Feitiço, um grande goleador
Os anos 20 e 30 para o futebol brasileiro foi marcado por
jogadores com histórias interessantes, que marcavam não só pelo o que jogava
como também por suas posturas contestadoras. Um desses era Luís Macedo Matoso,
o Feitiço, que marcou época jogando na AA São Bento, Santos FC, Corinthians,
Peñarol, Vasco da Gama e Palestra Itália.
Feitiço nasceu em 29 de setembro de 1901, em São Paulo e foi
criado no bairro do Bexiga, onde aos 16 anos começou a jogar futebol em
detrimento à bocha, até então seu esporte favorito. O apelido
"Feitiço" deve-se a uma menina que assistia aos jogos do centroavante
no bairro e dizia que "o Luizinho parece um feitiço quando joga".
A fama de finalizador nato de Feitiço já corria entre os
boleiros da capital paulista e o Corinthians o convidou para jogar um amistoso
em 1921, onde marcou um gol. Porém, logo em seguida o centroavante foi para a
Associação Atlética São Bento, o time da Praça da República, e o seu futebol
cresceu ainda mais, sendo artilheiro do certame estadual por três vezes
(1923-24-25).
Foi no extinto clube que conseguiu seu primeiro título da carreira: o
campeonato paulista de 1925. Nesse mesmo ano, o centroavante teve sua primeira
passagem pelo Palestra Itália (hoje Palmeiras), emprestado junto ao São Bento,
e fez parte das duas primeiras excursões internacionais da história do Verdão,
para o Uruguai e Argentina, respectivamente.
Em 1927, foi contratado pelo Santos, onde entraria para o famoso
ataque dos cem gols, formado por Osmar, Camarão, Feitiço, Araken e Evangelista. Este time marcou cem
gols em dezesseis partidas, obtendo assim uma média que até hoje é recorde
mundial de gols marcados em uma competição oficial (6,25 gols por partida).
Feitiço marcou gols nos onze primeiros jogos do time, inclusive com quatro gols
na mesma partida por duas vezes e três gols em quatro oportunidades.
Time do Santos dos cem gols de 1927
Nesse Paulistão,
Feitiço protagonizou uma cena inusitada. O Santos havia perdido por 6 a 5 um
amistoso para o Guarani, após estar
vencendo por 5 a 0. Meses depois, no reencontro das equipes pelo Campeonato, o
alvinegro abriu 5 a 0 novamente, no primeiro tempo. No segundo, após driblar
três adversários, Feitiço ficou com o gol aberto. Ele parou a bola em cima da
linha, ergueu as duas mãos, uma com todos os dedos levantados e a outra apenas
com o indicador erguido, em referência ao sexto gol que estava por ser marcado.
A partida foi encerrada com 10 a 1 em favor dos santistas, com três gols de
Feitiço.
Mas Feitiço seria punido pela Associação Paulista de
Esportes Amadores (Apea) por outro fato inusitado. O Campeonato Paulista fora
interrompido para a disputa do Campeonato
Brasileiro de Seleções estaduais. Na final, entre Rio de Janeiro e São
Paulo, disputada em 13 de novembro, no Estádio
São Januário, o placar estava empatado, com um tento pra cada lado. Aos 29
minutos do segundo tempo, o árbitro Ari Amarante marcou pênalti de Bianco a
favor dos cariocas.
Aí vem toda a confusão. Os jogadores paulistas, irritados
com a marcação, cercaram o árbitro, povoaram a área e não deixaram a cobrança
ser feita. O presidente da república, Washington
Luis, que assistia à partida das tribunas, ordenou que a partida fosse
reiniciada. Um mensageiro do presidente foi até o campo e passou a ordem para
os jogadores. Feitiço, irritado, mandou outra mensagem: “Diga ao presidente que
ele manda no país. Na seleção paulista mandamos nós”.
Após alguns meses suspenso, Feitiço voltou defender a
camisa do Santos até 1931. Em todo este tempo, o centroavante foi artilheiro do
Paulistão por mais três vezes. Sua marca de seis vezes artilheiro estadual só
foi batida por Pelé. Ainda no Santos, foi tri vice campeão Paulista
(1927-28-29), não conseguindo levantar um título com a camisa do time praiano.
Feitiço defendendo o Peñarol
Apesar de todo sucesso, Feitiço não estava entre os
jogadores paulistas que foram pré-convocados para a Seleção Brasileira que iria
disputar a Copa de 30. No final, devido a confusão entre Apea e CBD, apenas um
jogador paulista foi para a Copa, o companheiro de time de Feitiço, Araken,
desafiando os cartolas bandeirantes. Pela Seleção, Feitiço fez apenas quatro
jogos, marcando seis gols.
Ao sair do Santos, Feitiço passou pelo Corinthians,
fazendo seu primeiro jogo com a camisa alvinegra ainda em 1931 .o atacante fez
sua primeira partida com a camisa alvinegra.
Um amistoso contra um combinado Sírio/Germânia vencido pelos
paulistas por 4 a 1. Feitiço fez um dos quatro gols do Timão. Neco e Américo
completaram a goleada e Viola descontou para o combinado.
A saída do Corinthians foi conturbada. Em um amistoso
contra o Uberaba cobrou um pênalti propositalmente para
o lado quando o placar já apontava 3 a 0. O jogador recebeu uma proposta
irrecusável do futebol uruguaio e foi defender o Peñarol.
Jogando pelo clube carbonero, Feitiço recebeu a alcunha
de artilheiro, que quando voltou ao Brasil acabou virando sinônimo de jogador
goleador. Nesse período conquistou o Campeonato Uruguaio de 1935 e ainda
tornou-se o primeiro estrangeiro a defender a Celeste
Olímpica, em seis oportunidades.
Anúncio da estreia de Feitiço pelo Vasco
Voltando ao Brasil, Feitiço ainda defendeu o Vasco
da Gama, ganhando o título de campeão carioca de 1936, seu segundo
título estadual. Teve ainda uma passagem pelo Palestra Itália, entre 1938 e
1940, e encerrou a carreira no final desse ano, pelo São Cristóvão, do Rio de Janeiro. Ao
todo, marcou mais de quatrocentos gols em sua carreira.
Sua fama era tão grande que influenciou adeptos do
futebol de São Vicente a fundar o Feitiço Atlético Clube, em 1928, que anos
depois viria a ser o São Vicente A
tlético Clube, agremiação
filiada à Federação Paulista de Futebol e que disputou a Segunda Divisão
Paulista (equivalente a quarta) em 2014.
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