Por Giovanni Romão
Os eternos campeões de 1977, que até hoje são lembrados com carinho pelos indaiatubanos
Na segunda parte do especial de 40 anos do título de 1977 do Esporte Clube Primavera, veremos o depoimento do eterno autor do gol do título de 77, Luiz Antônio Almeida (também conhecido como Teleco), do lateral Jacques Santos, e do torcedor Wesley Cortez, que contam mais sobre seu sentimento de relembrar essa conquista 40 anos depois, a importância dessa conquista para o Tricolor Indaiatubano.
Jacques Santos
“02 de março de 1978. 40 anos daquele título de campeão paulista. Momento histórico do Esporte Clube Primavera. Eu, Jacques Santos, muito emocionando relembrando daquela final em Garça contra o Beira Rio de Presidente Epitácio. Jogo tenso, pegado, para nós era uma grande responsabilidade. Indaiatuba estava em silêncio. Nossos torcedores ouviam a partida pela rádio. Instalaram um auto falante na praça do centro da cidade para o pessoal acompanhar o jogo. Quando o Teleco fez o gol, a cidade entrou em festa, gente chorando, se abraçando, enquanto lá em Garça a gente (jogadores) comemorava muito dentro do vestiário.
Nosso presidente, o grande Ítalo Mário Limongi, chorava muito, o diretor Kokada, a diretora Cleunice, o Paqueiro, Carcará nosso roupeiro. Era uma loucura total! Estas cenas ficaram na minha memória durante todas essas 4 décadas, e hoje para minha felicidade, eu que pensava que essa conquista estava esquecida no tempo, no meu retorno a Indaiatuba, fui surpreendido por uma grande recepção de torcedores da torcida organizada do Primavera (Terror Fantasma), me agradecendo pelo título de 1977. A atitude deles me emocionou muito, pois nenhum integrante ali era nascido na ocasião, contudo pareciam que estavam vivos naquele lindo momento do título de 77. Chorei muito, e me emociono até hoje, e para sempre. Me sinto o Jacques da Terror. E aos torcedores primaverinos de todas as gerações, esse título é para vocês! 40 anos desse grande título! Meu grande amor a esse clube!”
Momento descrito por Jacques Santos, a homenagem da Torcida Organizada Terror Fantasma ao atleta, no jogo Primavera x União Rondonópolis/MT, pela Copa São Paulo de Futebol Junior 2017
Wesley Cortez
"Eu acho que essa conquista foi um grande passo para a história do Primavera, pois foi a primeira conquista na era profissional, consolidando a participação frequente do clube no futebol profissional, uma vez que o Fantasma da Ituana havia retornado aos gramados pelo Campeonato Paulista em 1976, 18 anos desde a até então sua última participação, pela Terceira Divisão. Infelizmente não pude acompanhar esse time na época, mas conheci muitos jogadores daquele título como o Jacques, Tonho, Teleco, e outros, que estiveram recentemente no jogo master entre os veteranos do Primavera contra os veteranos do Palmeiras.
Meu avô falou muito sobre esse time, meu pai também falava histórias lindas desse time, e de fato foi um time que orgulhou a cidade, que trouxe o primeiro título profissional ao clube e colocou Indaiatuba no mapa do futebol paulista. Por isso, foi uma conquista imensurável até hoje, porque mesmo com os títulos de 1995 e 2001, não foram com a mesma emoção que teve em 1977. Todo torcedor primaverino, ao lembrar do dia 02 de março de 1978, sabe que se o time está hoje na ativa, se deve muito a esse título importante."
Teleco
“Chegando ao Clube, minha vontade em jogar no E.C Primavera era enorme, pois a imagem que sempre tive deste Clube era das melhores, sendo gerido por ótimos diretores, em especial na pessoa do Sr. Hélio Milani.
Fazia amistosos e ia para a Secretaria tentar resolver a minha situação, porém não havia acordo financeiro. Foram várias idas e vindas a Secretaria e as propostas conforme o meu rendimento iam aumentando por parte dos diretores. Até que um dia acertamos as bases do meu salário.
