Foto: arquivo pessoal
Edson Callegares, com seu irmão Guido Bortolomasi, ao lado, em transmissão de jogo do Santos
Se você escutou jogo de futebol em rádio na Baixada Santista nas últimas três décadas, com certeza já escutou o seguinte bordão: "Sabe de quem... É do Peixeeeee!". O dono desta, que foi copiada, e outras frases que marcaram época no rádio do litoral paulista é do narrador Edson Callegares, que com sua voz comandou, por vários anos, a Equipe Show de Bola, que teve o seu auge na Rádio Cultura.
Edson Callegares também teve experiências em outras emissoras e equipes. Atualmente ele está na televisão, comandando o programa Baixada Esporte, na Santa Cecília TV, além de narrar alguns jogos da emissora santista. O Curioso do Futebol bateu um papo com o narrador, que contou histórias do rádio santista, 'causos' nas transmissões, o atual momento da radiodifusão e também a questão de terem copiado o seu bordão e usá-lo em rede nacional. Confira abaixo:
O Curioso do Futebol - Como foi o seu início no rádio? Teve alguma inspiração?
Edson Callegres - Entrei no Rádio em 1978, quando estava fazendo o primeiro ano de Jornalismo na FACOS (Unisantos). Fui trabalhar como Rádio Escuta do Odair Farias, na Rádio Cacique de Santos. A inspiração vinha desde a infância, pois acho que nasci já sabendo que seria radialista. Era o meu sonho.
O Curioso do Futebol - Como foi a montagem da equipe Show de Bola?
Edson Callegares - Na Rádio Cacique fiz de tudo. Rádio Escuta, Plantão esportivo, Repórter e narrador esportivo. No final de 1983, fui contratado pelo Grupo A Tribuna para ser o narrador da Rádio Atlântica - Equipe Esportiva 590. Foi montada uma grande equipe e na época desmembramos a Rádio A Tribuna, que tinha uma programação musical seleta, e fizemos também transmissões esportivas com os jogos da Portuguesa Santista. Ou seja, enquanto eu transmitia o jogo do Santos pela Rádio Atlântica, o companheiro Douglas Porto transmitia o jogo da Portuguesa Santista pela Tribuna AM. Somente nós tínhamos essa possibilidade. A concorrente Rádio Cultura só podia fazer posto. Ou seja, ganhávamos a audiência do torcedor da Briosa. Era o que fazia na época as Rádio Globo e atual CBN. Em meados de 1985, inspirado em Luciano do Valle, deixamos de ser funcionários para ser arrendatários de Rádio. Fomos para a Cacique novamente com essa proposta de trabalho e lá montamos a equipe Show de Bola.
O Curioso do Futebol - Você tem diversos familiares que te seguiram no cronismo esportivo. Você vê que os influenciou?
Edson Callegares - De certa forma sim. Levei meu irmão Guido Bortolomasi para ser meu Rádio Escuta, depois ele levou o Alessandro Bortolomasi, e na sequência o Cléber Léo, meus sobrinhos. Hoje o Alessandro é comentarista no nosso programa Baixada Esporte da Santa Cecília TV ao lado do Guido Bortolomasi e o Cléber é editor da Revista Golaço.
O Curioso do Futebol - Quando você começou, o rádio na Baixada Santista era muito forte. Como era disputar a audiência contra equipes qualificadas?
