O Pacaembu na Copa do Mundo de 1950

Por Victor de Andrade

Uruguai e Espanha jogando na abertura do quadrangular final da Copa de 1950 no Pacaembu

Templo do futebol paulista e um dos estádio com mais histórias em todo o mundo, o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, ou simplesmente Pacaembu, é um dos cartões postais da cidade de São Paulo e palco de grandes partidas desde o dia 27 de abril de 1940, quando ele foi inaugurado.

Talvez o evento mais importante em que o Pacaembu sediou partidas tenha sido a Copa do Mundo de 1950. Chamado na época apenas de Estádio Municipal (o Paulo Machado de Carvalho veio depois), ele foi palco de seis partidas da competição, sendo três na primeira fase e mais três no quadrangular final. Depois do Maracanã, no Rio de Janeiro, construído especialmente para o evento, o Pacaembu foi a sede mais importante da competição. Confira os jogos que aconteceram no estádio:

SUÉCIA 3 X 2 ITÁLIA
25 de junho de 1950

A Suécia fez grande jogo e derrotou a Itália

Então atual bicampeã da competição, tendo vencido em 1934 e 1938 (não houve Copa do Mundo na década de 40, devido à Segunda Guerra Mundial), a Seleção Italiana havia tido um grande baque. Um ano antes, a delegação do Torino, melhor time do país naquele momento, sofreu um acidente aéreo. Isto deixou a Azzurra mais frágil e ainda influenciou na logística: foi a única seleção europeia que veio ao Brasil de navio, já que todas as outras usaram o avião.

Para piorar a situação da Itália, que estava no Grupo 3, a estreia foi contra a Suécia, campeã do Torneio de Futebol Olímpico em 1948, em Londres. Porém, a grande colônia italiana em São Paulo lotou o Pacaembu, com quase 50 mil pessoas, e viu um grande jogo. Carapellese, aos 9', colocou a Azzurra na frente. Porém, Jeppsson, aos 25', e Andersson, aos 33', viraram o jogo ainda na primeira etapa. No segundo tempo, novamente Jeppsson, aos 23', fez 3 a 1 para os suecos. Muccinelli, aos 30', ainda marcou, mas não evitou a derrota da Itália por 3 a 2.

BRASIL 2 X 2 SUÍÇA
28 de junho de 1950

O Brasil com alterações em relação à estreia para agradar aos paulistas

Já pela segunda rodada da Copa do Mundo, a Seleção Brasileira fez o seu único jogo no Pacaembu em todo Mundial. O time da casa havia estreado quatro dias antes, no Maracanã, vencendo o México com facilidade: 4 a 0. Do outro lado, a Suíça queria se recuperar na competição, já que havia sido derrotada pela Iugoslávia por 3 a 0 na estreia. Porém, os suíços apostavam em seu já famoso ferrolho para atrapalhar as pretensões brasileiras.

Logo de cara, uma surpresa. Para agradar a torcida paulistana, o técnico Flavio Costa fez algumas alterações, colocando a linha média do São Paulo FC como titular, com Bauer, Ruy e Noronha, e Baltazar, do Corinthians, no ataque. Isto atrapalhou o entrosamento da Seleção Brasileira, que mesmo assim saiu na frente logo aos 3', com Alfredo. A Suíça empatou aos 17', com Fatton, mas Baltazar colocou o Brasil na frente, aos 32'. No segundo tempo, o time da casa tentou controlar o jogo, mas novamente Fatton, aos 43', empatou o jogo, deixando um clima de dúvida na torcida.

ITÁLIA 2 X 0 PARAGUAI
2 de julho de 1950

Arbitragem e os capitães de Itália e Paraguai

Um dos jogos mais sem graça de toda a competição. Apesar de ser uma das grandes seleções do mundo, a Itália chegou para esta partida sem chances de classificação para a segunda fase, já que a Suécia, além de vencer a própria Azzurra, empatou com o Paraguai em 2 a 2. Aliás, era a Albirroja que ainda tinha alguma esperança na competição. Caso ganhasse, forçaria um jogo desempate contra os suecos.

