André Catimba e a desajeitada cambalhota no gol que mudou a história do futebol gaúcho

Por Lucas Paes
Foto: Armênio Abascal Meireles/Agencia RBS


André comemora gol que virou a gangorra do futebol gaúcho

O Grenal é uma das maiores, se não a maior rivalidade, do futebol brasileiro. Clássico de opostos que se odeiam, mas que se completam, é um duelo conhecido por momentos de gangorra, pois geralmente quando um dos rivais está bem o outro está mal. Na maioria das vezes, pelo menos, é assim. Nascido num dia 30 de outubro como hoje, mas em 1946, Carlos André Avelino de Lima viraria André Catimba quando jogador e, como um super-heroi que muda sua identidade secreta para entrar na história, viraria, anos depois André Cambalhota num gol que virou a gangorra do clássico gaúcho. Num momento em que o Grêmio começaria a caminhada para se tornar um papa títulos até em nivel continental nos anos 1980. A história do clássico gaúcho virou de novo em 1977, num gol histórico do atacante baiano que gerou uma celebração mais histórica ainda.

Nos oito anos anteriores, interrompendo um octa-campeonato do próprio Imortal, o Colorado conquistara o primeiro dos oito títulos seguidos que representariam um período de penumbra e vacas magras no Olímpico. Ao Inter, não veio só o Rio Grande, tão essencial num estadual que quase sempre é decidido pelo embate sagrado e enraizado até na cultura gaúcha, mas até glórias nacionais começaram a aparecer, já que o Brasileirão viria nos anos de 1975 e 1976. Ganhar do Inter, era, portanto, quase uma necessidade de sobrevivência naquele momento. Para isso, comandava o tricolor um tal de Telê Santana, que a história trataria de dar o devido garbo e grandeza posteriormente, mas que faria história naquele dia.


O duelo era no Olímpico, temido coliseu gremista que ganharia em poucos anos assustadora fama nacional como um lugar maldito que causaria medo até nos mais tarimbados exércitos da América do Sul. Naquele momento, porém, o Olímpico nada mais era que muro de lamentações tricolores, palco de vaias e dias tristes. Naquele 25 de setembro de 1977, peregrinavam colorados e tricolores em busca da glória estadual. Ao Inter, a continuidade dos anos de celebração que pareciam não acabar. Ao Grêmio, a tentativa do fim do inferno.

Quente, aquele Grenal já começou com falta em Iura com poucos segundos de jogo e uma primeira confusão. O Grenal, já diz o sábio, é um duelo onde o que menos parece importar é o futebol. O alívio tricolor parecia vir em pênalti marcado a favor dos gremistas, mas Tarciso, hoje ídolo e conhecido como Flecha Negra, bateu muito mal. A pressão finalmente rendeu resultando quando Caçapava tocou para Iura, que achou um lindo passe para André Catimba vir num "facão" e finalizar de trivela sem chances para o goleiro Benitez, aos 42 minutos. Ai, André Catimba virou André Cambalhota, já que o baiano tentou uma cambalhota aérea e acabou sentido novamente a lesão na coxa que quase o tirou daquela final, numa das comemorações mais desajeitadas da história, digna de um gol de importância histórica.

Na etapa final, o Inter tentou pressionar, mas não conseguiu chegar ao empate. Como era de se esperar quando se trata de um duelo deste tamanho, o jogo obviamente não terminou sem problemas. Aos 42', numa infração marcada pela arbitragem, começou uma invasão que a Brigada Militar Gaúcha não conseguiu conter da torcida do Grêmio, que obrigou os jogadores colorados a voltarem para o vestiário, alguns deles, como Escurinho, inclusive feridos. Sem poder voltar a jogar, o Inter acabou vencido na decisão e o carnaval gremista tomou conta do Olímpico Monumental e de toda a Porto Alegre. Quiçá, naquele momento, de todo o Rio Grande do Sul.

Melhores momentos da final

André Catimba faria outros 66 gols pelo Grêmio, deixando o tricolor com 67 gols marcados rumo ao Bahia. Passaria por diversos outros clubes até encerrar a carreira em 1984, no Fast Clube, passando até pelo Argentinos Juniors nesse meio tempo. O Tricolor, por sua vez, passaria a viver, a partir daquele momento, dias de glória. Campeão Brasileiro e da Libertadores nos anos 1980, passou a ser nos anos 1990 um dos times mais temidos da América do Sul, fazendo, como já disse, o Olimpico ser um local temido pelo Brasil e pela América do Sul inteira, fama que perdurou até a chegada da Arena. 

Há um que de um saudosismo meio irracional em algumas afirmações envolvendo Grenais. Há um saudosismo irracional em tudo que envolve o futebol na verdade para o torcedor. Mas, talvez nem seja tão mentira dizer que a história do Imortal, das três Libertadores, das cinco Copas do Brasil, de Portaluppi, de Jardel, de Luan, de Cebolinha, de Anderson no momento de aflição maior, toda a história que tarimba a trajetória do Grêmio mudou em 1977. Sabe-se lá Deus o que seria do Imortal Tricolor sem o título de 1977, se a cambalhota de André nunca acontecesse. Bom, o "se", não entra em campo. Portanto, foi uma cambalhota desajeitada a comemoração do momento que talvez tenha mudado para sempre a história do Grêmio e, por consequência, pois nada no GreNal vira sem que envolva os dois times, mudando para sempre também a do Inter.
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