Mesmo com Gylmar, o Jabaquara foi rebaixado em campo
Quem diria que uma briga nos tribunais desportivos para a
manutenção de uma equipe na divisão principal forneceria um belo bordão. Pois a
batalha travada pelo Jabaquara Atlético Clube, de Santos, para se manter na
elite do Paulistão, após o rebaixamento no certame de 1951, deixou expressões
como “jabaquarada” e “vou botar o Jabaquara em campo” bastante populares na
Baixada Santista por muitos anos.
Apesar de ter um elenco com jogadores de qualidade, com
destaque para o goleiro Gylmar dos Santos Neves, que se transformaria em um dos
maiores na posição da hist
ória do
futebol brasileiro, o Jabaquara não fez uma boa campanha, terminando o
Campeonato Paulista de 1951, vencido pelo Corinthians, na última posição, com 14 pontos, três atrás do
Ypiranga da Capital, o penúltimo. Na competição, o clube da colônia espanhola
fez 28 jogos, com apenas cinco vitórias, quatro empates e 19 derrotas, marcando
32 gols e sofrendo 75.
O regulamento da competição, naquele ano, previa um
cruzamento do último colocado da primeira divisão com o campeão da segunda,
decidindo quem jogaria na divisão principal no ano seguinte. Com isso, o
Jabaquara teria que enfrentar o XV de Jaú, em melhor de 3 pontos. Na primeira
partida, em Jaú, o XV meteu um sonoro 5 a 0 no Leão. Já no segundo jogo, o Jabaquara venceu, em casa, por 2 a 0, forçando o terceiro e decisivo embate.
A partida foi marcada para o Estádio da Ponte Preta, em
Campinas. No primeiro tempo, o XV teve as melhores oportunidades, mas o
Jabaquara conseguiu segurar o empate. No segundo tempo, logo aos 6 minutos,
Guanxuma abriu o placar para a equipe de Jaú. E foi aí que começou a confusão.
Os jogadores da equipe de Santos foram para cima do
árbitro, alegando que o atleta do XV estava em posição irregular. O jornal A
Tribuna da época confirma a versão de que o gol teria sido impedido. Durante a
reclamação, três jogadores do Jabaquara foram expulsos, o que levou o restante
da equipe a se retirar do campo e o árbitro encerrou a partida com apenas uma
equipe em campo.
Depois do jogo, entrou em ação um dos mais conceituados
advogados de Santos na época, Antonio Ezequiel Feliciano da Silva, que chegou a
ser, inclusive, prefeito da cidade naquela década. De acordo com o livro
“Jabaquara dos nossos corações”, de Sergio dos Santos Silveira, Silva já havia
defendido os três clubes contra o Decreto 3199 da Federação Paulista de Futebol
(FPF), onde apenas os clubes da Capital poderiam disputar o Paulistão. E com a
tese de que as três agremiações eram fundadoras da FPF, o Campeonato Paulista
continuou tendo jogos na cidade litorânea.
Já no caso do descenso do Jabaquara, o advogado usou a
tese de que a FPF não havia homologado a lei de acesso ao poder competente, no
caso o Conselho Nacional de Desportos (CND), o que foi acatado por Manuel
Vargas Neto, presidente do CND na época.
Página do Jabuca no álbum de figurinhas
Com a decisão em mãos, o Jabaquara disputou a elite do
Campeonato Paulista de 1952 e a expressão “jabaquarada” e a frase “vou botar o
Jabaquara em campo” passaram a ser usadas tendo como significado buscar
direitos, brigar por alguma coisa que lhe pertence, não esmorecer diante das
quedas ou, no popular, virar a mesa. A expressão foi muito popular entre as
décadas de 50 e 70. Porém, até hoje é possível ouvi-la pelas ruas da Baixada.
Voltando ao futebol, o Jabaquara acabou ficando em
penúltimo lugar em 1952, sendo rebaixado novamente, pedindo licença das
competições. Em 1955, decidindo aumentar o número de equipes na primeira divisão, a FPF convidou
todos os fundadores para disputar a elite e o Jabaquara voltou à primeira
divisão, caindo em 1963. Hoje, o Jabaquara disputa a Segunda Divisão do Estado,
equivalente à quarta divisão.
Achei muito interessante, pois ouvia a frase Vou botar o Jabaquara em campo, e não sabia o significado! Mais uma frase que só quem mora em Santos sabe!
ResponderExcluirAchei muito legal!