Por Lucas Paes
A equipe do Chile de 1962, que fez história na Copa do Mundo
O futebol sul-americano possui em Brasil, Argentina e Uruguai suas três principais instituições e seus três times mais gloriosos e respeitados no mundo da bola. Além deles, Paraguai, Peru e Colômbia já chegaram também à fazer campanhas razoáveis em Copas do Mundo. Porém, a melhor campanha sul-americana de uma seleção que não seja as três gigantes foi do Chile, em 1962, quando a La Roja jogou a Copa do Mundo em casa.
A copa quase não aconteceu no Chile. O país passou, em 1960, pelo sismo de Valdívia, que foi o pior já registrado na história e atingiu quatro cidades-sede de maneira muito direta, matando entre 1 e 6 mil pessoas. Então, apenas quatro cidades receberam jogos. A competição ganhou a função de ajudar na reconstrução do ânimo da população chilena e a frase "Porque nada temos, lo haremos todo" virou o lema do país.
Talvez apoiada na idéia de renascimento, talvez por um momento de sorte, o Chile fez muito bonito na Copa do Mundo de 1962. Leonel Sanchez, Eladio Rojas e Jaime Ramirez eram os grandes destaques do time comandado por Luis Fernando Riera Bauzá. Numa época diferente do futebol, o time Rojo era formado totalmente de jogadores que jogavam em times chilenos. Acabou caindo no Grupo 2, ao lado de Alemanha Ocidental, Suíça e Itália. Uma chave complicadíssima.
A primeira partida chilena foi diante da Suiça, no dia 30 de maio, no Estádio Nacional de Santiago. A galera chilena viu Wurtrich abrir o marcador para a Suiça logo aos 6 minutos. Sanchez deixou tudo igual no apagar das luzes da primeira etapa, deixando a torcida esperançosa para a segunda etapa. Sentido o gol, os suíços viram o jogo se definir em apenas cinco minutos, com um gol de Sanchez aos 6' e um de Ramirez aos 10' da segunda etapa, terminando a estreia com uma vitória por 3 a 1.
No dia 2 de junho, também no Estádio Nacional, duelaram Chile e Itália, naquilo que ficaria conhecido como a Batalha de Santiago. Num jogo onde os italianos abriram a caixa de ferramentas, o Chile não deixou por menos e também fez um jogo duríssimo fisicamente. Num duelo onde se destacaram mais as botinadas do que as jogadas bonitas, La Roja pulou na frente aos 28', com Ramirez e Toro fechou o placar aos 42', todos os gols acontecendo no segundo tempo. David e Ferrini foram expulsos pela Azzurra, num jogo onde os italianos conheceram da pior maneira o clima de Libertadores da América e que inspirou a FIFA a criar os cartões vermelho e amarelo.
Quatro dias depois, no mesmo Estádio Nacional, o Chile acabou não sendo páreo para a Alemanha Ocidental, em jogo que definiu o primeiro colocado do grupo. Szymiak e Seeler fizeram os gols dos germânicos, que avançaram na primeira posição. Assim, todo mundo imaginou que a linda campanha chilena até ali acabaria, diante da União Soviética, campeã européia.
Assim, no dia 10 de junho, duelaram soviéticos e chilenos no Estádio Carlos Dittborn, em Arica. Apesar de favoritos, os russos viram o Chile pular na frente com Sanchez, a 11 minutos de jogo. Chislenko empatou aos 26', fazendo com que se imaginasse que a reação dos comunistas viria, mas Rojas não deixou os europeus respirarem, marcando o segundo gol e fechando o marcador, garantindo a histórica classificação chilena para a semifinal e fazendo com que os campeões europeus da União Soviética ficassem pelo caminho. No caminho do Chile viria o Brasil, atual campeão mundial e dono do melhor time do planeta naquele momento.
Pois o Estádio Nacional estava completamente lotado, naquele dia 13 de Junho, para tentar ajudar o Chile nessa batalha praticamente impossível. O futebol arte brasileiro contra o jogo físico do Chile. Os Canarinhos, porém, trataram logo de dizimar esperanças chilenas, com Garrincha fazendo 2 a 0 aos 9 e 32 minutos do primeiro tempo. Antes do fim da etapa inicial, Toro diminuiu o marcador. No começo do segundo tempo, Vavá, substituto de Pelé, marcou o terceiro. Sanchez até diminuiu de pênalti, mas o próprio Vavá fechou o placar e a classificação brasuca aos 33' do segundo tempo.
Ao Chile, portanto, ficou a decisão do terceiro lugar, que ocorreria diante da Iugoslávia, no Estádio Nacional mais uma vez lotado, no dia 16 de Junho. Até o apagar das luzes, tudo seguia igual no duelo, mas Rojas marcou, aos 45' da segunda etapa, o gol que deu ao Chile o terceiro lugar na Copa do Mundo de 1962, até hoje a melhor posição chilena em Copas do Mundo, mesmo com La Roja conseguindo montar ótimos times a partir dos anos 1990. Até hoje, os "heróis anônimos" de 1962 estão na história, mesmo com Sanchez, Valdívia, Vargas, Bravo e cia. Conquistarem a Copa América em casa em 2015 e manterem a sequência com o bi em 2016. O time de 1962 jamais será esquecido.
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