Abdón Porte é um mártir para a torcida do Bolso
O Club Nacional de Fútbol, de Montevidéu, no Uruguai, que
ontem empatou em 1 a 1 o clássico contra o Peñarol, comemorou na semana passada
116 anos de fundação. A sua história é rica e cheia de títulos e grandes
jogadores. Porém, há um fato sobre o clube que se destaca: um jogador, Abdón
Porte, cometeu suicídio ao saber que não seria mais titular do Bolso, como o
Nacional é conhecido, e virou o mártir da torcida.
Abdón Porte nasceu em Libertad, na província de Durazno,
em 1893. Em 1908, aos 15 anos, mudou-se para Montevidéu, onde começou a jogar
futebol no Colón Fútbol Club. Logo em seguida, teve uma passagem rápida pelo
extinto clube Libertad, mesmo nome do seu local de nascimento, e, em 1911, foi
jogar no Nacional, time que ele já torcia desde quando ainda morava em Durazno.
‘El Indio’, como o jogador era conhecido, estreou pelo
Bolso no dia 12 de março de 1911, como lateral direito, em partida contra o
Dublin. Logo em seguida, ele viraria o que hoje conhecemos como volante. Daí
para frente começou uma história de amor entre clube, Abdón Porte e torcida.
Equipe de 1913, com Abdón Porte entre os titulares
No clube tricolor, Porte foi titular de forma
indiscutível por sete anos, ganhando a faixa de capitão com galhardia. Em 207
partidas pelo Nacional, ele mostrou sempre um estilo aguerrido e
combativo, obtendo numerosas conquistas de âmbito nacional e internacional.
O jogador era um verdadeiro leão dentro de campo. Não foi
a toa que ajudou a equipe ao longo de sua carreira a conquistar 19 títulos,
incluindo quatro campeonatos uruguaios. Abdón Porte também defendeu a Celeste
Olímpica, quando ainda a seleção ainda nem havia recebido este apelido,
participando da conquista do Campeonato Sul-americano de 1917, realizado em
Montevidéu. Este foi o ápice de sua carreira.
Com toda esta história dentro de campo, Porte já seria um
grande personagem da história do time tricolor. Porém, o que realmente o eternizou
nestes 116 anos do Bolso foi um triste ato que o fez perder a vida.
Abdón Porte com a camisa do Nacional
No início de 1918, a comissão técnica do Nacional visava
algumas inovações para a temporada que se iniciava e, uma delas, seria a
gradativa renovação do elenco. Porte foi comunicado que seria o reserva de
Alfredo Zibechi, que despontava como um promissor talento.
El Indio não assimilou bem a decisão. Apaixonado pelo
Nacional, ele queria defender sempre seu querido clube. Em 4 de março daquele
ano, o Bolso venceu o Charley por 3 a 1, com uma atuação abaixo do normal de
Porte, que já sabia que iria para o banco de reservas a partir dos próximos
jogos.
Na manhã do dia seguinte, sem que ninguém notasse, El
Indio retirou-se da sede do clube e se dirigiu ao Gran Parque Central, estádio
do Nacional. Ele caminhou até o meio da cancha, sacou uma arma e desferiu um
tiro contra o próprio coração. Morria, no dia 5 de março de 1918, Abdón Porte.
Faixa da torcida enaltecendo El Indio
Seu corpo foi encontrado pelo cão do zelador do estádio poucas
horas depois do suicídio. Os latidos do animal chamou a atenção do responsável
pela manutenção do campo, que verificou a cena, foi até o corpo de Porte e
achou duas cartas. A primeira, dirigida ao presidente do clube, tinha os
seguintes dizeres:
“Querido doutor José Maria Delgado. Peço a
você e aos demais companheiros da comissão que façam por mim como fiz por
vocês: façam por minha família e por minha querida mãe. Adeus querido amigo da
vida!”
Já a segunda carta era um poema em que ele deixava
evidente sua paixão pelo clube:
“Nacional, ainda que em pó convertido
e em pó sempre amante.
Não esquecerei um instante
o quanto te amei.
Adeus para sempre!”
Não esquecerei um instante
o quanto te amei.
Adeus para sempre!”
O suicídio é explicado pela depressão causada pela dor da
perda de dois de seus irmãos, também ex-jogadores do Nacional, vítimas da
varíola, além da perda da titularidade na equipe.
A morte de Abdón Porte causou grande comoção no meio
desportivo uruguaio, sendo até hoje o exemplo máximo de amor por uma
instituição clubista. Em honra ao ídolo que deu a própria vida ao clube, uma
das tribunas do Gran Parque
Central hoje se chama Abdón
Porte.
Tatuagem do rosto de Abdón Porte
Além disso, os torcedores do Nacional tratam Abdón Porte
como um mártir. É comum ver faixas no Gran Parque Central com dizeres como “Por
la sangre de Abdón Porte”, algo como “Pelo sangue de Abdón Porte” em português
(sim, a palavra sangre, em espanhol, é feminina). Também é comum ver torcedores
do Bolso com tatuagem do rosto de El Indio, que realmente é considerado um
grande herói deste clube vencedor do futebol uruguaio.
Há um documentário do The History Channel, em espanhol, sobre a história de Abdón Porte que você pode conferir abaixo, em vídeo postado no YouTube.
Há um documentário do The History Channel, em espanhol, sobre a história de Abdón Porte que você pode conferir abaixo, em vídeo postado no YouTube.
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