Porém, os italianos acabaram com todas as chances do Paraguai. Querendo se despedir da competição com dignidade e contando novamente com o apoio da colônia de seu país em São Paulo, que mesmo sem chance, colocou cerca de 26 mil pessoas no Pacaembu, a Azzurra fez 2 a 0, com gols de Carapellese, aos 12' do primeiro tempo, e Egisto Pandolfini, aos 17' da etapa complementar. Assim, a Itália terminou a Copa com uma vitória e garantiu a Suécia na fase final.

ESPANHA 2 X 2 URUGUAI
9 de julho de 1950

Ghiggia abrindo o marcador no jogo entre Uruguai e Espanha

O quadrangular final da Copa do Mundo de 1950, aliás, o único Mundial onde o título foi decidido desta forma, foi realizado com jogos no Maracanã e no Pacaembu. O Brasil jogou todas as partidas no Rio de Janeiro e, assim, o outro embate da rodada sempre era realizado em São Paulo, no mesmo horário das 'pelejas' em terras cariocas. Assim, no aniversário de 18 anos da Revolução Constitucionalista de 1932, Espanha e Uruguai faziam o primeiro jogo das finais.

A Celeste Olímpica, que teve sorte e caiu no grupo onde tinha apenas uma adversária, a Bolívia, chegou ao quadrangular com uma goleada por 8 a 0 e abriu o marcador aos 29', com Ghiggia. Porém, a Fúria, que venceu o Grupo 2, tendo batido a favorita Inglaterra, por 1 a 0, virou o jogo com gols de Basora, aos 32' e 39'. Quando a Espanha já se achava com a vitória garantida, Obdulio Varela, aos 28', fez o gol do empate uruguaio. Aliás, este gol da Celeste foi importantíssimo na conquista do título, pois este foi o ponto a mais que garantiu a taça.

URUGUAI 3 X 2 SUÉCIA
13 de julho de 1950

O Uruguai virou no segundo tempo e venceu a Suécia

Se no jogo anterior no Pacaembu, o Uruguai conquistou o ponto que mais a frente garantiu o título, foi no jogo contra a Suécia que a Celeste provou que pode buscar resultados adversos, por mais que todos a considerem morta. Enquanto no mesmo horário o Brasil destruía a Espanha no Maracanã, fazendo incríveis 6 a 1 e se credenciando como favorita ao título, já que tinha feito 7 a 1 na Suécia, cerca de somente 8 mil pessoas acompanhavam e partida no Pacaembu.

E quem foi ao Estádio Municipal naquela tarde não se arrependeu, já que foi um embate muito emocionante. Palmer, logo aos 5 minutos, abriu o marcador para os suecos. Os uruguaios empataram aos 39', com Ghiggia, mas nem tiveram tempo para comemorar, já que Sundqvist, logo em seguida, fez o segundo da Suécia. Mostrando a tradicional garra uruguaia, a Celeste foi buscar o que poucos achavam provável. Com dois gols de Míguez, aos 32' e 40' do segundo tempo, o Uruguai foi para a última rodada com chance de conquistar o seu segundo título mundial.

SUÉCIA 3 X 1 ESPANHA
16 de julho

A Suécia abriu 3 a 0 e tomou um gol da Espanha no fim

Como a Espanha tinha apenas um ponto e a Suécia nenhum no quadrangular final, esta partida valia apenas como decisão do terceiro lugar da Copa do Mundo. Tá certo que a Espanha ainda poderia ser vice, mas como o título já não era mais possível, o embate não chamou tanto a atenção. Mesmo assim, 18 mil pessoas, muitas da colônia espanhola em São Paulo, preferiram ir ao Pacaembu do que ficarem em casa ou nos bares escutando o jogo do Maracanã, que definiria o campeão, já que os dois jogos foram no mesmo horário.

Enquanto o Uruguai virava o jogo para cima do Brasil e conquistava o seu segundo título mundial, a Suécia mostrava mais vontade que a rival Espanha e abriu 2 a 0 logo no primeiro tempo, com gols de Sundqvist, aos 15', e Mellberg, aos 33'. Na segunda etapa, a Suécia jogou a 'pá de cal' aos 35', com o terceiro gol, de Palmer. Zarra, aos 37', marcou para a Fúria, mas os suecos, campeões olímpicos, já tinham garantido o terceiro lugar na Copa do Mundo, na despedida do Pacaembu no Mundial.
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