Futebol por e para as mulheres é com o ~dibradoras


Apesar de as mulheres cada vez mais terem espaço no Futebol, alguns setores da modalidade ainda têm preconceito com a presença feminina no esporte, infelizmente. Porém, há vários grupos que lutam contra isso e um dos mais importantes é o ~dibradoras, que faz um excelente trabalho, através da internet, para a inserção das mulheres no esporte bretão.

Formado por Angélica Souza (30 anos), publicitária e palmeirense, Júlia Vergueiro (26), internacionalista e são paulina, Nayara Perone (28), designer e corintiana, Renata Mendonça (26), jornalista e são paulina, e Roberta Cardoso, a Nina (33), jornalista e são paulina, o ~dibradoras faz um trabalho interessante, agindo em várias plataformas da rede mundial de computadores: site, podcast, Facebook e Twitter.

O trabalho chamou a atenção de muita gente e, atualmente, o ~dibradoras expandiu seu trabalho para outras modalidades esportivas. Para conhecer mais a ação do grupo, O Curioso do Futebol bateu um papo com a Nina Cardoso, que você pode conferir abaixo.

As formadoras do ~dibradoras

O Curioso do Futebol: Quem teve a ideia de criar o ~dibradoras e como foi o início? Em qual plataforma vocês começaram?

Nina: Angélica, Júlia e Nayara se conheceram jogando futebol. Renata e Nina conheceram as outras três por meio de um grupo de discussão de futebol que todas elas participam no Facebook.

A ideia de criar o projeto ~dibradoras surgiu porque todas nós, como apaixonadas por esporte, sentíamos falta de uma cobertura esportiva que incluísse a mulher. A cobertura tradicional da mídia esportiva adota uma abordagem pensando apenas no público masculino heterossexual. Toda e qualquer abordagem da mulher na mídia esportiva é sempre pelo lado da "musa", da "gata", das "fotos sensuais das esposas dos jogadores", etc. A gente queria fazer algo diferente, queria falar de futebol também para mulheres que acompanham esse esporte, queria falar de modalidades femininas, que nunca são abordadas na imprensa. Por isso começamos com o projeto. Temos o site, a página no facebook, twitter, instagram, um podcast na rádio Central 3 - onde sempre levamos convidadas mulheres (atletas, ex-atletas, gestoras, dirigentes, etc) - e um canal no Youtube, onde também divulgamos vídeos falando sobre mulheres no esporte. 

Começamos pelo site, facebook, twitter e instagram (as redes sociais básicas). O podcast semanal na Central3 surgiu na sequência e depois partimos para os vídeos no Youtube. 

Interessante vídeo sobre a questão de intitular as atletas de musas

OCDF: Quem hoje faz parte do ~dibradoras?

N: Além das cinco co-fundadoras (NR: citadas na abertura da entrevista), que administram a marca. Contamos com algumas colaboradoras que nos escrevem textos e ajudam no desenvolvimento de pautas. São elas: Maria Guimarães, redatora publicitária, Gabriela Abrunheiro, jornalista, Maiara Beckrich, internacionalista, e Thaissa Cordeiro, estudante de RP, que é a nossa correspondente de Manaus.

Em dia de gravação no Pacaembu

OCDF: Vocês, atualmente, atuam em várias plataformas (podcast, vídeos, site, facebook...) qual a importância deles para o trabalho?

N: Todos eles, em conjunto, acabam complementando nossas ideias e bandeiras que levantamos. O conteúdo é nosso forte e pelo podcast conseguimos criar muita matéria exclusiva (a cada semana recebemos uma convidada no programa e falamos sobre diversos temas: machismo, mulheres dirigentes, jogadoras de futebol, vôlei, handebol, futsal, basquete judô, ex-atletas e por aí vai).

No Youtube, nosso conteúdo é mais descontraído, onde nos posicionamos sobre alguns temas e tentamos discorrer sobre ele em até 5 minutos.

Vídeo "Agora é que são elas"

OCDF: Algo que acho muito interessante no trabalho do ~dibradoras é que vocês não abordam apenas o Futebol Feminino competitivo. Há o incentivo para que as mulheres (seja de qual idade) pratiquem o futebol, nas famosas peladas, inclusive em equipes mistas e que homens aceitem isso. Fale um pouco sobre este assunto, até por vocês sempre participarem destes jogos.

N: Bom, apesar de falarmos da mulher em geral no meio esportivo, o futebol feminino é nosso principal mote. Todas nós amamos o futebol e já praticamos – algumas seguem jogando até hoje – e por ser uma modalidade ainda tão carente de apoio e respeito, levamos sempre o futebol feminino em primeiro lugar.

