Por Lucas Paes
A primeira edição de Placar: um marco no Brasil
Em 1970 o futebol brasileiro vivia um dos seus períodos áureos. A Seleção Nacional era o melhor time do mundo e tinha entre seus destaques jogadores do naipe de Jairzinho, Pelé, Rivelino, entre outros. Na política, o país vivia um triste momento, em meio a uma ditadura que começava sua era mais violenta. Em meio a tudo isso, o esporte mais popular brasileiro não contava com nenhuma revista especializada nele. Iniciada com periodicidade semanal, a Editora Abril lançou a Placar, que venderia uma altíssima quantidade já na primeira edição e só aumentaria de popularidade nos anos seguintes, sendo uma das maiores publicações da história do país.
Entre as bandeiras defendidas pela publicação na época de seu lançamento, estava a modernização da cartolagem do futebol brasileiro. Na capa da primeira edição, figurava Pelé, o Rei do Futebol. A matéria mais destacada mencionava o pior momento da Seleção Brasileira naqueles anos. Logo de cara, uma reportagem sobre problemas com o treinador João Saldanha, o popular João Sem Medo, devido ao seu temperamento instável e a diversos episódios complicados envolvendo o técnico da seleção.
Entre as propagandas da época, destaque para a Monark, marca popular de bicicletas brasileira e a “convocação” para apoiar a seleção da Exprinter, empresa de turismo. Nesta propaganda, um dos endereços constados era no centro de Santos, mais precisamente na Rua General Câmara, número 20. Peculiaridades de uma época que tanto o autor desse texto quanto a maioria de vocês que estão lendo não viveu.
Em outro momento, há uma coluna fazendo uma crítica quanto a falta de um “leão” naquela seleção. Ou seja, um jogador que jogasse duro. Mas, um dos momentos que mais chama a atenção é uma matéria sobre George Best, que segundo a própria: “Dribla como Garrincha, faz gols como Tostão, tem a genialidade de Pelé, chuta com a precisão de Edu.”. Best mereceria um texto separado no portal por ser um jogador extremamente peculiar e sim, importante na história do futebol. Porém, o que chama atenção é uma reportagem sobre o futebol europeu numa época em que boa parte dos times de lá era de fato inferiores aos daqui e o futebol inglês estava longe da popularidade de hoje em dia. A matéria dá uma ótica interessantíssima sobre talvez o primeiro jogador que foi também um fenômeno midiático fora do futebol por motivos não relacionados ao desempenho em campo.
Mas nem só de futebol vivia a Placar. Apesar de ser uma nota curta no meio da revista, havia uma matéria destacando a vitória do brasileiro João Henrique sobre o americano Roy Wilson. João foi o primeiro a derrotar o “yankee” por nocaute. Além dela, também havia outra reportagem com o piloto brasileiro Luis Pereira Bueno, conhecido como Luizinho, que ia correr na Fórmula 5000.
Enfim, a revista completa pode ser acessada neste link. A viagem temporal vale muito a pena para qualquer fã de futebol ou de esportes e para qualquer estudante de jornalismo ou jornalista. O portal Google Books possui outras revistas de diversos estilos disponíveis em seu acervo, incluindo outras edições da Placar. A publicação da Abril começou uma história que dura de certa forma até hoje. Nos dias atuais, a Placar foi absorvida pelo Grupo Veja de Comunicação, voltando com isso ao Grupo Abril. Hoje, entrando em outras mídias, principalmente na internet, a revista já não tem o mesmo charme de outras eras. A história, porém, ninguém apaga e a narrativa que começou em 20 de Março de 1970 enche páginas de uma epopeia que sempre será importante para a história do jornalismo esportivo brasileiro.
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