Por Lucas Paes
Joãozinho fez um dos gols mais importantes da história do Cruzeiro (foto: arquivo Cruzeiro)
O Cruzeiro é um dos times brasileiros mais temidos na América do Sul. Conhecido como La Bestia Negra, os celestes tem uma camisa que causa calafrios e pesadelos em diversos times sul-americanos e são o único time brasileiro que conseguiu vencer River Plate e Boca Juniors na Argentina. Toda dessa fama teve um primeiro capítulo em 1976. O gol decisivo daquela final, diante do River, foi de Joãozinho, um dos maiores ídolos da história do clube azul de Belo Horizonte.
Naquele ano, o Cruzeiro chegou a final após passar por um grupo com Inter, Olímpia e Sportivo Luqueño e bater LDU e Alianza Lima no triangular semifinal. O adversário na final era justamente o River Plate, numa época em que a decisão da Libertadores podia ser decidida em três jogos. O Cruzeiro bateu os Millonarios na primeira partida por 4 a 1. Mas, com a vitória argentina em Nuñez, a final foi para uma terceira partida, disputada em Santiago, no Chile.
Num jogo disputadíssimo, Nelinho fez 1 a 0 de pênalti e o Zeiro ampliou com Eduardo, num belíssimo chute. Entre os gols, Raul Plasmann, que já foi tema de texto aqui no site, fez uma defesa espetacular em ataque argentino. Mas o forte time do River não desistia e foi buscar o resultado. Primeiro, Más empatou em cobrança de pênalti polêmica e depois, em lance mais polêmico ainda, onde a equipe argentina cobrou uma falta ainda com o Cruzeiro reclamando, Urquiza aproveitou a desatenção da defesa e empatou, sob muita reclamação cruzeirense.
O jogo caminhava para o empate e a prorrogação, quando Palhinha saiu armando um escarcéu no meio da defesa do River Plate, sendo derrubado na entrada da área. O relógio já marcava mais de 42 minutos do segundo tempo. A chance era ótima, afinal a Raposa tinha Nelinho, dono de chutes magistrais e cobranças de falta absurdas. Porém, a situação não seria definida pelo homem que parecia ter uma mira de sniper no pé, e sim por um “garoto”, na época.
Joãozinho era o mais novo do time titular, tinha 22 anos na época. Já destacava-se por sua habilidade, que o levou a ganhar o apelido genial de bailarino. Num momento de total ousadia, que poderia se tornar imprudência, Joãozinho se adiantou a Nelinho, quando este voltava para se posicionar para a cobrança e bateu a falta com uma perfeição imensa, numa cobrança indefensável para qualquer goleiro. Um gol para a história, num momento de ousadia que podia custar um título, mas que acabou se tornando o primeiro passo de Joãozinho para virar um ídolo cruzeirense.
A irresponsabilidade quase custou caro, já que o rígido Zezé Moreira não queria que Joãozinho voltasse com o grupo para BH. O treinador ficou indignado com a indisciplina de Joãozinho e nem a conversa dos jogadores conseguiu fazê-lo mudar de ideia. O rígido técnico só abdicou da decisão de “abandonar” Joãozinho quando os jogadores deram o ultimato de que ou Joãozinho ia ou não ia ninguém. Ai, Zezé não teve escolha.
O bailarino ficaria até 1982 no clube, marcaria 116 gols em 482 jogos. Nenhum deles com a importância da falta no Estádio Nacional. Ainda que menos valorizada na época, a Libertadores de 1976 se tornaria futuramente a pedra fundamental em que se construiu a fama e o temor que o nome do Cruzeiro causa em terras sul-americanas. A história começava a ser escrita ali, tanto a do Cruzeiro gigante sul-americano como a de Joãozinho, o Bailarino, ídolo da “China Azul”.
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