Por Diely Espíndola
Foto: arquivo
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Branco e Maradona: lateral brasileiro foi dopado ao beber água dos argentinos em 1990
Não é segredo para ninguém que Brasil e Argentina protagonizam uma das maiores rivalidades do mundo, e que se acirra ainda mais quando o assunto é futebol. Mas não foi no futebol que ela começou.
Em 1825, Portugal e Espanha disputavam o domínio da Província Cisplatina, o território que mais tarde se tornaria o Uruguai. Brasil e Argentina, que nada tinham a ver com a história, decidiram tomar partido de seus respectivos colonizadores, e ali começaria clima de desafeto que dura até hoje.
Com as relações já estremecidas, entrava na jogada o futebol. Em 1914, antes mesmo da primeira Copa do Mundo, Brasil e Argentina se enfrentariam pela primeira vez em um amistoso. O primeiro embate entre as duas seleções terminaria em 3x0 para a Argentina, na partida disputada em Buenos Aires. Mas, uma semana depois, a seleção Canarinha daria o troco, e que troco! As duas seleções disputariam a Copa Roca, que atualmente conhecemos como Superclássico das Américas. A Seleção Brasileira não só venceu e levantou o caneco, como também decidiu comemorar a conquista da taça bem na frente da torcida argentina.
Nos anos seguintes, a situação no futebol para as duas equipes só esquentou. Foram diversos jogos marcados por pancadarias, expulsões, tudo isso muito intensificado pelo fato de os dois países serem dos mais apaixonados por futebol no mundo. Sempre páreo a páreo na disputa do maior número de Libertadores, de Copas Sul-americanas, a disputa pelo “rei do futebol”... Enfim, não faltam motivos no histórico dessa rivalidade para que ela só crescesse e se intensificasse com o passar dos anos. E aqui chegamos a 1990.
A Copa de 90, sediada na Itália, já começava com a Argentina sendo a vigente detentora do caneco mais importante do mundo. Os Hermanos contavam ainda com um Maradona vivendo seu auge, aclamado internacionalmente por sua jornada no Napoli. O Brasil por outro lado, não levantava a taça de campeão há exatos 20 anos, desde a irretocável Copa de 70.
Quando se definiu que um dos duelos das oitavas de final da Copa de 90 seria Brasil x Argentina, todos estes fatores fizeram que os ânimos das torcidas e das equipes estivessem exaltados. A seleção Brasileira não vivia um bom momento, e a Era Dunga se tornaria uma das mais criticadas da história tupiniquim. Apesar do mau momento, do desfalque de Romário, do elenco desunido e de diversos fatores extracampo, a partida contra a Argentina foi a melhor atuação Canarinha naquela copa. No entanto, a eliminação foi inevitável. A Argentina acabou vencendo por 1x0, com o famoso gol de Caniggia.
Mas não foi o gol o fato mais marcante da partida. Tampouco a presença de Maradona, a crise na delegação brasileira, ou a eliminação precoce de uma das mais respeitadas seleções do mundo. Seria Miguel di Lorenzo, massagista da seleção argentina, quem faria história naquela partida e protagonizando um dos mais lendários acontecimentos do futebol sul-americano.
Naquele dia 24 de junho, fazia muito calor na Itália. Numa das paradas para atendimento da equipe argentina, o lateral brasileiro Branco pediria ao massagista argentino uma garrafa d’água. E a história conta que esta garrafa foi batizada com um tranquilizante que deixou o jogador grogue por toda a partida.
Como toda história contada boca a boca, o fato nunca pôde ser comprovado com análises, por exemplo, mas foi confirmado por diversos jogadores que estavam em campo naquela partida, inclusive Maradona.
O próprio massagista, no entanto, até hoje nega a sabotagem. Gallindez, como é conhecido o massagista, diz que outros jogadores de sua equipe beberam da mesma garrafa verde oferecida a Branco, como Carlitos Giusti. Mas vídeos da partida mostram que o jogador argentino realmente pega a garrafa, mas após conversar com o massagista, bebe de outro recipiente.
Vídeo do Brisa Esportiva explicando o fato
Fato é que a história segue viva, copa após copa, e há muitos argentinos que se orgulham do fato. A rivalidade levada até as últimas consequências, o ato para muitos visto como heroico, digno de filme, e que pode ter ajudado a Argentina a eliminar da maior competição do mundo o seu arquirrival, ou no mínimo pregou uma bela peça nele.
Após avançar ainda mais na competição, eliminando também a anfitriã Itália, a Argentina chegou a final contra a Alemanha Ocidental. Na disputa final, porém, a Argentina não superou a Alemanha, que sacramentou a vitória sobre os Hermanos com um pênalti que até hoje deixa dúvidas e é contestado. E assim a Argentina voltou para casa sem o caneco, talvez prejudicada pela arbitragem, e deixando muitos brasileiros com um sorriso no rosto.
Um sorriso que só pode ser explicado por anos da rivalidade mais intensa, talvez divertida e porque não talentosa, de toda a América.
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