Me lembro que o Kokada, uma pessoa batalhadora e que realmente gostava do Primavera e também um dos diretores exclamou: “UFA!!! Até que enfim...”. Em seguida eu disse: “Só preciso de uma cláusula a mais...”. E os diretores: “O que seria?”. Um deles em especial afirmou: “Putz, quando tudo parecia estar resolvido...”.
Então comentei: “Gostaria que fosse acrescentado no contrato que caso o E.C Primavera seja campeão, terei um prêmio pela conquista. Me questionaram o motivo pelo qual eu queria ter isso no meu contrato. Eu respondi que acreditava na conquista deste título, pois a equipe era muito boa, unida e um celeiro de grandes jogadores. O tempo só viria confirmar as minhas estimativas!
Foram muitas vitórias e muitos gols marcados. Muitas alegrias! A torcida do Primavera abraçou a nossa equipe, seja nos jogos em casa ou fora, sempre nos apoiando em grande público. Não ouvíamos uma vaia sequer. Apenas aplausos e gritos de incentivo. Com certeza, os torcedores foram fundamentais para que chegássemos a conquista do título.
Quando cheguei para disputar o título, a ansiedade para conquista-lo obviamente era grande por se tratar de um jogo importante para mim e para o Clube. Tratava-se de um trabalho longo de uma temporada, desde o dia em que assinei o contrato. No entanto, demorei para assinar o meu vínculo com o Primavera, fui um dos últimos jogadores ou o último (não me recordo direito).
Decisão: 1º e 2º Jogos - Primeiro jogo fora, cidade longe. Um calor insuportável. Derrota para o Beira Rio de Presidente Epitácio por 1 a 0. No jogo de volta, em Indaiatuba, com o estádio completamente lotado, vencemos por 1 a 0. Gol de Marcos Jacaré.
3º Jogo: Jogo decisivo. Emoção do Gol! - O jogo foi em Garça, campo neutro. Adversário difícil. Os detalhes definiriam o vencedor. Eu sempre tive uma particularidade: “Quando jogava estava sempre preparado durante os 90 minutos, porque aparecendo uma oportunidade de gol, eu estava preparado para converter. Não ficava assustado ou amedrontado com esta situação.
O primeiro tempo acabou 0 a 0. No segundo tempo, aos 32 minutos, em uma jogada do lado direito do nosso ataque, houve um cruzamento rasteiro. Eu vindo detrás na corrida, no bico da área pequena antecipei o zagueiro, dando um carrinho (não era o meu estilo por sinal); nós dois caímos e consegui dar um toque na bola, ela cruzou rasteira e... GOL, GOL, GOL!!!. Que emoção. Todos os jogadores correndo me abraçar. Todos na mesma sintonia da emoção do Gol. No bolo dos abraços, um dos meus companheiros observou: “Falta pouco, falta pouco”.
Quando escutamos o apito final do árbitro... Só comemorar. É campeão. É campeão!!! Uma mistura de emoções me preenchia naquele momento. O que eu pressentia lá atrás aconteceu. O respiro do dever cumprido. Cada um dos jogadores a sua maneira comemorava muito. Nos vestiários, abraços, muita alegria. Algo indescritível. Em Indaiatuba, pura euforia. Não tínhamos a noção da festa que assolava a cidade. Todos ligados na Rádio Convenção de Itu. Viemos a saber de tudo isso depois.
Nossa viagem de volta foi longa. Quando chegamos, os torcedores primaverinos nos recepcionaram, em frente ao nosso Estádio com muita, mas muita alegria pela conquista também deles, e não apenas nossa. Para comemorarmos fomos jantar no Restaurante do Piloto, grande pessoa. Diretores, torcedores e nós jogadores estávamos lá. Memorável!!!
