A eterna Bulgária de 1994

Por Lucas Paes 

Poucos esperavam que a Bulgária conseguisse chegar à semifinais daquela Copa do Mundo

A Copa do Mundo é um torneio propenso a surpresas. Em praticamente todas as edições mais recentes do mundial tivemos algum time “azarão” que surpreendeu e foi longe, desde a alucinante e carismática Costa Rica de Bryan Ruiz, Navas, Campbell e cia. Até o Camarões de 1990. Mesmo em tempos mais antigos, tivemos exemplos como os Estados Unidos, semifinalistas em 1950 e 1930 e a Coréia do Norte, obscura pela sua realidade, porém ofensiva e sem muita preocupação com a defesa em 1966. Entre essas surpresas, uma das mais marcantes é a Bulgária, em 1994. 

Não foi a primeira copa dos búlgaros, que jogaram em 1962, 1966, 1970, 1974, 1996, a de 1994, tema deste artigo, e em 1998, a última vez. Porém, a campanha nos Estados Unidos foi especial. Só para se ter uma ideia, apenas em 1994 é que a Seleção Búlgara ganhou jogos no torneio mais importante do futebol mundial.

A classificação dos “Demônios da Europa” já é algo épico por sí só. Em um grupo das eliminatórias onde França e Suécia tinham enorme favoritismo, a Bulgária tirou a vaga da França na última rodada, numa traumática experiência que já foi tema de texto aqui no site. Assim, Stoichov e seus companheiros chegavam ao mundial.

Grande nome da geração, Stoichkov foi um dos artilheiros

O sorteio apontou que a Bulgária estaria no Grupo D, junto com Nigéria, Argentina e Grécia, o máximo que se esperava dos búlgaros era um terceiro lugar, classificando-se talvez como um dos melhores. E a estreia da equipe, no dia 21 de junho daquele ano de 1994, em Dallas, deu razão as dúvidas. Diante de um bom time nigeriano, Stoichov, Ivanov e cia. mal viram a cor da bola e levaram 3 a 0. O começo dava indícios de que o time búlgaro não ia longe. 

Apenas cinco dias depois e já com a água começando a bater no pescoço, os búlgaros foram até Chicago enfrentar a Grécia, um dos times mais fracos daquela copa. Logo com cinco minutos, Stoichov fez o primeiro, de pênalti. O camisa 8 fez o segundo já na etapa final, com 10 minutos, também em cobrança de pênalti. Lechkov e Borimirov fizeram os outros dois gols do passeio, que voltou a dar chances de vaga aos Demônios. 

Na última rodada, o Cotton Bowl de Dallas estava lotado e viu uma belíssima partida da Bulgária. Contra uma Albiceleste que sofria com a ausência do lendário Maradona, pego no exame antidoping, o primeiro gol veio em rapidíssimo contra ataque que foi finalizado por Stoichov, aos 15’ do segundo tempo. O segundo veio em um torpedo de cabeça de Sirakov, após escanteio cobrado da direita do ataque búlgaro. O grupo terminou com a liderança da Nigéria, seguida justamente pela turma de Stoichov e cia. Em terceiro, surpreendendo negativamente, a Argentina.

A Bulgária venceu, na Copa, a Argentina e a Alemanha (foto)

Nas oitavas de final, o adversário da Bulgária seria o México, que tinha entre outros o lendário goleiro Jorge Campos, dos uniformes chamativos. Num jogo de começo muito agitado, o placar já tinha se definido aos 18 minutos do primeiro tempo. Aos 6’, Stoichov, sempre ele, colocou a Bulgária na frente, em jogada bonita de contra ataque. Mas Aspe empatou para o México, de pênalti. Sem mudanças na prorrogação, a definição foi na marca da cal e o México parou duas vezes em Mihaylov, além de uma cobrança para fora e acabou derrotado por 3 a 1. 

Nas quartas de final, veio o que talvez foi o maior jogo daquele time. A adversária era nada mais nada menos que a Alemanha, atual campeã, dona de um favoritismo gigante e de um time que contava com nomes de peso como Klinsmann, Matthaus, entre outros. O histórico Giants Stadium seria palco de uma façanha. Aquele 10 de Julho colocou frente a frente equipes com ideias de jogo diferentes, o ofensivo futebol da seleção búlgara contra um time alemão extremamente competente em sua defesa. 

O jogo, porém, foi aberto, com chances para os dois lados. Mas os gols viriam só na etapa final. Logo no segundo minuto, Klinsmann sofreu pênalti e Matthaus colocou os germânicos em vantagem. Destacando-se no jogo, Hassler ainda acertaria uma bola na trave antes de sair, numa alteração que matou o Nationalelf. Aos 30’, o empate veio com uma belíssima cobrança de falta de Stoichov, um golaço. O segundo vem pouco tempo depois, com Iankov lançando para a área e o carequinha Lechkov fazendo o gol da classificação.

Os búlgaros perderam na semifinal para a Itália

O sonho do inédito título mundial, porém, morreu nas semifinais. De novo jogando no Giants Stadium, os búlgaros não foram páreo para Baggio. O lendário jogador italiano fez os dois gols da classificação azurra. Stoichov, sempre ele, fez o gol de honra da Búlgaria. Ele terminou como um dos artilheiros do torneio, com seis gols, empatado com Salenko, da Rússia. Na decisão do terceiro lugar, sem contar com seu artilheiro, a Bulgária acabou goleada por 4 a 0. Ainda assim, o quarto lugar entrou para a história do país, que jamais fez algo sequer parecido em qualquer competição. 

Com quase a mesma equipe, a Seleção Búlgara ainda jogou a Eurocopa de 1996, onde decepcionou e acabou eliminada na primeira fase, num grupo que tinha a Romênia, outra surpresa da Copa do Mundo de 1994, a França e a Espanha, que se classificaram. Em 1998, ainda com Stoichov no time, os Demônios da Europa chegaram ao seu último mundial, mas terminaram com apenas um ponto, eliminados na primeira fase. Deste então, a Bulgária nunca mais foi à uma Copa do Mundo, mostrando o tamanho do feito de Stoichov, Lechkov, Ivanov e Cia.
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