Apesar da vitória, os portugueses foram eliminados da Copa
* por Michelle
Abilio
Sabe
aquele momento que você está na hora certo e no lugar certo? Aconteceu comigo
durante a Copa do Mundo.
Sou
paulista, paulistana, da Vila Mariana, bairro da zona sul de São Paulo. E na
Vila Mariana morei por 31 anos. Não tinha pretensão nenhuma de sair de casa e
muito menos mudar de rua, bairro, cidade e estado.
Acompanhei
a fase pré-Copa ansiosa e curiosa em saber como o Brasil iria se comportar
diante de um dos eventos mais importantes do planeta.
Vi
de perto o nascimento da Arena Corinthians, em Itaquera. Os últimos meses pré-Copa,
fui ao estádio do time da zona leste quase toda semana. Mas minha ambição pela
Copa do Mundo era tomar cerveja e fazer churrasco nos principais jogos da competição,
nada além disso.
Na
última fase da venda de ingressos, a vontade de assistir jogo bateu mais forte,
e eu, acostumada em ver jogos nas arquibancadas de concreto, resolvi desembolsar
uma grana e comprar o ingresso para ver o jogo e numa super arena. Comprei o bilhete para Portugal e Gana, em
Brasília, um dos poucos “bons” jogos e com bons jogadores que restavam para
compras.
Um
mês antes de começar a Copa, ainda não tinha passagem para a Capital Federal e
nem a certeza de que assistiria a partida. Como sempre, faltava dinheiro e
limite no cartão de crédito. Mas um fato inesperado na minha vida. Recebi um
convite para trabalhar em Brasília e faltando dez dias para a Copa peguei minha
mochila e embarquei para a capital federal.
A
Copa começou e, com ela, sete jogos em Brasília. Local que eu ainda não sabia a
diferença de Asa Sul e Asa Norte, que errava todo dia o caminho do serviço para
a casa.
E viva a Lusa!
A
capital federal foi uma das sedes da Copa que mais recebeu jogos do evento e no,
clima da Copa, o quadradinho de Goiás respirava futebol e foi invadida por
equatorianos, colombianos, e nos bares, gente de todas as nacionalidades,
tipos, sotaques e camisas de futebol. Respirando a Copa do Mundo no quintal de
casa, bateu o arrependimento pela falta de ingressos.
Uma
amiga que tinha comprado todos os ingressos para Brasília, fez uma viagem de
última hora e me dei o ingresso para Equador e Suíça, um dos primeiros jogos do
Mundial. O jogo terminou em 2 a 1, e com
o fim da partida, começou a vontade de querer mais ingressos e assistir mais jogos
no Mané Garrincha. Foi a primeira
madrugada que passei em claro tentando comprar mais e mais ingressos para o
Mundial.
Minhas
madrugadas acordada diante do computador rendou uma partida para as oitavas de
final entre França e Nigéria. Não consegui ver o Brasil goleando Camarões na
arquibancada, e ainda bem, que também não consegui ver a disputa dos terceiro
lugar entre Holanda e Brasil.
Mas
o jogo certo e no lugar certo e me diverti muito. Como escrevi no início do
texto, estava no lugar certo e na hora certa para ver Portugal e Gana, o único
que tinha comprado com antecedência. O jogo não foi o melhor do mundo, foi o
último jogo da primeira fase para Portugal. Aliás, foi o último jogo de
Portugal, e a equipe lusitana precisava de um resultado elástico para
classificar para a próxima fase e ainda dependia de resultados das outras
equipes. Os lusos não tinham chances de
passar para a próxima fase, o melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo, se
escondeu durante todo o mundial e apareceu timidamente no Mané Garrincha.
Portugal
venceu Gana por 2 a 1, com um gol contra e outro do craque desaparecido CR7. Os
dois times se despediram da competição, e no grupo deles, Alemanha e Estados
Unidos seguiram para as oitavas de final. Não foi o melhor jogo da minha vida,
mas foi uma das melhores festas pré e pós jogos da história, aliás, da minha
história futebolística.
Grande movimentação na frente do estádio em todos os jogos
Nos
arredores do Mané Garrincha, aquele
espaço novo para uma nova moradora brasiliense, com a minha camisa rubro-verde, da Portuguesa,
encontrei muitos amigos de arquibancada de concreto, ali do Pari, do Canindé.
Por horas, gritamos pela Portuguesa, cantamos o hino do clube em plena Copa do
Mundo. Éramos uma centena, parece pouco, mas fizemos muito barulho ali na porta
do lindo Manezão. Na arquibancada, cada um em canto, junto a milhares de
torcedores do mundo todo, não éramos ninguém.
Mas
por alguns instantes fomos uma grande torcida lusitana na porta do Mané
Garrincha. Eu, uma recém-candanga reencontrando todos os amigos na porta do
estádio para ver Portugal. Da porta do estádio Série B para a porta de uma
Arena Copa do Mundo. (Prefiro o estádio Série B, para deixar bem claro).
E
o pós-jogo foi tão bom quando o pré-jogo. Fomos lamentar a desclassificação de
Portugal em um tradicional bar da cidade, viramos capa do principal jornal do
DF e ainda convidei os amigos para conhecer meu apartamento recém alugado na
Asa Norte.
* Michelle Abilio (com a bandeira da Lusa), 32 anos, torcedora da
Portuguesa desde 1983, jornalista, mora em Brasília e assiste também os jogos do Gama.
Michelle é sócia do blog Boteco da Lusa e autora do livro com o
mesmo nome.
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