Por Lucas Paes
Mauro, como goleiro, observando o fusca azul, igual ao dos pais, passar pela rua
“O Ano em que meus Pais Saíram de Férias” é um filme do diretor Cao Hamburguer, lançado em 2006. Foi o longa escolhido pelo Ministério da Cultura para representar o Brasil no Oscar de 2008. Ficou entre os nove mais votados pela academia, mas não esteve entre os cinco finalistas na escolha de melhor filme estrangeiro.
A história se passa nos anos da Ditadura Militar, porém, mais precisamente em 1970. A película começa já em um ritmo meio alucinante e confuso, com os pais do protagonista Mauro saindo de sua casa, em Belo Horizonte, às pressas, sob a alegação de umas férias rápidas. Eles vão para São Paulo, onde Mauro é deixado na casa do seu avô paterno, só que em mais uma reviravolta do filme, ele morre um pouco antes da chegada de Mauro.
A causa da morte do avô do protagonista parece ser um infarto, enquanto ele barbeava o último cliente do dia antes de ir para a casa. A consequência é que Mauro inicialmente fica com Shlomo, um judeu vizinho de seu avô. As diferenças culturais entre os dois são nítidas e causam inclusive um afastamento inicial, já que o menino passa a querer ficar sozinho no apartamento de seu avô, onde acaba comendo menos e até deixando de tomar banho.
Mauro 'saindo de férias' no fusca
Aos poucos, porém, Mauro começa a fazer amizade com Hannah, uma menina que mora no prédio. Em uma “volta” que ele dá pela região, conhece também Irene, que trabalha numa lanchonete e convida o garoto para assistir os jogos da Copa do Mundo de 1970 lá, e Italo, que diz ser amigo de seu pai. Também é apresentado ao pessoal da comunidade judaica, amigos do seu vizinho. Porém, como o próprio menino diz em um dos momentos em que faz um papel de “narrador” do filme: a Copa estava chegando e seus pais ainda não haviam telefonado.
No dia da estreia do Brasil (3 de Junho), ao mesmo tempo em que acompanha o jogo na casa de Shlomo, Mauro fica nervoso, pois seus pais não chegam. Com os dias passando, ele começa a perceber que algo está errado, já que eles não ligam ou sequer dão sinal de vida. Ao mesmo tempo, a relação com o vizinho de seu avô melhora e o protagonista vai se enturmando em São Paulo.
Enquanto assiste uma partida da várzea entre os descendentes dos judeus e os descendentes de italianos, Mauro se encanta pelo jeito como o goleiro do time dos judeus, Edgar, namorado de Irene. Ele passa a jogar como goleiro no apartamento (jogando a bola nas paredes para defender) e até em um jogo com os amigos de Hannah, lugar onde acontece uma das cenas mais tristes e emblemáticas do filme.
Chegando em São Paulo com uma mala e uma bola
No meio da partida, ao avistar um Fusca azul idêntico ao de seus pais passando, o protagonista sai do jogo (levando um gol e até causando uma briga entre a garotada) e corre atrás do carro por um bom tempo, até que um bebê de traços japoneses olha pela janela traseira e o garoto para de correr, desolado.
Alguns minutos depois, acontece outra das cenas marcantes do filme: há uma festa na comunidade judaica, provavelmente o bar mitzvah de algum garoto dali. Depois dos ritos religiosos, há uma celebração e em algum momento a cavalaria da PM chega e faz uma blitz, enquadrando Italo e seus amigos. A situação começa a piorar depois disso, já que os militares vão atrás dele, chegando inclusive a levar Slohmo.
No dia da final da Copa, Mauro fica até pouco tempo antes da partida olhando a janela, esperando ver o carro de seus pais. Ele assiste parte do jogo na lanchonete, mas vê Slohmo chegar e vai ao apartamento dele, saindo da frente da TV no exato momento que o Brasil faz 2 a 1. Ele acaba descobrindo que sua mãe voltou.
Mauro correndo atrás do carro que ele achava que era dos pais
O filme se encerra com mãe e filho saindo de São Paulo e uma frase quase explicativa narrada por Mauro: “E assim foi o ano de 1970, o Brasil virou tricampeão mundial... E mesmo sem querer e nem entender direito, eu acabei virando uma coisa chamada exilado. Eu acho que exilado quer dizer: ter um pai tão atrasado, mas tão atrasado que nunca mais volta pra casa”. Era a ditadura pelos olhos de uma criança.
A verdade sobre o longa metragem é que, no enredo, o futebol, na forma da Copa do Mundo de 1970, é usado apenas como um plano de fundo para mostrar toda uma situação muito pior. A Seleção Brasileira que levou o tri mundial é considerada por muitos o maior time a jogar uma Copa. A histórica conquista, porém, acabou usada como apoio publicitário da ditadura e como um plano de fundo para as atrocidades cometidas pelo regime, no auge da repressão.
Para encerrar, aqui entra um pouco de opinião deste que vos escreve e esta parte é direcionada àqueles que pedem a volta do regime militar, mesmo sem ter vivido nele: vejam este filme, vejam diversos outros, conheçam a história, valorizem a liberdade que muita gente lutou para nos dar, um regime totalitário nunca será melhor que uma democracia.
Elenco
Michel Joelsas: Mauro
Germano Halut: Slomo
Daniela Piepszyk: Hannah
Caio Blat: Italo
Simone Spoladore: Bia
Liliana Castro: Irene
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