Beristain junto com a torcida rubro verde.
Era comum esta cena no fim dos jogos
Um atleta argentino que estava indo para a Europa e quando o
navio fez escala no Porto de Santos resolveu se exercitar um pouco e acabou
indo parar em Ulrico Mursa, o estádio da Portuguesa Santista. Foi assim que começou
a curta, mas marcante história de Tomas Beristain (em alguns veículos grafado
como Beristein) na Baixada, considerado por muitos o melhor jogador que vestiu
a camisa da Briosa.
Beristain começou no futebol no Clube Atlético Platense e
logo quando subiu para o time principal, em 1931, tornou-se ídolo da torcida.
Suas jogadas rápidas e arranques pela ponta esquerda contagiavam os argentinos.
Em 1934, Beristein ganhou sua única chance na Seleção Argentina. Ele entrou em
campo no empate de 2 a 2 contra o Uruguai, em jogo realizado no Estádio
Centenário, em Montevidéu.
Beristain com a camisa do Platense
No Platense, Beristain ficou até 1936, fazendo 180 jogos
oficiais e marcando 61 gols. No ano seguinte, o jogador foi contratado pelo
poderoso San Lorenzo, o atual campeão argentino. Para se ter uma ideia de sua
fama, Beristain foi capa do El Gráfico, tradicional publicação argentina sobre
futebol, algumas vezes. Foi no San Lorenzo onde ele ganhou o apelido de “El Rey
del Taquito”. No clube, sua fama cresceu ainda mais e no final de 1939, alguns
clubes europeus estavam atrás do jogador, que resolveu ir até o velho
continente negociar um novo contrato.
No início de 1940, Beristain embarcou no Porto de Buenos
Aires para a Europa, mas quis o destino que ele ficasse no meio do caminho.
Quando o vapor fez escala em Santos, o jogador quis se exercitar para manter a
forma. Um portuário indicou o estádio da Portuguesa Santista, já que a equipe
principal do clube treinava naquele horário. E lá foi o argentino para a
Avenida Pinheiro Machado.
Capa do El Gráfico
Beristain participou do
treino junto com os outros atletas. Assistindo a atividade do clube estava
Alberto de Carvalho, presidente do clube, que repentinamente começou a ficar maravilhado
com a forma com que Beristain aplicava suas fintas, batia faltas e
dominava completamente a pelota, deixando seus companheiros de treinamento
atônitos com o malabarismo incrível praticado pelo famoso craque argentino.
Irreverente
e desbocado, porém sincero e autêntico, Alberto de Carvalho chamou os diretores
do clube e exclamou: “Contratem esse homem custe o que custar, pois é um
verdadeiro e portentoso craque”.
Com a camisa do San Lorenzo
Como o navio saía no começo
da noite, o clube tinha poucas horas para definir a contratação. A primeira
providência da diretoria foi fazer com que Beristain perdesse o vapor,
permanecendo em Santos. Para isso, a Portuguesa contou com o auxílio de outro
atleta de seu elenco, o lateral-direito Baigorrya, também argentino. O
conterrâneo contou como era a cidade e Beristain topou! Resolveu ser atleta da
Portuguesa Santista.
Vale ressaltar que a
Portuguesa Santista vinha de uma boa segunda metade da década de 30. Com um
time que contou com craques como Tim e Argemiro, a equipe figurava entre os
melhores de São Paulo e, quase sempre, ficava na frente dos rivais da cidade,
Santos e Hespanha (atual Jabaquara).
Beristain é o último agachado
E a relação de adoração da torcida com Beristain começou. No jogo contra o grande Corinthians, em memorável tarde do argentino, a Briosa conseguiu vencer seu aguerrido adversário pelo significativo placar
Outro jogo marcante foi na vitória de 1 a 0 sobre o São Paulo. Beristain jogou tão bem que saiu carregado nas mãos dos torcedores, totalmente alucinados pela grande atuação do argentino. Mas não era só de elogios que vivia Beristain. Devido a atrasos, ele chegou a ser multado em um conto de réis.
Reportagem em A Tribuna sobre a multa de Beristain
E não era só no estádio em
que ele era atração. O argentino chamava a atenção na
praia. Residindo na pensão São João, localizada na Avenida Vicente de Carvalho
(Praia do Boqueirão), quando fazia sua recreação na areia com uma pequena bola
de borracha - "pelota de goma", - como ele dizia -, um elevado número
de assistentes de ambos os sexos (mais feminino, é claro) ficava em torno dele,
enquanto a turma ficava de boca aberta, pelo que ele conseguia fazer com tão
pequena bola.
Quem o viu jogar, dizia que
Beristein batia escanteios e pênaltis de letra. Dessa história veio a lenda de
que ele chegou a marcar dois gols olímpicos em um
jogo cobrando o "corner" de calcanhar. Infelizmente,
esta linda história de Beristain em Santos foi curta. No início de 1941, ele
voltou para a Argentina. Ele não renovou contrato porque foi chamado por seus
familiares, que o queriam junto deles por razão da II Guerra Mundial.
A diretoria,
tendo que aceder diante dos motivos expostos, ofereceu-lhe um jantar na noite
de sua partida de regresso à Argentina. Beristein, durante o jantar, afirmou
que jamais se esqueceria de Santos e que se porventura um dia voltasse a jogar
no Brasil, poderíamos estar certos que somente o faria na Portuguesa. E para grande desolação da torcida rubro-verde, Beristein
voltou para a sua terra natal. Em Buenos Aires, Beristain voltou
para o San Lorenzo, jogou mais uma temporada e encerrou a carreira. Na equipe,
contando as duas passagens, Beristein fez 52 jogos oficiais e marcou 16 gols.
O argentino marcou época em
Santos. Quem viu disse para seus descendentes que Beristain foi o melhor
jogador que vestiu a camisa da Briosa. E seu nome ficou marcado para sempre na
história rubro verde.
* Deixar um agradecimento especial para o jornalista Walter
Dias, a voz do sistema de som do Estádio Ulrico Mursa, que deu uma grande ajuda
para este artigo.
Muito bom Victor! Ótima história! Esse personagens merecem a lembrança eterna.
ResponderExcluirParabens Victor bela materia,
ResponderExcluirAss. Ruas
Vitor
ResponderExcluirParabéns pela matéria
Alcino Melo