Foto: Divulgação/Liverpool FC
Henderson e Salah foram dois personagens marcantes da conquista
Foram 30 anos de espera, uma geração inteira, um tempo muito grande sim para um clube do tamanho do Liverpool. Passaram Owen, Gerrard, McManaman, Kuyt, Riise, Hyppia, Carragher, tantos ídolos, tantos que falharam, seja por um escorregão, por uma bola em cima da linha, por um gol do adversário direto nos acréscimos, seja por uma bola tirada a milímetros do gol. Nada disso importa mais do que ocorreu tem mais nenhuma importância, porque uma espera de 30 anos acabou nesta quinta-feira. Que se registre o dia 25 de junho de 2020: o Liverpool é campeão inglês de novo.
Poderia se escrever muita coisa sobre o time, sobre a campanha, sobre cada um desses jogadores que foi protagonista dessa conquista histórica. Poderia se escrever sobre Salah, o faraó da era moderna que já é ídolo da torcida, sobre Mané, o senegalês que tem tanto carisma quanto qualidade, sobre Alisson, que chegou para mudar o patamar do clube, sobre Van Djik, o melhor zagueiro do mundo, talvez o melhor jogador do planeta em 2019, acima de tudo sobre Klopp, o novo Bill Shankly, o homem que ressuscitou o gigante. Nada disso importa tanto hoje quanto a história de cada um que ama o Liverpool, independente de se em Merseyside ou se na Ásia, se em Londres ou se em São Paulo, se em Paris, Madrid, Istambul ou se em Santos, como esse que vos escreve. Essa história é acima de tudo de todos nós, que nunca deixamos esse clube caminhar sozinho.
Foram tantas batidas na trave, detalhadas em um artigo que eu mesmo escrevi aqui no site, foram tantos dias tristes, tantas "escorregadas". Na temporada de 2019/2020, nitidamente o elenco como um todo entrou disposto a não deixar nem sobra para o Manchester City de Guardiola. A ideia era simples: vencer todos os jogos possíveis. E assim foi se moldando a campanha, com gols no acréscimo no Sealhurst Park em um jogo perdido contra o Crystal Palace, com um gol de empate no apagar das luzes no clássico contra o United, com Fabinho acertando um chutaço diante do City e abrindo o caminho para a vitória, com Arnold simplesmente destroçando sonhos em Leicester. No fim das contas, com o título, de maneira quase anti-climática, vindo numa vitória do Chelsea sobre os Citizens, depois de uma pandemia assolar o planeta e parar o futebol por meses.
A conquista dos Reds era óbvia desde dezembro. Era óbvia desde que o time ultrapassou todos os limites da lógica e começou a abrir vantagem absurda sobre os comandados de Guardiola, era óbvia porque por muito tempo a discussão foi se sobre a conquista seria invicta ou não e não se ela viria, porque esses jogadores fizeram o possível e o impossível para levar esse troféu tão esperado de volta a Merseyside, por muitos motivos, mas não havia um torcedor vermelho que não tivesse o "pé atrás", o medo quase irracional de tudo ir pro espaço em uma bola perdida, em um gol não feito. A confirmação só faz com que saia o grito entalado de vez. Não importa o coronavírus, não importa a paralisação, não importam os portões fechados, importa que o jejum acabou.
Neste momento, este que vos escreve, emotivo como é, pensa nas histórias. Nas histórias daquele pai que levou um jovem filho ao Anfield em 1990 e esperou 30 anos para poder ver essa conquista novamente, daquele filho que não tem mais o pai para brindar o título, nas histórias daquelas famílias que perderam torcedores dos Reds para a COVID-19, como o grupo de torcedores do Liverpool no Brasil que surgiu no MSN e que infelizmente tem um dos seus, que está vendo esse título de outro plano, como a do amigo que tatuou You'll Never Walk Alone em homenagem ao falecido amigo, nas histórias de espera, de festa, acima de tudo na lenda daqueles que não estão mais aqui para comemorar com os seus, que se foram esperando por essa conquista. Nas 96 almas que estarão pra sempre cravadas nessa camisa vermelha, nas 96 vidas perdidas para um desastre que não vão ver esse momento, das 96 familias que comemoram com um gosto de lágrimas. É, acima de tudo, por vocês, por nós, por quem torce.
O amor não tem fronteiras e não escolhe distâncias. O futebol é feito de amor, por um clube, por uma cor, por uma camisa, não importa se em Merseyside ou se na Tailândia, não importa. Não importa mais o "torcer para um time europeu", não interessam mais as distâncias, o sentimento em cada um que torce para um clube é o mesmo num momento histórico, de alguma forma todos os torecdores são iguais nesse momento. A festa hoje, seja na terra dos Beatles, seja no Corcovado, seja em Bangkok, seja em Pequim, seja onde for, é pelo mesmo título, pela mesma taça, pelo mesmo fim de espera, pela mesma lembrança. Fã, torcedor, simpatizante, seja o que for,, festeje, grite, solte fogos: a Premier League, pela primeira vez, o campeonato inglês, pela 19ª vez, é do time que, mesmo em meio a uma pandemia, em meio a um jejum, me meio aos tempos ruins que pareciam eternos, em meio a dominância do arquirrival por tantos anos, em meio a tudo, nunca caminhará sozinho.
0 comentários:
Postar um comentário