Por Lucas Paes
Foto: Arquivo
Em 1969, o futebol gerou um conflito entre Honduras e El Salvador
O futebol é um esporte que muitas vezes salva. O jogo bonito já parou guerras, já gerou trégua de natal no maior conflito da história da humanidade e sempre será um fio de esperança para uma criança em situação ruim, às vezes salvando vidas de famílias e comunidades inteiras. Mas, o esporte também pode ser cruel, seja nas brigas entre torcedores, nas tristes histórias de corrupção ou mesmo gerando guerras. Em 14 de julho de 1969, alguns dias após jogos entre Honduras e El Salvador, se iniciou um conflito entre os países conhecido como a "Guerra do Futebol".
Obviamente, as motivações da guerra não foram necessariamente os resultados dos duelos entre as duas seleções, eles foram apenas um pequeno catalisador. Os dois países viviam tensões econômicas e sociais já há algum tempo. No início da década de 1960, a população salvadorenha aumentou vertiginosamente, deixando o país sem muitas terras para trabalhadores camponeses. As manifestações dessa parcela da população eram frequentemente reprimidas com violência, o que gerou uma fuga em massa de camponeses para Honduras. O que foi bem visto por empresários dos EUA, donos de terras para produção de banana. A população de ambos os lados não tinha grande rivalidade, com ambos os lados próximos em costumes e na língua. Porém, as relações diplomáticas eram péssimas.
Tudo começa a piorar quando Honduras tem um golpe militar em meio à uma crise politica e econômica. Primeiro, em 1962, os hondurenhos aprovam uma lei que só permite a nativos possuirem terras produtivas. Quando o Coronal Osvaldo Arellano assumiu o poder, em um golpe de estado no ano de 1963, aumentam a crise econômica e a corrupção e o governo usa os salvadorenhos como bode expiatório, passando a assassinar e perseguir tal população através de braços armados, aumentando a temperatura na panela de pressão que se formava.
As tensões eclodiram em três partidas sequenciais que definiriam um classificado para a final das eliminatórias da CONCACAF para a Copa do Mundo de 1970. No dia 8 de junho, em Tegucigalpa, vitória hondurenha por 1 a 0. A torcida local não deixou os jogadores visitantes dormirem, se reunindo em frente ao hotel e jogando rojões, pedras, além de muita cantoria, rojões entre outras coisas. O cansaço da Seleção de El Salvador foi nítido e o gol veio só no finalzinho. No outro lado da fronteira, vendo o jogo pela TV e decepcionada, a estudante Amelia Bolaños, de apenas 18 anos, se matou com o revólver de seu pai.
Um dos jogos entre as duas equipes
Na segunda partida, no dia 15, em San Salvador, vitória dos salvadorenhos por 3 a 0. Nesse dia, houve um ódio absurdo aos visitantes, sejam torcedores ou jogadores, com inclusive um ataque ao hotel onde estava a delegação salvadorenha de forma muito mais violenta. Carros de torcedores visitantes foram queimados e um torcedor morto. A tensão era imensa e a torcida além de toda a vaia em cima dos salvadorenhos, fez questão de derrubar a bandeira do país, num jogo que tinha um clima de ódio muito maior que qualquer clássico do futebol
Na partida decisiva e ponto de ebulição do conflito, em 27 de junho, na Cidade do México, outra vitória para El Salvador, por 3 a 2, que definiu a classificação salvadorenha. Nesse dia, a futura sede do mundial fez um enorme esquema de segurança para evitar problemas nesse jogo, que acabou sendo mais pacífico, apesar da emoção do gol decisivo na prorrogação. Porém, os problemas na fronteira entre El Salvador e Honduras já eram não solucionáveis.
Então chegamos ao pós duelos pela classificação ao mundial de 1970. Em 14 de julho, menos de um mês depois do duelo decisivo na capital mexicana, com o rompimento de relações diplomáticas, a guerra acaba declarada. Um resultado claro dos problemas quase diários ocorrido na fronteira entre os dois países. O conflito envolve civis e militares e consegue ser extremamente curto, porém extremamente sangrento. Em quatro dias, tempo necessário para a Organização dos Estados Americanos negociar um cessar-fogo, foram 6 mil mortes, entre civis e militares, outros milhares de feridos e um prejuízo inimaginável em questão socioeconômica. Serviu de consolo para El Salvador a classificação para a Copa do Mundo, diante do Haiti.
Então chegamos ao pós duelos pela classificação ao mundial de 1970. Em 14 de julho, menos de um mês depois do duelo decisivo na capital mexicana, com o rompimento de relações diplomáticas, a guerra acaba declarada. Um resultado claro dos problemas quase diários ocorrido na fronteira entre os dois países. O conflito envolve civis e militares e consegue ser extremamente curto, porém extremamente sangrento. Em quatro dias, tempo necessário para a Organização dos Estados Americanos negociar um cessar-fogo, foram 6 mil mortes, entre civis e militares, outros milhares de feridos e um prejuízo inimaginável em questão socioeconômica. Serviu de consolo para El Salvador a classificação para a Copa do Mundo, diante do Haiti.
Apesar do cessar-fogo quatro dia depois, um tratado de paz entre os dois países só foi assinado em 1980. Os resultados econômicos e sociais do conflito demoraram anos a serem melhorados e os resultados dessa guerra ainda podem ser vistos em ambos os lados. Fica na história o registro de uma vez onde o futebol foi catalisador de um conflito. Em 2019, 50 anos depois da guerra, o confronto entre El Salvador e Honduras na Copa Ouro foi até tranquilo. A surpreendente goleada hondurenha eliminou os rivais da competição, mas nas arquibancadas os torcedores conviviam em paz. Já as relações políticas entre os países seguem estremecidas, ainda que sequer serem próximas das que geraram um dia uma guerra.
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