Foto: Arquivo Histórico Millonarios
Di Stéfano com a camisa do Millos: defendeu a equipe entre 1949 e 1953
O 4 de julho é uma data especial para o mundo do futebol, já que nesta data, no ano de 1926, nascia em Buenos Aires, na Argentina, Alfredo Stéfano Di Stéfano Laulhé, um dos maiores jogadores da história do futebol. Ídolo no River Plate e também no Real Madrid, o argentino também defendeu o Huracán, de sua terra natal, e o Espanyol, de Barcelona, onde encerrou a carreira. Porém, vamos falar da passagem dele pela Colômbia, onde defendeu o Millonarios de Bogotá.
Di Stéfano chegou ao clube de Bogotá em 1949, depois de atuar quatro anos pelo River Plate, com uma passagem rápida pelo Huracán, por empréstimo, juntamente com o ídolo Pedernera e seu ex-colega de River Néstor Rossi. A liga colombiana havia se transformado em um verdeiro Eldorado, atraindo os jogadores do continente que, embora fossem atletas profissionais, não costumavam ser bem pagos em seus países. O dono do Millonarios, Alfredo Senior, havia resolvido lucrar com o esporte, aliciando os melhores atletas sul-americanos para jogar em sua equipe a fim de atrair grandes públicos, o que naturalmente repercutiu negativamente no exterior. Além disso, o clube era intimamente ligado ao poder local, sendo atraente para quem tivesse pretensões políticas.
Os demais clubes colombianos em geral tomaram medidas similares: os peruanos se concentraram nas equipes de Cali e Medellín, os paraguaios em Cúcuta, alguns brasileiros, como Heleno de Freitas e Tim, em Barranquilla. Mesmo jogadores britânicos (um deles, Charlie Mitten, deixou o Manchester United para jogar no Independiente Santa Fe), iugoslavos, italianos e húngaros foram atraídos. Os dirigentes locais queriam implantar o profissionalismo no futebol do país, enquanto a federação prezava pelo amadorismo; além disso, o futebol colombiano ainda vivia apenas de competições regionais. Muitos clubes se desfiliaram então de federação para organizar um campeonato nacional, que acabaria banido pela FIFA por desrespeitar regulamentos da entidade no que dizia respeito a diretrizes de transferência e limite de estrangeiros, embora ironicamente modelos similares se tornassem comuns na Europa meio século depois.
Por outro lado, o banimento abriu uma brecha para que os clubes colombianos não precisassem pagar multas rescisórias às equipes estrangeiras onde buscavam jogadores (pois a liga pirata encontrava-se fora da jurisdição da FIFA), o que naturalmente também irritou as outras federações sul-americanas. Para Senior, bastava oferecer um salário melhor e uma passagem apenas de ida para a Colômbia. O próprio governo colombiano, que vivia momento político conturbado, viu no futebol uma boa forma para tirar tal foco da sociedade, além de passar uma imagem positiva local e externamente.
Na liga pirata, Di Stéfano logo foi campeão do campeonato colombiano, que conquistaria ainda em 1951 e 1953, integrando o chamado Ballet Azul. Na Colômbia, onde a liga vinha sendo um grande sucesso de público, ele aprimorava-se como jogador, passando também a defender e passar a bola com maestria. Além de Pedernera e Rossi, Di Stéfano jogou ainda ao lado de Julio Cozzi (que relatou que certos espectadores do Millonarios esperavam por uma partida vespertina desde a noite da véspera), Antonio Báez, Reinaldo Mourín e Hugo Reyes, também argentinos expatriados, assim como o técnico Carlos Aldabe. O time contava ainda com dois uruguaios de destaque: Schubert Gambetta, campeão da Copa do Mundo de 1950, e Héctor Scarone, também campeão mundial, mas da Copa de 1930, que foi outro treinador do elenco.
Aborrecidas com a contínua investida da liga colombiana sobre os jogadores do continente e sem nada receber pelas saídas deles, as federações vizinhas fizeram um acordo em 1951: permitiriam que tal situação perdurasse por mais dois anos, quando então os jogadores estrangeiros deveriam ser todos devolvidos a seus clubes de origem. O Millonarios decidiu aproveitar o tempo que tinha e lucrar o máximo com amistosos ao redor do mundo. Em um deles, em 1952, a equipe foi chamada para jogar uma partida contra o Real Madrid, que celebrava o aniversário de cinquenta anos deste clube. Em pleno Chamartín, Di Stéfano marcou duas vezes na vitória por 4 a 2 dos sul-americanos. O craque argentino iria defender justamente o rival do Millos neste jogo, o Real Madrid.
O argentino deixou o Millonarios em 1953 como o maior artilheiro da história do time, totalizando 267 gols em 292 partidas. Além de títulos e artilharias na Colômbia, venceu com o clube também a Pequena Taça do Mundo de 1953, chegando a marcar dois gols em um 5 a 1 sobre sua ex-equipe do River na competição. Com Di Stéfano, o clube também abriu larga vantagem em títulos colombianos cujos efeitos ainda perduram, sendo a equipe mais vencedora do campeonato nacional mesmo não o conquistando desde 1988. Apenas em 2008 foi igualado pelo América de Cali. Vale lembrar que ele chegou a defender a Seleção Colombiana em quatro oportunidades.
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