Edson Callegares - Na década de 80, tínhamos cinco emissoras de Rádio fazendo futebol. Rádio Cacique, Rádio Guarujá, Rádio Atlântica, Rádio Clube de Santos e Rádio Cultura. Numa determinada época, a audiência era disputada pela Rádio Atlântica, Rádio Cultura e Rádio Cacique. Em 1984, houve uma eleição para escolher os melhores do Rádio na Baixada Santista. A disputa como narrador ficou entre Edson Callegares e Luiz Roberto de Múcio. A festa foi no Teatro Municipal de Santos, completamente lotado. O vencedor do prêmio Ernâni Franco de Rádio foi Edson Callegares. Tenho esse prêmio guardado ate hoje com muito carinho. Nos anos 90, fui para a Rádio Cultura, a convite do Beto Mansur. Montamos uma equipe maravilhosa, que foi referência no Rádio Esportivo da Baixada e também para a grande mídia de São Paulo, que desciam a serra nos ouvindo, pois tínhamos um trabalho jornalistico fantástico com repórteres na concentração do Santos FC, repórter no hotel do time adversário, viatura de frequência modulada percorrendo os arredores da Vila Belmiro, prestando serviço e outra viatura na serra, no Rancho Pamonha, local em que as torcidas rivais se encontrando, e quase sempre com brigas e muita confusão. E tudo registrado ao vivo por nossos repórteres. Esse trabalho acabou reconhecido na imprensa Paulista, que concedeu a nossa equipe o Troféu Ford Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo) como a melhor equipe de esportes de Rádio do Interior do Estado de São Paulo. Detalhe importante é que as escolhas eram feitas pelos próprios cronistas das mais de 500 equipes de todo o Estado. Esse prêmio foi o maior reconhecimento pelo nosso trabalho além de ser pioneiro para a Baixada Santista.
O Curioso do Futebol - Provando que o rádio na região era forte, vários profissionais foram para emissoras de rádio e TV nacionais, e alguns até utilizam os seus bordões. O que você acha disso?
Edson Callegares - O Rádio em Santos sempre foi muito forte e respeitado. Por vários profissionais saíram daqui para trabalhar na grande mídia tais como: Paulo Soares (ESPN), Luiz Roberto de Múcio (TV Globo), Paulo Roberto Martins (Rádio Globo), Odinei Ribeiro (SporTV), Douglas Porto (Rádio Jovem Pan), Armando Gomes (TV Gazeta), Luciano Faccioli (Rádio Jovem Pan), Pinheiro Neto (in memoriun - Rádio Bandeirantes), João Carlos Albuquerque (ESPN), João Antonio de Carvalho (Jovem Pan), Felipe Camargo (ESPN e Rádio Estadão) e tantos outros. De todos citados, só não trabalhei junto com João Carlos Albuquerque, Luiz Roberto de Múcio e João Antonio de Carvalho. Os demais trabalhei com todos. Lembrando que fui para a Rádio Jovem Pan em 1986, acabei não ficando pois a proposta financeira não me agradou.
O Curioso do Futebol - Aliás, falando em bordões, como você os criou?
Edson Callegares - Quanto aos bordões, criei o "Sabe de Quem", pois precisava identificar para o torcedor santista de quem era o gol, algo que ficasse marcado. E foi o que aconteceu: um sucesso! Esse meu bordão foi copiado pelo Luiz Roberto de Múcio na TV Globo. Depois de muita repercussão através de uma reportagem no UOL no qual reproduziu o que escrevi no meu face, acusando o Luiz de plágio. Isso foi uma verdadeira bomba. Ele me ligou pedindo desculpas e disse que se eu quisesse ele pararia de falar. Disse a ele que a minha indignação não era por ele usar, mas sim, ao dar duas entrevistas falando da origem do "Sabe de Quem", ele jamais disse ser de um locutor de Santos que fala "Sabe de Quem" desde os anos 90. Esse cara, como diz o Roberto Carlos, "sou eu Edson Callegares". Autorizei ele usar e ele prometeu que a partir daquele dia falaria de quem ouviu o "Sabe de Quem".
O Curioso do Futebol - Chegou em um momento, na década de 90, que as equipes de rádio que transmitiam os jogos dos times da região foram diminuindo. Porém, a equipe Show de Bola manteve-se firme no ar, tornando-se a "principal voz" do Santos FC na Baixada. Como foi essa época? O que vocês faziam para se manter no ar?
Edson Callegares - Nos anos 90, a presença da TV era muito tímida ainda. O Rádio continuava forte e o mercado publicita´rio na Baixada Santista também. Só começou a ter dificuldade quando a TV fechada passou a transmitir todos os jogos simultaneamente ao vivo. Além disso, fazer o pré-jogo e também o pós jogo. Aí matou de vez o Rádio.
O Curioso do Futebol - Falando em anos 90, vocês cobriram o Santos na fase da fila. Porém, muitas vezes, o Peixe "bateu na trave" dos títulos naquela época. Como você via aquele momento do clube e como era transmitir isto para o ouvinte?
