Por Lucas Paes
Foto: divulgação
Madrid, capital da Espanha, país colonizador da América, será palco da final da Libertadores
A Libertadores que passou pelo caso Santos-Sanchez-Independiente, que teve o caso de Zuculini, que teve treinador suspenso invadindo o vestiário do time no intervalo e que por fim teve o episódio do ônibus apedrejado do Boca Juniors terminará de forma extremamente bizarra e sem sentido. A Conmebol, que sequer teve vergonha de admitir que fez um leilão, decidiu que a final da Copa Libertadores da América será em Madrid, na Espanha. Libertadores, da América, em Madrid. É sério.
A decisão de não fazer o jogo na Argentina, por mais polêmica que seja, fez sentido. Os acontecimentos vistos em Nuñez foram bizarros e o Boca tinha razão de pedir os pontos. Porém existiam muitas soluções possíveis que não tirassem o jogo da competição sul-americana do continente sul-americano. Que tirassem da América do Sul, fizessem então nos Estados Unidos, não seria tão bizarro quanto uma final de um torneio com nome de Libertadores da América ser decidido na Europa, não só na Europa como na capital da Espanha, país que colonizou noventa por cento do continente. Até o nome da competição perde o sentido. Não existe defesa para tal absurdo.
Não era preciso fugir do continente sul-americano. Se a Conmebol quer tanto insistir em jogo único, não havia um teste melhor. O maior clássico do continente sendo disputado em uma cidade diferente seria uma mostra de como a segurança atuaria, de como se colocariam duas torcidas rivais no mesmo estádio, seria um teste de diversos aspectos. Apesar do termo teste soar estranho, existem locais na América do Sul que teriam condições de sediar o jogo sem sofrer problemas, não era necessário ir a Madrid.
Não há nada a se dizer contra o Bernabeu em si. É um palco mitológico, galáctico, que carrega uma história gigantesca, mas é um palco europeu. Um palco da Liga dos Campeões, do Campeonato Espanhol, da Copa do Rey, da Copa da UEFA, da Supercopa, até da Copa do Mundo, mas não da Libertadores, não numa terra de colonizadores. Não fora do continente americano. Não houve sentido nessa decisão que ofende o orgulho latino americano e o próprio nome da competição. O nome é Libertadores da América, não Colonizadores da América.
A América do Sul tem, não custa lembrar, um país que sediou há pouco mais de 4 anos uma Copa do Mundo e que vai sediar uma Copa América. A Conmebol ignorou a candidatura de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, sendo que, tirando talvez a cidade carioca, que hoje vive um caos administrativo, são todas cidades que estão acostumadas com jogos grandes. Mesmo que a capital paulista tenha clássicos com torcida única nos últimos tempos, ainda não é tão estranho um esquema de segurança para um jogo de grande rivalidade. No Mineirão, menos ainda, pois até alguns anos atrás ainda existiam clássicos com estádio dividido meio a meio. No mais, quem quiser arrumar problema vai arrumar em Buenos Aires ou em Doha, a diferença é que nenhuma cidade brasileira se permitira uma logística extremamente amadora como foi a do jogo do Monumental. Não justificando o ato dos torcedores Millonarios, que é absolutamente injustificável, mas uma logística um pouco mais inteligente teria evitado o problema, afinal, pra que dar “sopa para o azar”, né polícia Argentina?
Se havia um temor tão grande do jogo ser na América do Sul, que não fugissem então do continente americano. Miami surgiu como candidata e por mais bizarro que fosse, seria menos pior do que levar o jogo para a Europa. Os Estados Unidos, ainda que distantes em todos os aspectos da América Latina, são um país colonizado. Um país acostumado a ter de fazer grandes esquemas de segurança não sofreria para fazer um River e Boca sem muitos problemas. Repetindo aqui o que eu disse anteriormente: quem quiser arrumar problema vai arrumar em Buenos Aires ou em Doha, o que diferencia uma boa segurança é evitar que quem arrumar encrenca arrume para quem só quer ver o jogo.
Não existe nenhuma justificativa para que a final decisiva da maior decisão da Libertadores em todos os tempos seja em Madrid. Nenhuma exceto a ganância. Não é possível justificar pela segurança, pela mística e nem mesmo por essa ladainha ridícula de identidade. Que o jogo fosse em Miami, que fosse em Chapecó, que fosse em Minas Gerais, em Assunção, em Santiago, que fosse até em Manaus, mas que fosse nas Américas, não fora do continente.
Levar uma decisão de Libertadores para a Europa é a pá de cal de uma confederação que não tem credibilidade, não tem idoneidade, não tem capacidade para nada e acima de tudo não tem respeito com a própria história. Hoje, com esta decisão, mais do que nunca, está justificada a hashtag #VerguenzaConmebol. A Libertadores que teria a maior final de sua história está virando cada vez mais motivo para ser esquecida, e boa parte disso se deve a quem organiza a competição. O circo de bizarrices da Libertadores da América termina da maneira mais cômica, ridícula e lamentável possível, com uma decisão que justificaria a mudança do nome para Copa Colonizadores da América. Definitivamente, a Conmebol, da forma como está hoje, tem que acabar.
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