Por Lucas Paes
Foto: reprodução Revista Placar
Jogadores do Santos no Estádio em Juiz de Fora
O futebol brasileiro nem sempre foi relativamente organizado e seguidor de regulamentos como é hoje. As viradas de mesa foram praticas famosas nos tempos antigos e diversos times se beneficiaram dela. Em tempos mais recentes, os Brasileirões de 2005 e 2013 sofreram com problemas judiciais extracampo. Em 1989, época em que viradas e favorecimentos eram comuns, o Coxa entrou em uma verdadeira guerra com a CBF devido a um motivo que hoje seria bobo e impensável: a data de um jogo.
A história começou no contexto daquele brasileirão: em uma primeira fase em que as equipes divididas em grupos de 10 times se classificavam ou para a segunda fase para disputar o título ou iam para o torneio da morte para definir os rebaixados, Coritiba e Vasco chegaram na última rodada disputando classificação para a fase que definiria o título. No dia 4 de outubro, na vitória do Coxa diante do Sport no Couto Pereira, um torcedor invadiu o campo e agrediu o goleiro Rafael Cammarotta, que havia passado e marcado seu nome na história do Verdão antes. Com isso, o STJD puniu os paranaenses com a perda de um mando de campo.
Até ai, o clube alviverde não tinha nenhum problema. A punição era justa inclusive, já que era de fato absurda a invasão de um torcedor a campo para agredir um atleta. A situação começou a se complicar quando houve um imbróglio sobre a data dos jogos de vascaínos e coxa-brancas na última rodada. Inicialmente, os alviverdes conseguiram uma liminar para, independente do jogo ser em juiz de fora, jogarem no mesmo horário do Vasco, que havia tido seu jogo adiado para não ser prejudicado pela ausência de atletas que estavam na Seleção Brasileira.
A CBF, porém, descumprindo a liminar do STJD, manteve o Coritiba jogando no dia seguinte do Vasco. No dia 21 de Outubro, enquanto Jair Picerni treinava normalmente a equipe, a diretoria decidiu não seguir a Juiz de Fora, no que era um protesto e ao mesmo tempo um cumprimento de uma liminar. Então, o Verdão não foi ao jogo em Juiz de Fora e o Santos ficou batendo bola e venceu por WO. A CBF retirou 5 pontos do alviverde e o puniu com rebaixamento para a terceira divisão e suspensão de um ano, mas a história apenas havia começado.
No dia 25, a diretoria do clube da capital paranaense entrou com pedido de efeito suspensivo no STJD, através dos serviços de Valed Perry. O princípio defendido pelos curitibanos é que eles não podiam descumprir uma liminar do próprio tribunal. Porém, com a recusa do tribunal em atender ao Coxa, os diretores cogitaram partir para a justiça comum. A mudança na decisão faz com que o auditor Paulo César Costeira deixasse o cargo. Na justiça comum, o clube conseguiu uma liminar que o permitira enfrentar o Santos no mesmo horário do jogo do Vasco, algo que não adiantava muito já que o jogo já havia passado. Ricardo Teixeira declarou que o ato havia configurado um "suicídio" dos paranaenses.
A situação só se resolveu com um acordo costurado em 1990, com o Coritiba, que havia sido suspenso de competições pela CBF por um ano e rebaixado a terceira divisão, recebendo a permissão de jogar a Série B. Porém, o episódio gerou uma crise que tirou o Coxa do topo do futebol brasileiro à época e o colocou num ostracismo do qual só conseguiu sair em 1996, permitindo a ascensão do Paraná e do Athletico.
A canetada da CBF foi na época uma demonstração de poder de Ricardo Teixeira, genro de João Havelange, que recém havia assumido a presidência da confederação. Com a punição ao alviverde, ele demonstrou força e poder, tentando tirar as dúvidas que pairavam sob sua imagem devido ao fato de não entender muito de futebol, segundo diziam. Quem pagou o pato foi o alviverde paranaense, que demoraria para se recuperar no final das contas. Já Teixeira ficou na CBF por 23 anos, até ser afastado por denúncias de corrupção.
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