Por Felipe Saúda
Cássio, Fagner e Geromel: apenas os três dos 23 convocados atuam no futebol brasileiro
“A seleção brasileira é do povo”! Ao longo dos meus trinta anos, sempre ouvi isso. Mais do que ouvir, em época de Copa do Mundo, este sentimento ficava ainda mais aflorado. Porém, não nego, nas últimas edições do maior torneio de seleções do mundo, o sentimento de patriotismo diminuiu consideravelmente, tanto que um dia me perguntei: “Por que isso”?
Talvez o maior motivo sejam as eternas ‘mutretas’ nas quais a CBF está sempre envolvida. À medida que fui crescendo e entendo mais sobre política, descobri que a Confederação Brasileira de Futebol, é apenas uma entidade privada que se aproveita do fato de o futebol ser uma paixão nacional para lucrar rios de dinheiro que passam longe de serem investidos na estrutura base do esporte bretão brasileiro.
Essa explicação já era mais do que suficiente para entender o meu distanciamento com a seleção brasileira, mas minha inquietação prosseguia. Continuei me perguntando: “O que mais me incomoda”? E cheguei a uma conclusão: a seleção canarinho não tem nada de brasileira.
1990: a primeira com mais 'estrangeiros'
As convocações eram recheadas de expectativas. Isso porque todo torcedor esperava ansiosamente a divulgação da lista para saber se o craque do seu time fora chamado. Até a Copa de 1986, a seleção sempre foi composta, em sua maioria, por atletas que desfilavam seu talento nos gramados brasileiros, o que, é claro, deixava o escrete ainda mais próximo do torcedor.
A Copa de 1990 foi a primeira em que tivemos mais ‘estrangeiros’ na lista. Dos 22, chamados pelo técnico Sebastião Lazaroni, 10 atuavam por aqui e 12 no exterior. Isso somado as contestações em torno do nome do treinador, transformou aquela seleção em uma das que menos teve empatia com o povo.
Em 1994, ano do tetra, os sinais de distanciamento prosseguiram. Dos 22 jogadores, 11 atuavam no Brasil, e outros 11 em clubes estrangeiros. A sensação de vazio só foi preenchida pelo fato de os comandados de Carlos Alberto Parreira erguerem a taça.
Em 1994, entre os 22 convocados, 11 do exterior e 11 do Brasil
Em 1998 veio a maior discrepância até então. Dos 22 chamados, apenas oito atuavam em terras tupiniquins. Meu incomodo com isso foi grande, e só aumentou depois do resultado devastador na decisão contra a França. O movimento de migração na seleção brasileira parecia algo inevitável.
Veio a Copa de 2002. Aquela seleção era diferente. Talvez as dificuldades vividas no caminho até a Coréia e o Japão tenham reforçado meu laço afetivo com a família Scolari. A lista de convocados representava uma esperança de quebra em algo que parecia inevitável: uma seleção cada vez mais estrangeira. Dos 23 chamados, 13 jogavam o Campeonato Brasileiro e os outros 10 estavam espalhados pelo mundo. A história, todo mundo sabe: o Brasil foi Penta.
Em 2006, toda aquela esperança de ver uma seleção ser de fato brasileira se quebrou completamente. O poderio econômico do futebol europeu, aliado a uma maior abertura para a chegada de estrangeiros estabeleceu uma regra. A partir de então, os melhores jogadores brasileiros não estavam mais por aqui. E isso era cada vez mais inevitável. Dos 23 convocados, somente três atuavam no futebol brasileiro.
Em 2002, a última vez com mais jogadores atuando no futebol brasileiro
Em 2010 e 2014 o fenômeno se repetiu e passou a ser uma regra nas listas. Chegamos a 2018 e batemos o recorde. Assim como em 2006 e 2010, a seleção de Tite tem somente três jogadores atuando no Brasil, e isso, naturalmente afasta o torcedor do time. Afinal, o brasileiro, muitas vezes tem o hábito de torcer primeiro para o jogador do seu clube, depois para a seleção. Detalhe: os três chamados (Cássio, Fagner e Geromel) já atuaram fora do país no passado.
Entendo sim que os melhores jogadores brasileiros atuam lá fora, pelos motivos aqui já citados, e defendo sim que o técnico da seleção escolha sempre os melhores. Mas devo admitir, mesmo que concorde com a lista, não me sinto representado por esses jogadores, e a continuar como a coisa está, dificilmente voltarei a sentir que a seleção brasileira é de fato nossa.
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