Colômbia não tomou conhecimento da equipe japonesa
* por Pedro
Gilio
Em
2007, quando a Copa foi anunciada para o Brasil, eu era um jovem terminando o
Ensino Médio. Sempre fui apaixonado por esportes, principalmente futebol,
apesar de anos dedicados ao basquete, como praticante. Foi uma emoção muito
grande saber que eu ia ter a chance de ver uma Copa dentro de casa, algo único.
Eu tinha certeza que ia trabalhar de alguma forma no evento. Sempre foi meu
sonho ser jornalista, mas eu estava me preparando para a faculdade de História.
Comecei a imaginar os estádios, a festa, os turistas de todo o mundo. Eu tinha
convicção que iríamos proporcionar algo único e grandioso.
A
história de como fui de Niterói e para Cuiabá e ainda conseguir um ingresso
para esse jogo é bem interessante. Em 2014, eu já havia desistido do curso de
História e estava no início da faculdade de Jornalismo, finalmente realizando
meu grande sonho. E a Copa do Mundo estava ali, se aproximando. Cacei alguma
vaga, mas eu não tinha experiência alguma, o que complicava muito para mim.
Porém,
minha tia Renata, tão querida, é jornalista. Ela trabalhou por muitos anos com
assessoria de imprensa e foi contratada por uma empresa do Rio, a In Press,
para trabalhar em Cuiabá durante a Copa, no Centro Aberto de Mídia. A menos de
um mês do início do evento, ela comentou com o chefe que tinha um sobrinho
começando no jornalismo e que poderia dar apoio à equipe na cidade e por um
custo baixo. Ele me chamou para conversar e fui contratado para passar um mês
lá, trabalhando todos os dias no Centro Aberto de Mídia. Foi uma experiência
fantástica, pois, inclusive, fomos com jornalistas estrangeiros visitar o
Pantanal.
Visita com jornalistas no Pantanal
Foi
quando no dia de Japão e Colômbia, 24 de junho, último jogo da Copa na cidade,
mais ou menos duas horas antes da partida, uma das meninas que trabalhavam lá
contou para mim que havia comprado um ingresso a mais para uma amiga. Ela me
ofereceu e aceitei na hora. Foi assim que eu iria para o meu primeiro jogo em
Copa do Mundo. De supetão. Como tudo estava acontecendo na minha vida naquele
momento.
Então
saí correndo para o estádio. Arrumei uma carona, pegamos um pouco de trânsito e
ficamos um pouco distante do estádio. Tive que dar a volta na Arena Pantanal
para encontrar a minha fila. Faltava pouco mais de meia hora para a partida e a
fila estava gigantesca. Passei o tempo conversando com dois amigos colombianos
que foram de ônibus para Cuiabá e contaram as dificuldades da viagem. Falamos
sobre futebol, cultura dos estádios no mundo e, é claro, a Copa. Foi muito
divertido, mas tive que acompanhar a cerimônia de abertura da partida pelo lado
de fora
Consegui
correr e entrei no momento exato que a partida começava. Achei meu lugar, era
exatamente ao lado da amiga da menina que me passou o ingresso. Atrás de mim,
tinham dois japoneses. De resto, para onde eu olhava, via colombianos. O clima
era inacreditável. Foi muito melhor do que eu imaginava. Todas as pessoas
estavam incrivelmente felizes. Sorrisos, palavras de alegria e saudações eram
trocados por todos na arquibancada. A torcida colombiana lotou a Arena
Pantanal. A cada "ola" que se aproximava, eles batiam o pé em um
ritmo alucinante, algo marcante que eu nunca tinha visto.
Como
fui de última hora para a partida, não consegui levar nada para trocar com
outros torcedores. O único souvenir que consegui foi o copo de cerveja dourado
da Budweiser. Eu ainda estava com a camisa que usávamos no trabalho. Mesmo
assim, foi realmente um dos momentos mais emocionantes da minha vida. A todo
momento eu pensava em como queria ter ido a esse jogo com meu pai, que ficou no
Rio de Janeiro. Ele que me passou todo o amor ao esporte que eu tenho, ele que
sempre me levou ao Maracanã, Laranjeiras ou Caio Martins.
Mondragon bate o recorde
A
festa feita pela torcida me encantou mais que o futebol das duas equipes. A
Seleção Colombiana entrou com algumas modificações, como Quintero no lugar de
James Rodríguez e Teo Gutierrez no lugar de Jackson Martínez. O primeiro tempo
foi bem fraco tecnicamente, mas terminou 1 a 1. Cuadrado fez de pênalti para os
colombianos, me dando a oportunidade de gravar nos últimos suspiros da bateria
do meu celular, e Okazaki, já no apagar das luzes, empatou de cabeça na única
chegada dos japoneses.
No
segundo tempo, Jose Perkerman, técnico argentino da Seleção Colombiana, colocou
James e Jackson na partida e a Colômbia atropelou. Martínez fez dois e James,
já aos 43, fez um golaço. Para mim, o mais bonito dele na Copa. Ele recebeu
dentro da área e com um drible espetacular, deixou o zagueiro japonês caído. Na
sequência, com muita tranqulidade, deu um toque por cima do goleiro. Um
espetáculo.
Antes
disso, aos 39, Pekerman gastou a sua última substituição com um momento
histórico: trocou o goleiro Ospina pelo experiente Mondragón, de 43 anos, que
se tornou o jogador mais velho a atuar em uma partida de Copa do Mundo.
Confesso que fui as lágrimas com a reverência que a torcida prestou a ele, além
de entender que estava ali, presenciando a história sendo feita. Acho que a
entrada do Mondragón e o gol do James foram as cerejas de um bolo muito
especial. Pouca gente fala dessa partida, mas foi uma das mais legais e
marcantes da Copa do Mundo. E que eu tive a honra de fazer parte.
* Pedro Gilio Guzzo Martins, 25 anos, é
jornalista, mora em Niterói e torce para o Fluminense. Acompanhe os comentários
futebolísticos de Pedro no Twitter, que é o @pedrogilio.
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