O voo da muamba - Volta do Brasil em 1994 teve bagagem de 15 toneladas

Por Lucas Paes
Foto: Arquivo

Avião que transportou os tetracampeões em 1994

Comprar coisas fora do Brasil é praticamente um hábito para os que podem fazer viagens para o exterior. Desde sempre, uma das criticas feitas ao governo brasileiro é em cima da imensa carga tributária sobre diversos produtos importados, fazendo com que seja muito mais barato, muitas vezes, compra-los fora do país. Em 1994, a Seleção Brasileira tetracampeã mundial levou essa ideia à um outro nível na volta dos Estados Unidos.

A história foi revelada na época por uma série de reportagens da Folha de São Paulo. Na ida para os EUA o peso total de bagagens do avião brasuca era de cerca de três toneladas, na volta eram mais de 15. Ao chegar no Rio de Janeiro para um desfile em carro aberto, era procedimento padrão que os jogadores brasileiros passassem pela inspeção da Receita Federal. Porém, provavelmente já sabendo do volume de "bugigangas" contido no avião, Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) na época, esbravejou e invocou todos os argumentos possíveis para evitar a cobrança, chegando a ligar inclusive para Brasília para evitar a averiguação da receita. Funcionou e os jogadores foram liberados sem passar pela fiscalização.

Em 1994 o mundial foi disputado nos Estados Unidos. O Tio Sam sempre foi basicamente conhecido pelos bons preços em produtos de tecnologia, portanto não surpreendeu que a área da informática e de eletrônicos tivesse diversos itens nessa "muamba", mas não apenas isso, já que os jogadores trouxeram diversos outros itens, como listado em uma reportagem da Folha. O caso mais absurdo foi o do lateral Branco, que trouxe na mala uma cozinha avaliada em 18 mil dólares. O ocorrido gerou uma investigação da Procuradoria Geral da República, logo após a reportagem denúncia.


As repercussões foram várias. A imagem da CBF ficou completamente "rachada" com o público, assim como a de Ricardo Teixeira. Ainda recaiu sob o presidente da CBF uma acusação de trazer itens para o bar que era proprietário na época no Rio de Janeiro. Devido ao caso, aconteceu também o pedido de demissão de Osíris Lopes Filho, secretário da Receita Federal na época. Na investigação subsequente, que gerou inclusive uma CPI, Teixeira acusou Lopes Filho de querer "aparecer em cima da seleção", já que, segundo ele, "apenas alguns passageiros de cada voo eram parados na malha-fina da Receita Federal". 

No fim das contas, após anos de investigações e processos judiciais, a CBF teve de pagar mais de 46 mil reais de ICMS totais da conta de toda a bagagem na época, assumindo o prejuízo por todos os jogadores, diretores e comissão técnica. O escândalo não foi capaz de travar a reeleição de Ricardo Teixeira, que presidiu a entidade máxima do futebol brasileiro até 2012, quando investigações sobre corrupção no futebol finalmente minaram o apoio do dirigente, que se viu obrigado a renunciar ao cargo.
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