Edson Callegares - Em relação à fila, era muito triste ver o torcedor do Santos naquela situação.
O Curioso do Futebol - Em 2002, o Santos finalmente conquista o sonhado titulo. Como foi para você aquele momento?
Edson Callegares - 2002 foi um dos mais importantes momentos da minha carreira. Muita alegria em ver a Baixada Santista feliz com aquela conquista. Na volta do Morumbi, lembro de ver aquela multidão de pessoas na entrada da cidade esperando a delegação do Santos chegar. Inesquecível!
O Curioso do Futebol - Você pegou a modernização da tecnologia de transmissão. O que destas novidades mais te surpreende?
Edson Callegares - A tecnologia foi fundamental. Melhor qualidade de som e equipamentos que facilitava o trabalho dos repórteres, como o microfone sem fio por exemplo. E a Internet. Hoje não existe mais Rádio Local. Hoje você transmite para o mundo.
O Curioso do Futebol - O que acha de suas experiências na televisão? O que acha melhor na telinha e o que ela perde para o rádio?
Edson Callegares - A TV é maravilhosa, porém muito mais fácil do que fazer Rádio. O que difere entre uma e outra é a emoção. Na TV a emoção é transmitida pela imagem temperada com algumas palavras. No Rádio essa emoção e transmitida apenas pela voz e pelas palavras. O resto fica por conta da imaginação de quem ouve.
O Curioso do Futebol - Como fã e ouvinte de seu trabalho, lembro de algumas histórias que você transmitia no ar, como transmitir jogo na marquise do Maracanã porque não tinha cabine para todo mundo. Quais são as histórias mais pitorescas em transmissões em sua carreira?
Edson Callegares - Foram várias. Jogos no Brasil e exterior. Locais sem cabine para transmitir e dificuldades das mais variadas. Cheguei a transmitir Santos e Atlético Mineiro, no Mineirão, no meio da torcida do Galo, pois não havia cabine. Nesse dia, graças à Deus, o Galo venceu o jogo 5 a 1.
O Curioso do Futebol - Atualmente, há muitas equipes transmitem 100% via internet, sem ter uma emissora por antena. Você acha que este é o futuro do rádio esportivo?
Edson Callegares - 100% Internet. A Internet é o futuro. Mas ainda não é o presente, pois ainda tem alguns problemas. O primeiro é o chamado delay. Enquanto a bola esta no ataque em tempo real, a transmissão via internet a bola ainda está nas mãos do goleiro. Resumo: só ouve quem não tem a imagem. Se você fizer pela internet acoplada a uma Rádio a coisa muda de figura. Exemplo: Estou por uma Rádio no Estadio transmitindo o jogo. Quem estiver no Estadio com Rádio, ou celular, hoje o mais convencional, vai ouvir tudo em cima da bola, sem delei. Aí fica show. Somente pela internet o seu publico fica muito restrito. Hoje já temos um grande caminho. Baixe um app no seu celular Net Rádio. Você vai ouvir qualquer jogo, em qualquer lugar do mundo. Isso é maravilhoso. Mas por uma Rádio. Uma Rádio Web ainda é muito limitada.
O Curioso do Futebol - Agora deixamos espaço para sua mensagem:
Edson Callegares - Quero deixar uma mensagem a todos que pretendem fazer jornalismo. O campo está muito restrito. Pagar uma faculdade, que não é barato, durante quatro anos, e depois ter dificuldade para entrar no mercado de trabalho e muito triste. Mas nunca desista do seu sonho. Se está no seu sangue e na sua alma, levante a cabeça e pisa forte, pois você vencerá. Abraço a todos e boa sorte. Edson Callegares
Excelente entrevista!!! Sou fã desse profissional ímpar. Me recordo até hoje no dia em que o conheci pessoalmente. Me tratou com uma simpatia sem igual. Desejo tudo de bom e muito sucesso. Parabéns Edson Calegares.
ResponderExcluirTiago Andrade aqui! Sou fã de rádio e Edson (sabe de quem), Guido (no fundo do balaio) marcaram... e nao podemos esquecer do Mestre Vitor Moran
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