11 grandes nomes do Centenário da Portuguesa Santista

Por Victor de Andrade


A Associação Atlética Portuguesa, a mais Briosa de Ulrico Mursa, está em festa. Neste 20 de novembro de 2017, o clube está completando 100 anos de fundação. Uma história rica desta tradicional agremiação, tão importante para o futebol de Santos e do estado de São Paulo.

Ao longo destes 100 anos, vários jogadores vestiram a camisa da Portuguesa Santista. Muitos se destacaram com o manto Rubro Verde e conquistaram títulos ou fizeram boas campanhas pela equipe. Outros, alçaram voos ainda maiores, chegando até à Seleção Brasileira. É, mesmo sendo considerado um time pequeno, a Briosa já teve até jogador na Copa do Mundo.

Não foi fácil escolher 11 atletas e um treinador para formar um time que resumiria a história do clube. E nesta seleção não está simplesmente os melhores que já vestiram a camisa Rubro Verde. Para a escolha, foi levada em consideração a importância do atleta em sua passagem pela equipe, na história do futebol e os voos que ele alcançou em sua carreira.

É claro que terá algumas discussões do tipo: "está faltando tal jogador". Esta seleção não tem a pretensão de ser dona da verdade.  Eu mesmo tive dúvidas em várias posições e se talvez eu for fazê-la novamente, poderá ter mudanças. Jogadores como Fernando, Marçal, Arouca, Ratto, Pereirinha, Arizinho, Zinho, Tico Mineiro e Souza ficaram de fora. Até treinadores importantes como Vicente Feola, Manga, Papa, Muricy Ramalho, Pepe e Ricardo Costa não constaram na decisão final. Também foram feitas pequenas improvisações para chegar nesta equipe. Mas que estes 11 atletas e o treinador foram importantes na história da Briosa, isto não se tem dúvida. Então vamos à eles:

LAÉRCIO

Na capa do Mundo Desportivo,
antes de um jogo contra o São Paulo

Aqui já tivemos uma primeira dúvida, pois grandes arqueiros defenderam a meta Rubro Verde, mas escolhi Laércio José Milani. Nascido em Indaiatuba, Láercio começou no Primavera, de sua cidade, com apenas 15 anos. Em 1948, ele se destacou em uma série de amistosos contra a Briosa e foi contratado. Chegando em Santos, ele iniciou sua trajetória de sucesso, tomando a posição de Andu e fazendo atuações magistrais.

Seguro e acrobático, ao mesmo tempo, Laércio passou a ser considerado um dos melhores da posição do futebol paulista e chamou a atenção de diversos clubes. Foi sondado pelo Vasco da Gama, mas foi o Palmeiras que o contratou em 1954, depois de uma longa negociação. Em 1957, voltou para a cidade de Santos, para defender o time Alvinegro, onde encerrou a carreira em 1969. Laércio faleceu em Santos, em 1985, vítima de infarto.

BALU

Balu é o quinto em pé na formação do time de 1996

Nascido em Castro Alves, na Bahia, em 28 de dezembro de 1961, Luís Carlos Reis, o Balu, começou no futebol na própria Portuguesa Santista. Se caracterizava por ser um lateral direito forte, que equilibrava marcação e apoio. Após boas apresentações na Divisão de Acesso Paulista, Balu foi contratado, ao final de 1984, pela Ferroviária. No ano seguinte, continuou bem na equipe de Araraquara e o Cruzeiro foi buscá-lo.

No time azul de Minas Gerais, Balu teve o auge na carreira. Ganhou a Bola de Prata da Revista Placar em 1989 e era considerado um dos melhores laterais-direitos do país, chegando à Seleção Brasileira em 1990, convocado por Paulo Roberto Falcão. Ao sair do Cruzeiro, o atleta ainda teve uma passagem pelo Paraná Clube antes de voltar à Briosa, em 1995. No ano seguinte, Balu foi um dos jogadores mais importantes na volta da Portuguesa Santista à elite do futebol paulista e encerrou a carreira no clube onde começou. Em duas oportunidades, ele foi o treinador da equipe Rubro Verde.

