O gol da Costa Rica
* por Luigi Di
Vaio
A
história que segue foi uma daquelas que dificilmente achei que iria acontecer.
Uma grata surpresa e um dia inesquecível - teria sido melhor se a Azzurra
tivesse vencido a até então inexpressiva Costa Rica.
O
primeiro ato da minha pessoal história de Copa começou em um dia que estava
quase com febre. Pintou uma festa. Quase não fui. Fui pela insistência de um
amigo. Vamo lá, lugar legal, gente bonita etc.
A
festa se falava muito da Copa. O torneio já tinha começado. Eis que, de
repente, ouço: "Italiano, sobrou um ingresso pro jogo da Itália? Quer
ir?". Bom, já tinha tomado umas cervejas e achei que era sarro de quem fez
a proposta. "Claro!", respondi, desdenhando. "Só tem um
probleminha...", informou o autor da proposta.
A Costa Rica surpreendeu mais uma vez
"Lá
vem", pensei. "Tava bom demais pra ser verdade"... Eis que segue
a explicação do "probleminha". O convite incluia tudo: desde ônibus
de Santos até o aeroporto, as passagens aéreas, ônibus lá em Recife...Tudo.
Lindo e maravilhoso, né? Sim. Não fosse um detalhe: eu iria entre convidados da
Costa Rica. Familiares dos jogadores e autoridades. Com o efeito do álcool
confundindo meus pensamentos, topei. Claro. "Vou de intruso".
Foi
difícil dormir naquela noite. Como iria? Sem camisa alguma da Azzura ou com ela
debaixo de outra?
Peguei
o ingresso em uma tarde de Sexta-feira 13. De noite, como não tinha contado a
quase ninguém, tive de sair. Queria contar pra uma pessoa de confiança. Sobrou pra
uma ex-namorada. Ela também queria ir. Adora Copa do Mundo.
A
pedra no sapato era que o jogo seria em uma sexta-feira, dia de trabalho. E
agora? “Chefe, posso folgar na sexta?”. “Pra ver o jogo da Itália com a família
em casa, né?”. “Chefe, juro que não é pra ver o jogo da Itália em casa. Não é
isso. Juro”. Não menti. Não veria o jogo em casa. Não faltei com a verdade
perante minha superiora.
Passo
seguinte foi definir a estratégia da ida na viagem. O meu ônibus sairia às 3h30
de um hotel no Gonzaga. Segui meu plano: beber até umas 2 horas, em um
conhecido bar, ir para casa, tomar banho e chegar ao hotel.
Deu
tudo certo. Até eu entrar no ônibus. Fui o último. Vi quase todos com uniforme
da Costa Rica. Dei meu nome a quem estava com a lista. "Luigi Di Vaio?
Italiano?", perguntou o responsável pelo grupo, enquanto já tomava uma
vaia. "Não. Imagina. Brasileiro", respondi, negando minha
nacionalidade por questão de segurança.
'Ticos' comemoram a vitória
O
ônibus chegou a Guarulhos e eu não consegui me enturmar. O que fazer? Cerveja pra
passar o tempo. Entro no avião e tomo outra lata, no café da manhã.
Chegamos
em Recife no fim da manhã. Entramos em um daqueles ônibus estilizados. No
trajeto, pessoal acenando. Me senti um pop star...Se eu não acenasse, iriam
desconfiar. Lembro que pouco antes de chegar ao estádio, coloquei no meu
celular um vídeo "Nu juorno buono (Um dia bom)", do rapper napolitano
Rocco Hunt. Era pra entrar ainda mais no clima. Muita emoção quando o ônibus
parou.
Entrando
no estádio, pura festa. Tipo rave. Música alta, bebida, belas mulheres. E um
monte de gente fantasiada.
Descobri
que não precisava ficar na torcida da Costa Rica. Me enfiei entre os 'tifosi'
da Azzura e, antes de começar o jogo, vi o Lorenzo Insigne (napolitano, como
eu, e que joga no Napoli, meu time) aquecer, tocando bola com outros jogadores.
Hora da presepada. Não podia faltar. Me aproximei, fui lá na frente e comecei a
gritar: "Lorenzo, Lorenzo". E não é que ele se virou pra ver quem era
o desmiolado que tava gritando o nome dele?
Do
jogo em si, lembro que fomos bem mal. Lembro de um lance do Balotelli perto da
área, mas nada muito inspirador. Das lembranças, o sentimento de festa de jogo
de Copa. Mas o gol da Costa Rica em Buffon foi apenas mais um capítulo deste
triste momento do calcio italiano. Que esse momento mude rápido. Que seja, nas
palavras de Rocco Hunt, 'nu jorno buono'.
* Luigi Di Vaio, 42 anos, é repórter e colunista
do jornal Diário do Litoral, nasceu em Nápoles, na Itália, mas mora em Santos-SP
atualmente e torce para o Napoli.
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