Até hoje, quando encontro com o “Trinca”, zagueiro do XV de Novembro, ele lembra daquele gol contra o XV, no 1º jogo do campeonato, no Estádio Ítalo Mário Limongi, dérbi da cidade. Ele sempre me diz que eu estava impedido. Resultado: 1 a 0 para nós. O destino quis assim. Fui abençoado e escolhido para marcar o primeiro gol do campeonato e da final. Entre tantos marcados no campeonato pelo Airton, Tonho, Marcos, Ricardo Dourado, Luquinha e outros.
Ficar na história - O gol da final veio premiar a bela equipe que tínhamos, dentro e fora dos gramados. Desde o roupeiro até os diretores. Todos ficaram na história deste grande Clube que tive muita satisfação em vestir a camisa. Realmente, foi uma temporada incrível! Agradeço a todos! Em especial ao Sr. Presidente Ítalo Mario Limongi, uma pessoa ímpar, de caráter e honestidade digna de ser registrada. Nossos acertos eram verbais, e ele sempre cumpriu todos. E não poderia deixar de agradecer também a cidade de Indaiatuba e aos torcedores pelo carinho e apoio incondicional.
Agradeço também de forma especial o Sr. Bigode, o responsável por cuidar do gramado, chuteiras, bolas, etc. E as Tias, que proporcionavam as nossas refeições. Obrigado!
As marcas do gol - Há alguns anos estava na torcida do Veteranos Saltenses, um clube daqui de Salto, que jogava contra uma equipe de Indaiatuba. De repente, um senhor veio ao meu encontro e perguntou se eu lembrava dele. Me desculpando disse que não. Ele disse então todo orgulhoso. Eu sou aquele garotinho que ficava de gandula atrás do gol. Então eu respondi: Aquele de camiseta amarela? E ele disse: Sim. Demos um forte abraço. Confesso que foi recheado de muita gratidão e daí o papo rolou.
Alguns personagens da conquista de 1977. Na ordem: Piteira, Tonho, Luquinha, Jacques,
Aldo, Teleco, Wilson (quem montou o elenco campeão), Ricardo Dourado e Jeferson
A mais recente - Estive com dois amigos assistindo ao jogo entre Primavera e Atibaia pela Copa São Paulo de Futebol Jr. Casa cheia. Cerca de 8.000 torcedores. E o destino iria proporcionar...
No intervalo, meus dois amigos desceram da arquibancada e eu fiquei. Logo, surgiu um espaço na torcida. De repente surgiu um senhor com a camisa do Primavera e timidamente nos cumprimentamos, sentou ao meu lado. Eu, então procurei fazer amizade e disse que daqui a pouco o Primavera faria um gol. Daí ele começou a falar sobre o Clube, que tinha um acervo da história do Primavera e que era uma pena a torcida de hoje não acompanhar a equipe profissional.
Meu novo amigo de torcida continuou relembrando as equipes de 1982, de 1977, quando começou a relembrar o nome de alguns jogadores: Serginho, Jacques, Alemão, Joãolão, Piteira, Lucas, Ricardo Dourado, Marcos Airton, Tonho e o meu (Teleco). Fiquei surpreso dele lembrar de tudo isso. Eu então disse que lembrava muito desta época e do jogo contra o Beira Rio de Pres. Epitácio, porque havia jogado aquele jogo. Ele estarrecido comentou: Você jogou? Eu disse que sim e que era o Teleco. Ele na hora lembrou do gol que eu havia marcado naquela grande final, como também me revelou que tinha 12 anos na época, e que lembrava do número da camisa com a qual eu jogava, a 8. Já eu tinha 23 anos.
O jogo recomeçou e nós mais conversávamos do que assistíamos ao jogo. Ficamos relembrando daquela época áurea. O nome do meu mais novo amigo primaverino: Sr. Roberto Barce, o qual também agradeço pelo apoio naquela época, como também em manter viva as histórias do E.C Primavera.
Abraços especiais aos atletas/amigos do elenco, Comissão Técnica, Diretores, Conselheiros que com o objetivo maior e união da proposta de todos , conseguimos este tão almejado título de 1977. E a grande massa da torcida Primaverina, nossa resposta de gratidão e eterna consideração. Obrigado a todos.”
Lindo.demler
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