O Beijoqueiro e seus 'ataques' à boleiros

Romário sendo 'vítima' de Beijoqueiro

Se você tem 35 anos ou mais e tem algumas memórias dos anos 80, com certeza já ouviu falar no português radicado no Rio de Janeiro José Alves de Moura. Na verdade, pelo nome de batismo fica difícil lembrar da pessoa, mas Moura é, nada mais, nada menos, que o Beijoqueiro, figura folclórica do Brasil naqueles tempos.

O Beijoqueiro nasceu em 2 de março de 1940, na freguesia de Baguim do Monte, cidade de Gondomar, terra lusitana. Ele veio para o Brasil com 17 anos e o motivo de atravessar o Atlântico é incerto. Alguns dizem que foi para "tentar a sorte", outros falam que ele fugiu do serviço militar português. Mas, sejamos sinceros, uma figura como ele não combina mesmo com os quartéis da vida.

No Rio de Janeiro, Moura virou taxista. Segundo amigos, ele já era "meio fraco das ideias", mas a situação degringolou depois de um assalto na Central do Brasil em 1966. Naquele dia, Moura levou uma coronhada de um dos bandidos, que teve sequelas psiquiátricas comprovadas. Depois do assalto, passou a cultivar o estranho hábito de beijar as pessoas na rua, inclusive alguns clientes, homens ou mulheres.

Roberto Dinamite não escapou da figura

A clientela, que era boa devido ao carisma do sujeito, começou a diminuir. As pessoas, principalmente os homens, começaram a ficar com medo de ganhar, a qualquer momento, um beijo do motorista 'mutcho loco'. E, é claro, Moura teve que deixar a profissão.

Ao deixar de ser taxistas, Moura começou a ganhar a alcunha pela qual ele ficou famoso: Beijoqueiro. Começou a falar para todos que ele tinha uma missão: espalhar amor pela cidade do Rio. E fazia questão de dizer que não era homossexual, que gostava de mulher. Mas em 1980, a fama dele extrapolou as divisas da Cidade Maravilhosa, exatamente no show do grande Frank Sinatra, no Maracanã.

Ele dizia aos amigos que, no dia em que levara uma coronhada do assaltante, tinha tido uma espécie de visão e que nela aparecia a figura do astro americano. Ele tinha, portanto, que beijá-lo de qualquer maneira. No dia 26 de janeiro daquele ano, Beijoqueiro, não se sabe como, conseguiu furar um forte esquema de segurança e cumprir a promessa. Sinatra, enojado, parecendo estar mais assustado com o beijo do que com a própria invasão do palco, empurra o luso-brasileiro. Após o beijo, diante de um Maracanã lotado, o taxista encarnou de vez o personagem.

E é agora que o futebol entra na história. Como o esporte é uma das paixões brasileiras, uma boa parte das 'vítimas' de Beijoqueiro eram os boleiros. Há quem ache que, ao menos, a metade das pessoas beijadas pela figura folclórica era de jogadores do esporte bretão.

Sua saída do Maraca era sempre assim: preso pelos policiais

E ele não fazia questão de saber se o jogador estava em atividade ou já era aposentado. Com isto, a lista é longa e vamos citar alguns: Garrincha, Falcão, Zico, Pelé, Roberto Dinamite, Biro-Biro e Romário. Obina foi um dos últimos a ganhar um beijo do folclórico luso-brasileiro. Até as atletas da Seleção Feminina foram alvo da figura. Não era raro o Beijoqueiro invadir o gramado do Maracanã, achar o seu alvo, taca-lhe um beijo na bochecha e depois sair carregado pelos policiais.

Aliás, após beijar Zico, foi detido e espancado por policiais. O beijo saiu caro: teve costelas e dentes quebrados. Passou por uma batelada de exames para determinar seu problema psiquiátrico, que foi comprovado. Acabou libertado pelo juiz Mayrino da Costa, que declarou: "beijar não é crime. Quem dera se todos os delinquentes do Brasil trocassem suas armas por beijos".

Beijoqueiro chegou a ir a São Paulo, em um clássico Corinthians e Palmeiras, no Morumbi. Seu alvo foi o meia Biro-Biro, do Timão. “Quando olhei para a lateral do campo, vi um senhor, meio careca, corpulento, vindo na minha direção. Tentei correr, mas, quando vi o cara, já tinha me segurado com os dois braços e tacado um beijo na metade da minha boca, metade no rosto. Foi bem desagradável”, lembra Biro-Biro. Hoje, passado tanto tempo, o ex-volante acha que nem foi tão ruim assim. “Se ele me escolheu, entre tantas feras, é que eu tinha o meu valor. Grande figura o Beijoqueiro.”

'Atacando' as jogadoras da Seleção Feminina

Como todo bom português radicado no Rio de Janeiro, Beijoqueiro era vascaíno e os ídolos de seu time do coração, como Roberto Dinamite e Romário, eram seus alvos favoritos. Tanto que, depois de uma sumida nos anos 90, ele reapareceu em 2007 para beijar o Baixinho, na época da tentativa dos mil gols. Ele aproveitou e também entrou no Maraca na final do Futebol Feminino do Pan.

A última notícia que se teve dele no Rio de Janeiro foi em 2009, quando o próprio espalhou pelas ruas da Cidade Maravilhosa que iria beijar o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Ele não conseguiu, mas para quem beijou 17 vezes o pé do Papa João Paulo II, ninguém duvidou que ele alcançaria o feito.

Atualmente, não se sabe o paradeiro de Beijoqueiro. Suspeita-se que ele tenha voltado para Portugal. Quem sabe não esteja beijando os lusitanos?
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Um comentário:

  1. Naqueles tempos, uma pergunta que todo mundo fazia, vendo TV, era: "Será que o Beijoqueiro vai atacar?".
    Rss!!!

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