Por Diely Espíndola
Foto: arquivo Grêmio
Lara, o 'craque imortal', histórico goleiro do Grêmio
O futebol brasileiro é repleto de grandes ídolos que se eternizaram sob os escudos dos clubes tupiniquins. Mas alguns deles, mais do que ídolos, acabam se tornando grandes lendas, cheios de mística em torno de sua história e trajetória. E é impossível falar dessas lendas sem citar Eurico Lara.
Nascido em 24 de janeiro de 1897, Lara começou sua carreira no futebol atuando como ponteiro esquerdo. Mas chamando atenção por seus 1,90m de altura, não tardou para que Lara migrasse à posição de goleiro. E foi assim que o arqueiro se tornaria um dos maiores ídolos da história do Grêmio.
Eurico Lara já atraía admiração por onde passava por sua personalidade ética e íntegra. Somado à isso, suas defesas muitas vezes milagrosas foram parte fundamental das conquistas do Grêmio durante as 16 temporadas em que Lara vestiu a camisa do Tricolor Gaúcho. E a última dessas conquistas, seria a responsável por todas as lendas que cercam não somente a vida, mas também a morte de Lara.
Em 1935, o campeonato portoalegrense seria uma das competições mais aguardadas do Rio Grande do Sul. Além da final ser composta por uma das maiores rivalidades do Brasil, o Gre-Nal decisivo também coincidiria com o centenário da Revolução Farroupilha. Todos esses eventos contribuíram para uma atmosfera de misticismo e que se prolonga até hoje no imaginário dos gremistas.
Na ocasião do Campeonato Farroupilha, como ficaria conhecida a competição, Eurico Lara sofria de tuberculose. A recomendação médica era que Lara não atuasse mais como jogador, para preservar sua saúde e acelerar sua recuperação da doença que àquela época, ainda possuía um alto índice de letalidade. Além da tuberculose, conta-se que Lara também sofria de problemas cardíacos descobertos após um choque no peito sofrido em uma partida contra o Santos.
Mas Eurico Lara ignorou as recomendações médicas, e em 22 de setembro de 1935, naquele Gre-Nal decisivo, vestiria pela última vez a camisa do Grêmio.
Conta-se a história de que Eurico Lara havia defendido um pênalti na partida, batido por seu próprio irmão que atuaria pelo Internacional. O irmão teria aconselhado Eurico a não defender, porque bateria forte, mas Lara insistiu em defender a meta gremista. De fato, a bola viria com força tamanha que ao atingir o peito do goleiro, o fez sofrer uma parada cardíaca, e agarrado à bola, teria falecido defendendo as cores do Grêmio, campeão daquele ano.
Mas, bem, a história não foi bem assim.
Eurico Lara faria naquela final uma de suas maiores atuações pelo Tricolor Gaúcho. Não há registros de que Eurico tivesse um irmão, muito menos que jogasse pelo Internacional. Também não houve pênalti naquela partida. Contudo, o Grêmio foi sim campeão. Acabou vencendo a partida por 2 x 0, e Lara seria substituído ao fim do primeiro tempo. Mas devido a seus problemas de saúde, a saída do jogador não foi do campo para o vestiário, mas para o hospital, de onde só sairia após sua morte.
Mas novamente, a história não foi essa.
Lembram quando eu disse que a trajetória de Eurico Lara era repleta de lendas e mitos? Pois é. Mas de forma alguma, estas lendas diminuem seus feitos. Elas existem para florear uma história bonita por si só, de amor ao clube e honra ao escudo que defendia.
A história real se assemelha muito a segunda versão contada aqui. Eurico realmente atuou magnificamente naquela final. Foi também um dos grandes responsáveis pela vitória do Grêmio sobre seu maior rival. E de fato, sairia de campo no primeiro tempo, de ambulância para o hospital, por conta de seus problemas de saúde. Eurico ficaria ainda alguns dias internado, mas não só saiu do leito como também voltou a campo, desta vez como árbitro de uma partida entre Nacional x Leopoldinense. Em 29 de outubro daquele mesmo ano, aí sim, Eurico entraria em campo pela última vez, novamente como árbitro, apitando a peleja entre Força e Luz x Cruzeiro de Porto Alegre.
O vídeo do Brisa Esportiva sobre Eurico Lara
Mas após aquela partida, Lara sofreria uma recaída em sua saúde, que em 6 de novembro de 1935 culminaria em sua morte.
Talvez a partida de Lara não tenha sido tão alegórica quanto contam as diversas versões que cercam sua última partida pelo Grêmio. Talvez ele não tenha falecido vestindo as cores do Grêmio. Mas é fato que ter continuado atuando pelo Tricolor, contrariava as recomendações médicas para sua recuperação. Mesmo doente, Lara se comprometeu a defender o Grêmio enquanto sua saúde lhe permitisse, ainda que lhe custasse a vida.
Lara honrou o Grêmio até seus últimos dias, e o Grêmio soube bem como retribuir. Em seu hino, o nome de Eurico Lara estará eternizado para que todas as gerações de gremistas que ainda estão por vir, conheçam o goleiro que deu a vida pelo Grêmio.
“Lara, o Craque Imortal
Soube o seu nome elevar
Hoje, com o mesmo ideal
Nós saberemos te honrar”
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