Além de incentivar pela importância da prática esportiva (saúde, bem estar, companheirismo, liderança, espírito de grupo), o futebol, para nós, é uma resistência! É uma causa que apoiamos e incentivamos para que outras garotas ocupem esse espaço e não tenham que provar que jogam bem ou que entendem do jogo. A relação entre mulher e futebol tem que ser natural, assim como acontece para os homens.

Com a ex-jogadora e atual dirigente Michael Jackson

OCDF: Outro trabalho interessante é o incentivo para que mulheres frequentem os estádios e que os homens respeitem-nas (o que deveria ser óbvio, mas infelizmente, ainda não é 100%). Como as mulheres recebem esses incentivos? E os homens, estão apoiando a iniciativa?

N: Sim, nós também incentivamos a presença das mulheres nos estádios, exigindo seu espaço e produtos para que possam comprar. As torcedoras ficam muito felizes quando levantamos essa causa e cobramos mais atenção para elas, pedindo camisetas femininas dos clubes, por exemplo. Isso é o mínimo que os clubes podem oferecer e ainda assim ficam devendo. Fizemos um texto sobre isso: http://dibradoras.com.br/por-que-os-clubes-de-futebol-ainda-ignoram-o-publico-feminino/

As torcedoras pedem nosso posicionamento e endossam o coro. Os homens, em sua maioria, também apoiam e ficam indignados com certas diferenças de tratamento (muitos nem fazem ideia do quanto é difícil encontrar uma camisa feminina, por exemplo).

Vídeo "Respeita"

OCDF: Falando do Futebol Feminino competitivo, o que vocês acham do atual estágio da modalidade no País e da organização e nível dos campeonatos locais?

N: Muita coisa já melhorou, mas ainda é preciso de mais investimento e apoio. Muitos casos bizarros acontecem em jogos do Brasileiro, Paulista e até mesmo da Libertadores. Falta de ambulância, arbitragem, campo em péssimo estado ou com grama sintética, falta espaço para que as meninas possam se trocar antes do jogo e por aí vai. Falta total de estrutura e respeito!

O nível do jogo em si tem melhorado. Não vemos mais muitas goleadas como antes, que mostravam o desnível das equipes. As partidas são bem mais competitivas e cheias de rivalidade.

O que falta mesmo é mais incentivo na base por parte da CBF e fomentar a prática nas escolas, entre as crianças. A CBF é a responsável por vender seu “produto” e atrair mais parceiros. Depois, as marcas também precisam se interessar e a mídia deve informar o público sobre os jogos e atletas.

Com a zagueira Aline Pellegrino

OCDF: Neste ano, teremos os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. O que vocês esperam do torneio de Futebol Feminino do evento? Acham que pode haver alguma surpresa? E, na opinião de vocês, como será o desempenho da Seleção Brasileira na competição?

N: O nível do futebol feminino nessa edição olímpica, acredito, será de nível altíssimo. A Copa do Mundo do ano passado foi fantástica e não espero nada menor do que isso. Temos ótimas seleções como favoritas (EUA e Alemanha) e outras que estão se tornando potência na modalidade, como a França. Também temos o Canadá e a Suécia que são países com uma cultura muito forte de futebol feminino. Daqui da América Latina, temos o Brasil e a Colômbia, apenas.

A seleção brasileira melhorou muito fisicamente com a criação da seleção permanente. As meninas estão ótimas no preparo físico, aguentam bem a correia e os encontrões do jogo, mas taticamente ainda peca muito. A Marta é ainda nossa grande referência e quando ela está bem marcada e não consegue jogar, o time sente bastante.

A equipe do Vadão fez muitos amistosos ano passado e recentemente disputou a Copa Algarve (perdeu na final pro Canadá), mas ainda falta mais organização e um esquema tático que funcione. Difícil não acreditar nelas, mas o caminho para o ouro vai ser bem complicado.

Vídeo "Pergunta pro seu pai"

OCDF: Para finalizar, deixo o espaço aberto para vocês acrescentarem algo.

N: Nosso projeto surgiu da necessidade de falar mais sobre a presença feminina no esporte brasileiro. As mulheres sofreram muitas proibições ao longo de sua história na sociedade e essa nova geração não aceita mais certos tipos de imposições que nos limitem. As mulheres – antes tão competitivas entre si – estão mais unidas do que nunca, buscando seu espaço na sociedade e seus direitos como cidadãs.
O esporte é a ferramenta mais eficaz na hora de ensinar valores para alguém e nós acreditamos muito na força da prática esportiva como elemento fundamental no desenvolvimento do ser humano.

Com a 'Magic' Paula

Conheça os links de trabalho de ~dibradoras:

Instagram: @dibradoras
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