Por Lucas Paes
O sonho do protagonista Beto é se tornar goleiro da seleção brasileira
Se você já teve o sonho de ser jogador de futebol, o filme deste texto conta uma história parecida. “Meninos de Kichute” é uma película lançada em 2009, baseada no livro de mesmo nome, do autor Mácio Américo. Recebeu o “Prêmio do Público”, na categoria “Melhor Filme Brasileiro”, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
O filme se passa em 1975, mostrando a vida de Beto (Lucas Alexandre), filho de Lázaro (Wérner Schunemann), um pai extremamente conservador e religioso. No início do filme, Beto e seu grupo de amigos criam um clubinho, onde da discussão do nome surge a alcunha “Meninos de Kichute”, numa reunião anterior a um jogo contra uma equipe chamada “Barriguinha.”
Aqui vale um adendo. Um dos calçados mais comuns de meninos nas décadas de 70, 80 e até início dos anos 90 era o Kichute. Todo negro, ele simulava uma chuteira, só que com travas retangulares (aliás, sendo muito à frente do seu tempo, pois nos anos 2000 as grandes marcas de material esportivo lançaram chuteiras com travas retangulares, ao invés das tradicionais circulares). Este calçado valia para tudo, desde passear, ir para a escola e, é claro, jogar futebol. Quem não se lembra do longo cardaço do calçado?
O famoso Kichute, com suas travas inovadoras
Na partida contra o Barriguinha, envolvendo uma aposta relacionadas às figurinhas de um álbum de coleção, Beto vai para o gol na hora dos pênaltis e defende uma cobrança, e disse que a partir dali era o goleiro do time. Com a defesa, o time dos Meninos de Kichute vence o jogo.
Em uma tarde, enquanto os garotos jogam no campinho, um olheiro de apelido Xaveco conta aos garotos sobre uma peneira no Nacional da Barra Funda. Ele menciona algum dos garotos talentosos e um dos citados é Beto, que segundo ele tem todo o jeito de goleiro. Ainda assim, o garoto tem dúvidas sobre ir à peneira, devido as imposições da igreja que seu pai frequenta.
Em uma conversa em casa, Beto fala com o pai sobre o teste, mas seu pai imediatamente o proíbe de fazer isso. Beto, porém, nitidamente fica em dúvida quando seu pai pergunta se ele prefere Deus ou o Mundo e na redação da escola sobre o que quer ser quando crescer, ele afirma querer ser goleiro da seleção brasileira.
Religioso e conservador, Lázaro, pai de Beto, é contra
o filho se tornar jogador de futebol
É nítido que Beto passa a viver um conflito. Já não presta mais atenção na leitura da bíblia em casa. Ao pedir para o pai para ir ao cinema, Beto vê um filme de futebol que fala do Brasil de 1974, onde Leão faz uma espetacular defesa (é a única cena mostrada do filme.). Cada vez mais Beto alimenta seu sonho “mundano”, a despeito do fanatismo religioso do pai.
Entre as diversas brincadeiras de Beto com seus amigos, ocorre um momento onde os garotos encontram um DKV perdido no ferro velho com uma revista de pornografia dentro. Após uma briga com os garotos de um grupo rival pela revista, Beto sai correndo, esconde a revista e passa pela loja do Seu Tanaka, onde o pessoal do bairro compra diversas coisas. Na loja, ele vê o pai agredir o comerciante japonês devido a uma insatisfação por pedir ajuda de sua filha, Beto sai correndo para tentar chegar em casa antes do pai e acaba atropelado.
O acidente parece mudar um pouco as coisas entre Lázaro e seu filho, que pensa que o ocorrido foi um castigo de Deus por segundo ele “mentir quando precisava.” Beto fica internado ao lado de um senhor que foi goleiro, que passa algumas lições de vida para o garoto, além de profetizar que o garoto será um grande jogador da posição.
A família de Beto (Foto: Site oficial do filme)
A volta de Beto é lenta e ele parece estar com medo, mas aos poucos retorna a mostrar o “estilo” que o olheiro tinha falado, inclusive ganhando a fama de melhor goleiro do bairro. No jogo de revanche contra o Barriguinha, Beto acaba cometendo falha fatal ao furar uma bola recuada, e na volta para casa, descobre que seu pai (que havia tido um conflito com ele antes do jogo) fugiu com a mulher de um amigo seu, deixando a mãe de Beto, dona Maria (Vivianne Pasmanter) e o resto da família arrasados.
Após isso, Beto faz o teste e passa, causando um orgulho enorme em sua mãe, ganhando ajuda de custo do Nacional e defendendo o clube. Quando vai contar a notícia a uma amiga de sua mãe, chamada Dona Leonor, fica sabendo que a mulher que lhe deu o primeiro Kichute morreu.
Beto descobre que vai se mudar para um conjunto habitacional em um bairro mais próximo do Nacional, ficando mais próximo de realizar seu sonho. Vivendo, porém, um conflito pessoal com relação à abandonar o bairro e seus antigos amigos. O filme se encerra com Beto, sua mãe e o resto da família indo para o conjunto habitacional junto ao caminhão de mudanças.
Campinho onde os "Meninos de Kichute" jogavam
O longa metragem é interessante, pois mais uma vez mostra o retrato da sociedade brasileira em uma época diferente, seja no fanatismo religioso do pai de Beto que causa brigas na família, fanatismo que se mostra falho, já que ele comete um dos maiores pecados existentes ao fugir com outra mulher, ou nas situações relacionadas a um bairro suburbano da época, seja nos problemas com a situação financeira ou no modo como as crianças se divertem em campinhos de futebol e na rua.
Outro ponto interessante é notar que a aula mostrada na escola é a de “Educação Moral e Cívica”, inerte à época da ditadura militar (é a aula onde Beto fala sobre seu sonho de ser goleiro). O filme abre até certo espaço para uma continuação, onde poderia ser mostrado como Beto sucedeu no Nacional, mas o final deixa isso em aberto para a imaginação do espectador.
Elenco Principal
Lucas Alexandre – Beto
Wérner Schunemann - Lázaro (Pai de Beto)
Estér Laccava – Professora de Educação Moral e Civica
Vivianne Pasmanter – Dona Maria (Mãe de Beto)
Arlete Salles – Dona Leonor
Paulo César Pereio – Volpone (Ex-goleiro que acaba ficando junto com Beto no hospital)
Mário Bortolotto – Xaveco
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