JOEL CAMARGO

Joel Camargo é o primeiro em pé neste time da base da Briosa

Este é o primeiro caso de jogador que não atuou muitas vezes no time principal da Briosa, mas sua história no futebol brasileiro e mundial não dava para deixá-lo de fora. O zagueiro Joel Camargo nasceu em Santos, no dia 18 de setembro de 1944 (algumas publicações afirmam que ele é de 1946) e chegou na Portuguesa Santista, para atuar nas categorias de base. Em 1963, passou para o time principal e mostrou tanta categoria que no mesmo ano o Alvinegro o contratou.

No final da década de 60, passou a frequentar constantemente a Seleção. Era o titular do time de João Saldanha nas Eliminatórias para a Copa de 70. No México, foi para o banco de reservas, mas, mesmo assim, tornou-se tricampeão do mundo. Um acidente automobilístico quase o fez terminar a carreira. Em 1971, o zagueiro foi um dos primeiros brasileiros a atuar no Paris Saint-Germain. Ainda passou por CRB, Londrina e Saad, onde encerrou a carreira em 1973. Quando parou, Joel se afastou totalmente do futebol e foi trabalhar no Porto de Santos. Depois, já nos anos 90, foi ser professor de escolinhas em Santos e em São Paulo. Joel faleceu no 2014, de insuficiência renal.

ADELSON

O quinto em pé, em um dos times da década de 60

Aqui talvez foi onde eu tive mais dúvidas. Pensei em Clóvis, revelado na Briosa e que fez carreira no Corinthians, e em Fernando, que também surgiu no clube, passou por grandes equipes e voltou para a Portuguesa, sendo importante no acesso de 1996. Porém, um atleta que esteve na vitoriosa excursão à África, conquistando a Fita Azul, em 1959, e foi o capitão do título de 1964 não poderia ficar de fora. Por isto, Adelson foi o escolhido.

Adelson Narciso chegou na Portuguesa Santista em 1956 e é um dos atletas que mais atuou com a camisa do clube. Foi ganhando seu espaço no clube e logo se tornou dono da posição na defesa Rubro Verde. Líder nato, capitão, Adelson ficou na Briosa até o início de 1967, quando foi para o América de São José do Rio Preto, onde encerrou a carreira. Atualmente, Adelson sempre aparece no clube e é uma das melhores referências quando o assunto é Fita Azul ou o título de 1964.

MARCO ANTÔNIO

Revista Placar de 30 de outubro de 1970

Assim como Joel Camargo, Marco Antônio não ficou muito tempo na Portuguesa Santista, mas um dos melhores laterais esquerdos do futebol brasileiro não poderia ficar de fora. Nascido em Santos, em 6 de fevereiro de 1951, Marco Antônio Feliciano entregava marmitas antes de chegar à Briosa em meados dos anos 60, quando foi apresentando ao técnico Papa. No início, atuou como ponta esquerda, por causa de sua extrema habilidade, mas também já era usado como lateral.

Novo, habilidoso e inteligente, logo chamou a atenção dos clubes grandes e foi parar no Fluminense, ainda em 1968, com apenas 17 anos. Não demorou muito para chegar à Seleção Brasileira. Aliás, Marco Antônio jogou algumas partidas na Copa de 1970, mas não era o titular absoluto por apoiar demais. Por isto, Zagallo preferiu Everaldo. O mesmo aconteceu em 1974, mas o torcedor brasileiro sabia que o melhor da posição era o menino revelado pela Briosa. Marco Antônio ainda defendeu Vasco, Bangu e Botafogo, onde encerrou a carreira em 1984.

