Fotos: Acervo Museu do Futebol / Suzana Cavalheiro
A Seleção Feminina no Mundial Experimental de 1988
No ano passado, houve uma divulgação maciça da Copa do Mundo Feminina, que foi realizada na França, por estes lados. Porém, se ainda hoje há reclamações, justas, diga-se, de falta de estrutura e visibilidade ao Futebol Feminino brasileiro, imagine em 1988? Pois foram em condições bem precárias que se montou a primeira seleção do país, para a disputa da Copa do Mundo Experimental da categoria, que foi realizada na China.
O Brasil era muito atrasado no assunto futebol feminino. Também, enquanto as mulheres jogavam em várias partes do mundo, por aqui isto era proibido até 1979. Depois, demorou para ter a regulamentação, que aconteceu em 1983 e, mesmo assim, as mulheres que jogavam sofriam um enorme preconceito por parte de muita gente. Era uma verdadeira batalha ser jogadora de futebol no Brasil.
Voltando ao Mundial Experimental de 1988, podemos dizer que, na verdade, o nome Seleção Brasileira naquele torneio é porque foi uma equipe representando o Brasil em uma competição oficial. Pois, na realidade, era mesmo a equipe do Radar, do Rio de Janeiro, um dos poucos clubes com uma estrutura mínima do Futebol Feminino, pelo menos organizado, o Juventus, que dominava em São Paulo, e mais uma ou outra jogadora que estava despontando. Era o caso de Sissi, que surgia na Bahia e nos anos 90 foi a melhor do País, envergando a camisa 10 amarelinha por vários anos. Ou seja, estava mais para um combinado.
A estrutura era pouca. A CBF deu o mínimo do mínimo para as jogadoras irem para a China. Uniforme específico para mulheres? Nem em sonho! Era a sobra do masculino. Cozinheiro específico? Que nada! Comiam a refeição chinesa e as jogadoras sentiram problemas de adaptação. Algumas passaram o Mundial praticamente comendo pão e tomando refrigerante.
Só para se ter uma ideia de como era precária a situação, Meg, goleira titular do Radar, teve que recusar o convite para ir à China porque ela também era arqueira da Seleção Feminina de Handebol e preferiu abdicar da convocação para se preparar para o Mundial da modalidade onde também se faz gols, só que com as mãos. Depois, Meg acabou dando prioridade ao Futebol e defendeu a Seleção por anos.
Foram 12 times convidados para fazer parte daquela Copa do Mundo: China, Canadá, Holanda e Costa do Marfim (Grupo A), Brasil, Noruega, Austrália, Tailândia (Grupo B), Suécia, Estados Unidos, Tdchecoslováquia e Japão (Grupo C).
Mesmo com todos os problemas, as jogadoras convocadas por João Varela foram para a competição e no dia 1º de junho de 1988, Lica; Marisa, Elane, Sandra e Fanta; Lúcia, Marcinha e Sissi; Pelezinha, Roseli e Cebola, mesmo praticamente com poucos treinamentos juntas, entraram em campo para o confronto contra a Austrália, na estreia pelo Grupo B, mas o resultado não foi positivo: derrota pelo placar de 1 a 0.
Mas as brasileiras não abaixaram a cabeça. João Varela passou a fazer mudanças na equipe, como a entrada da goleira Simone no lugar de Lica, e os resultados vieram. Primeiro, uma grande vitória sobre a favorita Noruega, por 2 a 1. Depois uma sonora goleada por 9 a 0 sobre a Tailândia, que colocou o Brasil nas quartas-de-final.
No mata-mata, a primeira adversária foi a Holanda. Jogo difícil, truncado, mas a Seleção Brasileira levou a melhor e venceu por 2 a 1, chegando à uma histórica semifinal. O jogo era novamente contra a Noruega, em Guangzhou, mas desta vez as norueguesas venceram, pelo placar de 2 a 1 e foram à decisão.
Foto antes do jogo contra a Holanda, nas quartas de final
Restou ao Brasil a decisão de terceiro lugar, contra as donas da casa, as chinesas. Jogo truncado novamente e um 0 a 0 com a bola rolando. Na decisão de penalidades, Simone brilhou e as brasileiras venceram por 4 a 3, ficando com o bronze na competição. O título ficou com a Noruega, que bateu a Suécia na decisão, por 1 a 0.
Aquele time seria base da equipe do primeiro Mundial da China, em 1991, e da Seleção que disputaria a primeira Olimpíada do futebol feminino, em 1996. Algumas atletas ainda jogaram a Copa do Mundo de 1999, onde o Brasil foi terceiro, e os Jogos Olímpicos de 2000, em Sidney, onde o time amarelo repetiu o quarto lugar.
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