Com informações do Internacional
Foto: arquivo Internacional
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Orlando, o goleiro muito fora de forma do Ferro Carril, com a chuteira no nariz de Flavio
Em 1976 não eram só Elton John e The Supremes que estavam nas paradas de sucesso. No futebol, o Brasil inteiro se rendia à magnificência da Academia do Povo comandada por Rubens Minelli, campeã nacional na temporada anterior. Intensa como uma boa disco, a geração colorada parecia imbatível aos torcedores, apaixonados pela geração de craques como Valdomiro, Falcão, Manga, Figueroa, e também para os rivais, aterrorizados com a afinada sintonia alvirrubra. Adversário nenhum, entretanto, passou pelo mesmo que os uruguaianenses do Ferro Carril que, há exatos 44 anos, no dia 23 de maio de 1976, sofreram, para o Colorado, o maior revés da história dos Gauchões e do Beira-Rio, por 14 a 0.
O Clube do Povo foi a campo naquela outoniça tarde de domingo escalado com Manga no gol, Cláudio Duarte, Figueroa, Marinho Peres e Vacaria na defesa; Caçapava, Carpegiani e Escurinho no meio; Valdomiro, Flávio e Genau no ataque. Da casamata, Rubens Minelli viu seus comandados abrirem o placar logo aos 35 segundos de partida, quando o relógio sequer indicava 15h e 31 minutos. Pegando a sobra de bola levantada na área, Caçapava mandou na caçapa, como bem narrou Milton Ferreti, e inaugurou o marcador.
À época, o Inter já somava nove vitórias, além de um empate, nas partidas disputadas pelo Gauchão. Uma vitória larga, portanto, não seria exatamente chocante, como não foi a etapa inicial, encerrada com o 4 a 0 no placar, gols de Caçapava, mais uma vez, Carpegiani e Flávio. Após fazer história com o hexa do Rolo Compressor na década de 40, o Clube do Povo tinha a obsessão de chegar ao Octa estadual e, com ele, superar a sequência de sete títulos consecutivos do rival. Encarrilhando taças desde a inauguração do Gigante, o Colorado estava a um troféu de atingir feito inédito para o futebol gaúcho. Também por isso a equipe, já motivada pela promessa do vice-presidente de Futebol, Fernando Arnaldo Ballvê, que estipulara uma gratificação por gol marcado a cada atleta, sequer cogitou tirar o pé no segundo tempo. Entre os mais interessados em retornar com tudo para o segundo tempo, estava Escurinho.
Audacioso, Orlando, arqueiro do Ferro, provocou Escurinho, afirmando que até poderia sofrer mais gols, mas nenhum do talismã colorado. Tendo operado milagres a cada chute ou cabeceio do ídolo do Inter, o goleiro parecia ser o grande pesadelo do histórico camisa 14 alvirrubro, e sentia ter autoridade para incomodar o meio-campista vermelho. Reiniciado o confronto, as provocações seguiram por mais cerca de meia-hora, intervalo de tempo recheado pelos tentos de Valdomiro, Ramón, que, assim como Hermínio, entrara no decorrer da partida, Cláudio Duarte, Figueroa, novamente Valdomiro e, uma vez mais, Ramón. Aos 28 minutos, contudo, aproveitando corte ruim da zaga adversária, Escuro fez o seu, o 12º do dia, e deu fim à breve sina.
Ramón, antes, e Valdomiro, na sequência, encerraram a goleadora tarde na beira do Guaíba. Ato contínuo, ainda na beira do campo Rubens Minelli foi entrevistado e declarou, sincero, que estava satisfeito com a atuação respeitosa de seus atletas. “Realmente, a equipe esteve numa tarde muito feliz. Aproveitou demais as oportunidades que o adversário permitiu e transformou a superioridade em gols. Eu acho que uma maneira de respeitar o adversário é exatamente jogando um futebol sério, nunca nos preocupamos em menosprezar o adversário, tentando dar olé, e acredito que, embora nossa equipe tenha feito 14 gols, nós jamais subestimamos ou deixamos que se sentissem menosprezados.”
Na sequência do torneio, o Inter acumularia mais 14 vitórias em campanha avassaladora, que ainda somou três empates e um único revés. Contra o maior rival foram cinco os confrontos, três destes encerrados com alegria para a Maior e Melhor Torcida do Rio Grande, o último válido pela final, vencido por 2 a 0, gols de Lula e Dadá. Consagrado, o Octa segue, ainda hoje, inigualável, assim como o escore aplicado sobre o Ferro, feitos dignos de uma equipe histórica e rara como foi a Academia do Povo na década de 70.
Naquela época eu tinha 16 anos e trabalhava no Restaurante Papagaio (que ainda existe) próximo à entrada para Cachoeira do Sul.Na ida do Ferro Carril para o jogo no Beira Rio perguntei ao goleiro Orlando, que marcaria o Carpegiani e ele me disse que nada vamos jogar todos atrás,vamos nos fechar para não levar gol do Inter. Na volta o time passou novamente no restaurante aí novamente falei com o goleiro Orlando e perguntei o que foi os 14 a zero levado do Inter e disse: é isso não poderia ter acontecido, mas ao mesmo tempo estava feliz pois vestia a camiseta que ganhou do Figueiroa. Jamais esquecerei a que episódio.
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