Crítica - Filme 'Ultras', da Netflix

Por Diely Espíndola
Foto: divulgação Netflix

Ultras fala de torcedores de futebol do Livorno

Nesses dias de campeonatos pausados mundo afora, todo fã de futebol está se pegando em meio a uma abstinência forte de conteúdo esportivo. Por isso, filmes, séries e documentários sobre futebol tem sido a nossa solução. 

Quando eu soube que a Netflix produziria um filme sobre os Ultras, fui inocente. Pra mim, uma eterna romântica sobre tudo que envolve futebol e política, o filme falaria disso. Se você acha que futebol e política não se misturam, os Ultras tão aí pra te mostrar que não só se misturam, como tem uma relação intrínseca, apaixonada e vital. São talvez um dos grupos sociais italianos que mais tem voz mundo afora. E foi isso que eu esperava ver. 

Eu esperava ver a luta antifascista e muitas vezes solitária dos Ultras do Livorno. Esperava ver como eles, pelo futebol, tentam mudar a Itália presente e fazer a Itália passada se redimir. 

Esperava ver expostos os Ultras do outro lado, os canalhas anti semitas, preconceituosos, racistas que cada vez mais perdem a voz nas arquibancadas graças à luta dos torcedores que não se calam diante dessa nojeira. 

Mas o que eu vi foi mais do mesmo. Uma tentativa de ser mais um “Hooligans”. Uma exaltação à violência que o mundo não tolera mais. Ainda que haja retratações, mudanças, o filme se porta como se aquilo ali fosse o padrão. A via de regra. Como se escolher o diferente fosse uma batalha árdua de vida ou morte. 

Vi uma oportunidade incrível de mostrar pro público comum, pro mundo inteiro, pra quem nem gosta de futebol, que as torcidas são muito mais do que um aglomerado de trogloditas. Podiam mostrar a força social, trabalhista, a influência sobre clubes, povos, o poder de arrastar multidões, tudo que ninguém quer acreditar que existe fora do estereótipo.


Mas escolheram mostrar o estereótipo.

Uma obra que poderia ir muito além, poderia ser muito mais crítica, analítica, mas preferiu se manter no raso e abordar de forma vazia uma temática tão cheia de potencial. 

Mais uma obra pra afastar dos estádios o público comum, pra incutir no imaginário popular que futebol é violência. E enquanto isso, tem torcedor aplaudindo, e reproduzindo os mesmos comportamentos aqui na vida real. 

É por tudo isso a minha decepção.
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