quanto a Ponte Preta. A Veterana, a Macaca de Campinas chega a essa idade neste dia 11 de agosto com a honra de ser uma das maiores forças do interior no Brasil e consegue se sustentar num patamar tradicional mesmo com quase nenhuma conquista relevante. Poucas equipes de uma cidade interiorana consegue se orgulhar de chegar tão bem aos 120 anos.
Não só de títulos é feita a tradição de uma equipe e a Ponte Preta é grande atestadora deste fato. A Macaca tem como conquistas mais relevantes títulos do interior e uma conquista da Série A2 do Paulistão, batendo na trave em decisões que variaram desde estaduais até uma Copa Sul-Americana. Nada disso, porém, desmonta a tradição de um dos mais tradicionais clubes do interior do Brasil. A Veterana permaneceu anos na Série A do Brasileirão, já fez várias ótimas campanhas, revelou jogadores históricos e hoje segue se mantendo na Série B, com promessa viva de briga pelo acesso. A história pontepretana tem confrontos contra diversos titãs do futebol brasileiro com momentos onde o time de Campinas se fez crescer em cima de grandes nomes do futebol. Nenhum troféu, conquistado ou não, apaga isso.
Tradição essa que também vem do clássico com seu arquirrival. Guarani e Ponte protagonizam um dos clássicos de maior rivalidade do planeta, numa cidade que, apesar de interiorana, é maior que muitas capitais e que tem também uma enorme região metropolitana. Os dois gigantes campineiros dividem a briga pela "maior torcida do interior", mas juntos protagonizam um derby acirradíssimo. Uma rivalidade que tem tudo que os clássicos precisam ter, seja com história épicas dentro de campo, decisões e, infelizmente, é claro, confrontos de torcida, quase inevitáveis num duelo que para uma cidade grande. O Derby Campineiro é quase um aspecto cultural do estado de São Paulo e talvez seja, no que se refere pelo menos a enorme rivalidade, o clássico mais tenso do estado.
É importante que se fale que este clássico e toda esta tradição se apoiam num dos maiores pilares da instituição que completa 120 anos neste dia de hoje: a sua grande e fanática torcida. Autodenominada como a "maior do interior", a massa da Macaca já deu diversas provas de amor por seu clube. Seja em Campinas, no Interior de São Paulo ou mesmo pelo Brasil à fora. Recentemente, até para fora das fronteiras do país, na incrível campanha da Copa Sul-Americana de 2013. De quem escreve este artigo vem também um testemunho, do dia em que assisti a Vila Belmiro virar um puxadinho do Moisés Lucarelli em 2008. A história, que tão merecidamente deve ser exaltada num aniversário, é, acima de qualquer coisa, a maior prova do que está escrito aqui, pois o próprio Majestoso, aliás, Moisés Lucarelli, foi erguido graças aos esforços de vários torcedores da Ponte. O nome "Amor Maior" não está ali a toa.
A história, de fato, não mente e não pode ser apagada. A história que passa pelos meninos que fundaram a equipe e que jogavam com bolas de meia e traves de bambu, passa por um senhor benfeitor que ajudou o clube nos primórdios, passeia por Miguel do Carmo, que, por mais bonita que seja toda a história das camisas negras, é provavelmente o primeiro negro do futebol brasileiro, mesmo com pouco reconhecimento por poucas evidências. Independente disso, caminha lado a lado com os operários do bairro onde a Macaca nasceu e que ela acolheu. Encontra então Dicá, Waldir Peres, Oscar, Washington, Luis Fabiano, Gigena, Willian Pottker, Roger e tantos outros que honraram a camisa alvinegra. E ai chega em Dona Conceição, torcedora simbolo da sua massa, que neste momento está provavelmente comemorando esse aniversário em outro plano abraçada ao eterno Luciano do Valle, outro pontepretano convicto. Ser campeã ou não nunca mudará essas linhas imortais.
Curioso, sinceramente, escrever um artigo tão sincero sobre um clube que não é o meu. É preciso, porém, dizer algo pessoal aqui: sou, orgulhosamente, campineiro, tenho uma afeição enorme pela cidade do qual nasci e a Ponte Preta é parte essencial da história de Campinas. Por mais que não seja um clube que torça, tenho uma simpatia enorme pela Macaca, dos quais amigos dos meus pais que considero como minha família torcem. Essas sinceras palavras são para meu "Tio" Tito, minha Tia Rosana e meus primos do coração Tamires, Beatriz e Ícaro, mas são também para tantos outros que não conheço e ajudam a manter acesa a chama de um dos mais tradicionais clubes do nosso futebol. Esses 120 anos só estão sendo comemorado muito graças a vocês, então não deixem essa herança morrer.
Versa assim, Nega Véia, um trecho do teu hino e é com ele, num curtíssimo parágrafo, que quero encerrar esse artigo: "És amada Ponte Preta, orgulho de nossa terra". 120 anos são pra poucos e só existe uma Ponte Preta, "sempre, sempre, na derrota, ou na vitória.".
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