ARGEMIRO

Argemiro é o primeiro em pé neste time de 1937

Nascido em Ribeirão Preto, no dia 2 de junho de 1915, Argemiro Pinheiro da Silva foi, com certeza, o jogador que chegou mais longe vestindo a camisa da Portuguesa Santista. Ele começou no EC Rio Preto, em 1931 e chegou na Briosa em 1935, no início do profissionalismo do futebol paulista. E chegou para fazer história! Ele era um dos alicerces do grande time Rubro Verde da segunda metade da década de 30, que foi terceiro colocado nos paulistas de 1936, 1937 e 1938.

Suas belas atuações fizeram com que Ademar Pimenta o convocasse para a Copa do Mundo de 1938, realizada na França. Sim, Argemiro disputou um mundial de futebol como atleta da Briosa, atuando como titular na vitória da Seleção Canarinho contra a Checoslováquia, por 2 a 1! O Brasil foi o terceiro colocado e, no ano seguinte, o atleta foi para o Vasco da Gama, onde ficou até 1946, encerrando a carreira. Ele faleceu em 4 de julho de 1975. Conheça mais a história do jogador aqui.

TIM

Tim, de gorro, em jogo contra o Hespanha

Outro grande jogador da Portuguesa Santista nos anos 30, Elba de Pádua Lima, o Tim, nasceu Rifania, em 20 de fevereiro de 1916. Começou a carreira no Botafogo de Ribeirão Preto e depois de uma rápida passagem pelo Corinthians, chegou à Briosa em 1934. Tim foi o grande nome do time Rubro Verde de 1936, que disputou o título paulista ponto a ponto contra Corinthians e Palmeiras. Suas boas atuações o levaram para a Seleção Brasileira, onde disputou o Sul-Americano de 1937, como atleta da Portuguesa Santista.

Quando voltou do torneio de seleções, Tim foi negociado com o Fluminense, onde virou ídolo e tornou-se um dos maiores jogadores do país, defendendo a Seleção, como titular, na Copa de 1938. Tim ainda passou por Nacional, São Paulo, Botafogo, Olaria e Junior Barranquilla. Depois, ele tornou-se treinador, onde teve carreira de sucesso, conquistando diversos títulos e ainda dirigiu a Seleção Peruana na Copa de 1982. Tim faleceu em 7 de julho de 1984. Conheça mais sobre ele aqui.

RICO

Rico, em partida contra o Santo André, em 2003

Leandson Dias da Silva, o Rico, é o mais novo desta seleção. Nascido em 4 de abril de 1981, em Recife, o rápido atacante chegou na Briosa em 2003, depois de passar por CSA, Águas de Lindóia e São Paulo. Podemos dizer que Rico estava iluminado na brilhante campanha da Portuguesa Santista no Paulistão daquele ano, onde a equipe foi semifinalista, sendo o alicerce do time, comandado por José Macia, o Pepe, junto com o meia Souza. Rico, por ser rápido, saia com facilidade na cara do goleiro e seus gols foram importantes na campanha: ele foi vice-artilheiro do certame, com um tento a menos que Luís Fabiano. Quem não se lembra dos dois gols marcados por ele contra o Santos?

Após o Paulistão, Rico foi para o São Paulo. Depois passou pelo Grêmio e voltou para a Briosa em 2005. A segunda passagem nem de longe lembrou a primeira, mas deixou sua marca novamente em um clássico contra o Santos. Rico rodou o mundo, indo jogar no mundo Árabe e seu último clube foi a Portuguesa de Desportos, este ano. Ele ainda não pendurou as chuteiras.

SAMARONE

Samarone com a camisa da Briosa

Provavelmente o autor do gol mais importante da história do clube, Wilson Gomes, que ficou conhecido como Samarone, nasceu em Santos, no dia 13 de março de 1946. Ele chegou na Briosa atuando no futebol amador de Santos e logo conseguiu espaço na equipe principal do time. E foi o grande nome da equipe no Campeonato Paulista da Divisão de Acesso de 1964 (a atual Série A-2). Para coroar, Samarone fez o gol do título, no jogo contra a Ponte Preta, em Moisés Lucarelli, já no ano de 1965.

