O Paranaense de 1980 e o título dividido entre Colorado e Cascavel

Por Diely Espíndola
Fotos: Arquivo

O jogo decisivo entre as duas equipes. O título acabou sendo dividido

Os campeonatos estaduais podem não ser as competições que os clubes brasileiros priorizam durante a temporada nos dias de hoje. Mas sem dúvida, são repletos de rivalidade, tradição, e como não poderia deixar de ser, muitas polêmicas. 

Uma delas, talvez não tão conhecida, envolve a final do campeonato Paranaense de 1980, disputada entre Cascavel e Colorado. Uma final que até hoje deixa uma lembrança amarga para o futebol do Paraná, e que 30 anos depois ainda não é unânime. 

O regulamento do campeonato paranaense daquele ano seria disputado da seguinte forma: na primeira fase, 20 clubes se enfrentariam em turno único. Os 8 melhores colocados avançariam para a segunda fase da competição, em turno e returno, e os 4 melhores clubes se classificavam para a terceira e última fase da competição. O quadrangular final determinaria quem seria o campeão paranaense. 

Assim sendo, chegavam à terceira fase do campeonato os clubes, por ordem de classificação: Cascavel, Colorado, Londrina e Pinheiros. Os dois últimos tinham chances quase nulas de título, e por isso, Cascavel e Colorado acabaram sendo os dois clubes classificados à grande final da competição. 

O Cascavel era o favorito a levantar o caneco. Com saldo de gols em disparada à frente de seu oponente, o time da Cobra poderia perder por até 5 gols de diferença que ainda teria seu título de campeão assegurado. Parecia tudo certo para uma final sem surpresas, certo? Mas no fim das contas, surpresa foi o que não faltou naquela final.

O título acabou dividido

O técnico Borba Filho, comandante do Cascavel, já chegava à partida ressabiado. Conforme afirma até os dias de hoje, o treinador alegava desconfiar da possibilidade de interferência da arbitragem para que o Cascavel não levasse o bastante provável título. Chegou a prometer, em suas palavras, “se for o caso, este jogo não acaba”, já antecipando o desfecho que viria a seguir. 

A partida foi iniciada, e já aos 5 minutos o Colorado abriu o placar com gol de Jorge Nobre. No entanto, o lance gerou revolta entre jogadores e torcida do Cascavel. Jorge Nobre fez uma falta no goleiro Zico, porém ainda assim o gol foi validado. Começava a primeira confusão da partida, com os jogadores do Cascavel veementemente protestando contra a arbitragem. O resultado foi a expulsão do jogador Marcos, o primeiro jogador que sairia de campo naquela partida. 

Aos 23 minutos de partida, Jorge Nobre faria o segundo gol do Colorado. Com o clima cada vez mais quente pela vantagem de gols diminuindo para o Cascavel, o técnico Borba Filho se exaltava a cada lance apitado pelo árbitro contra seu clube, o que causou a sua expulsão. Mas antes da expulsão, o técnico fez sua primeira substituição, colocando o jogador Maurinho em campo. Maurinho por sua vez ficou poucos minutos em campo, sendo expulso logo em seguida por uma confusão que até hoje há quem diga que o jogador provocou propositalmente visando a expulsão. 


Com 9 jogadores em campo, o Cascavel faria sua segunda substituição, e última permitida pelo regulamento à época. Sérgio Ramos deu lugar à Dudu, pouco antes do fim da primeira etapa. 

No segundo tempo, no entanto, Dudu já não voltaria ao campo. Alegando contusão, o jogador foi barrado pelo departamento médico, juntamente com o companheiro de equipe Nelo. Assim o Cascavel voltaria para a segunda etapa da partida com apenas 7 jogadores em campo, o mínimo permitido para que a jogo pudesse continuar a ser disputado. À esta altura, não havia quem não acreditasse que o “cai-cai” era proposital, e uma estratégia do Cascavel para se manter como campeão paranaense daquele ano. 

Ainda no primeiro lance do segundo tempo, as suspeitas se intensificaram com mais uma lesão: o goleiro Zico seria o quinto jogador do Cascavel a deixar o campo, obrigando o árbitro Tito Rodrigues a encerrar o jogo. 

O que parecia ser o fim da partida, no entanto, acabou se tornando apenas o começo da grande polêmica que ainda viria para as equipes finalistas daquele campeonato. 

O Colorado saiu de campo com a vitória da partida, e por isso, se auto consagrou o campeão. Título que o Cascavel contestou, pois a vitória não havia sido por 5 gols, quantidade necessária para que o Colorado botasse as mãos no caneco. O impasse estava armado.

Vídeo do Brisa Esportiva

A situação ficou indefinida por 12 dias, até que a Federação Paranaense de Futebol declarou ambos os times campeões, dando ao Cascavel seu primeiro título, e único do Colorado. A decisão, no entanto, não agradou a nenhum dos dois clubes, mas foi mantida. 

Até hoje, o feito não se repetiu na história do futebol paranaense. Quanto aos dois clubes, nenhum existe mais. O Colorado fundiu-se com o Pinheiros em 1989, criando o Paraná Clube, a atual terceira força do estado. Já o Cascavel EC teve problemas financeiros e em 2001 fundiu-se com o Cascavel SA e o Sorec, formando o Cascavel Clube Recreativo.
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