Samarone ainda fez alguns jogos pela Portuguesa Santista no Paulista de 1965, mas em seguida foi negociado com o Fluminense. No Rio, tornou-se um dos melhores jogadores do país, chegando a ser convocado para a Seleção Brasileira. Depois, o atleta ainda passou por Corinthians, Flamengo, Portuguesa de Desportos e Bonsucesso, onde encerrou a carreira em 1975. Conheça mais sobre o atleta aqui.

LIO

Lio é o primeiro agachado na foto do time campeão

Aqui foi outra posição onde tive muita dúvida em quem escolher. E cheguei no Lio pois, além do título de 1964, ele foi o artilheiro da competição. O centroavante fazia uma dupla quase perfeita com Samarone, que, nos gramados, aterrorizou as zagas dos times do futebol paulista na Divisão de Acesso daquele ano. Lio terminou o certame com 20 gols, sendo o líder absoluto em tentos no torneio.

Ele também teve boa passagem pela Ferroviária de Araraquara (SP), onde atuou ao lado de craques como Galhardo, Peixinho e Tales, e pelo Noroeste, onde jogou com Araras (ex-Santos), Navarro e Aracito. Lio ainda defendeu o Noroeste de Bauru e o Jabaquara, durante excursão deste time na Argentina, comandado por Filpo Nuñez. Lio faleceu em 7 de janeiro do ano passado e trabalhava como instrutor de tênis do Clube Internacional de Regatas.

BERISTAIN

Beristain sendo agraciado pela torcida

O argentino Tomas Beristain (ou Beristein, de acordo com algumas publicações) é o jogador com mais lendas no centenário da mais Briosa. Em apenas um ano de passagem pela Portuguesa Santista, suas histórias enriquecem a trajetória do clube. Com passagens por Platense, San Lorenzo e um jogo pela Seleção Argentina, Beristain aportou em Santos em 1940 e virou o grande ídolo da torcida Rubro Verde, com suas atuações destemidas, que faziam com que o time Rubro Verde encarasse de igual para igual o trio de ferro da capital.

Habilidoso ao extremo, capaz de bater escanteios e pênaltis de chaleira (é o que diziam) e ter dado a primeira bicicleta do futebol paulista (antes de Leônidas vir para o São Paulo), o argentino foi o principal jogador da equipe no Campeonato Paulista de 1940. Fora de campo, alegrava quem passeava pela praia durante a manhã, pois com uma "pelota", ele fazia embaixadinhas na areia antes de ir para o treino em Ulrico Mursa. Em sua despedida, já em 1941, foi oferecido um jantar de gala. Beristain voltou para o San Lorenzo, onde atou por mais um ano e encerrou a carreira. Porém, quem viu garante: foi o melhor jogador da história da Portuguesa Santista. Conheça mais sobre ele aqui.

FILPO NÚÑEZ

Filpo Núñez, em pé, ao centro, com a Briosa em 1971

Chegamos ao treinador. Outro lugar que deu dor de cabeça para escolher. Mas chegamos ao argentino  mais brasileiro da história do futebol: Filpo Núñez. Ele dirigiu a Portuguesa Santista em cinco oportunidades: entre 1957 e 1958, entre 1958 e 1959, em 1964 e entre 1971 e 1972 e em 1980. O argentino comandou a Briosa na invicta excursão na África, que trouxe ao clube a Fita Azul do Futebol Brasileiro. Filpo Núñez também iniciou o trabalho em 1964, que acabou sendo campeão da Divisão de Acesso já sob o comando de Manga, já que o treinador foi contratado pelo Palmeiras.

Filpo tem uma história gigante no futebol brasileiro. Ele foi o treinador do Verdão na década de 60, comandando um dos maiores times da história do clube. Foi o único técnico estrangeiro a dirigir a Seleção Brasileira sozinho, em um amistoso contra o Uruguai, em 1965, na inauguração do Mineirão. Ele dirigiu diversos times por aqui e também passou por Argentina, Chile, Bolívia, México, Portugal, Espanha, Equador, Peru e Venezuela. Enfim, história é que não falta!
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