A passagem relâmpago de Heleno pelo Santos

Heleno sendo apresentado por diretor do Santos

Genial e genioso. Por onde passou, causou confusões com tudo e todos. Mas, com a bola no pé era craque! Este era Heleno de Freitas, mineiro de São João de Nepomuceno, mas que passou a maior parte de sua curta vida no Rio de Janeiro. Polêmico, ele foi um dos melhores jogadores brasileiros da década de 40, marcando época no Botafogo e defendendo também as camisas de Fluminense (na base), Boca Juniors-ARG, Vasco da Gama, Atlético Barranquilla-COL, América-RJ e Seleção Brasileira.

Heleno era boêmio. Não era difícil andar pelos bares dos bairros nobres do Rio de Janeiro e encontrá-lo ou avistar uma foto do mesmo com o dono do estabelecimento. Frequentava bordéis e usava drogas como éter e lança perfume. O uso exagerado dessas substâncias agravaram suas crises de comportamento. Por conta de uma vida tão desregrada, Heleno contraiu a sífilis, doença altamente contagiosa.

O craque era formado em Direito pela Faculdade Nacional de Niterói, falava inglês e espanhol fluentemente. Em campo, era endiabrado. Não aceitava passe errado de companheiros e cobrava-os a todo o momento. Heleno tinha pinta de ator e ganhou o apelido de Gilda, personagem bela e explosiva interpretada pela atriz Rita Hayworth. Para provocá-lo, era comum os adversários gritarem “Gilda” no ouvido dele. De pronto, Heleno respondia: “Gilda é a mãe!”.

Cartaz do filme Gilda, de onde veio o apelido do craque

Agora, o que poucos sabem é que a interessante história deste marcante jogador teve um pequeno capítulo em Santos, quando Heleno foi contratado para jogar pelo Peixe. Para se ter uma ideia, o filme estrelado por Rodrigo Santoro, contando a história do atleta, não cita este fato.

O ano era 1951, alguns meses depois da Copa do Mundo. Heleno de Freitas vinha de uma temporada de atuações abaixo da média na Liga Pirata da Colômbia. Na verdade, o jogador já vinha desgostoso com o futebol desde quando foi preterido pelo técnico Flávio Costa para a disputa do Mundial. Vale ressaltar que ambos viviam em constante atrito no Vasco da Gama. Mesmo com os 19 gols em 24 jogos, o treinador do Time da Colina e Seleção Brasileira nunca engoliu o centroavante.

O Santos daquele ano era uma equipe sólida, mas que precisava de alguém que pudesse resolver as partidas no comando do ataque. Foi aí que o Orlando Monteiro Neto, à época diretor do clube, resolveu contratar o polêmico craque para tentar o tão sonhado título paulista, que não vinha desde 1935.

Heleno formou-se em direito

Heleno veio com toda pompa e sua fama já corria pelas ruas da cidade. Também recém-chegado ao clube na época, o zagueiro Chico Formiga foi um dos poucos que fizeram amizade com o craque. “Muito educado, simpático e sempre bem vestido, ele nem parecia com aquele cara que entrava em campo: sempre nervoso, com problemas”, afirmou o ex-zagueiro e técnico sobre o então companheiro de Peixe em entrevista concedida antes de falecer a Milton Neves.

Porém, nos poucos dias em Santos, as confusões se tornaram corriqueiras. “Certa vez, combinamos de ir até uma casa de câmbio para ele trocar o dinheiro que havia recebido na Colômbia. Perguntei se sabia ir de bonde e ele me respondeu ‘Heleno de Freitas não anda de bonde, vamos de táxi’ e eu não tive reação. Chegando lá, não quiseram trocar o dinheiro, pois aquela moeda quase não circulava na cidade: foi o estopim para mais uma briga”, explica Formiga.

Por causa destas confusões, mesmo em poucos dias, já era mal visto por grande parte da cidade. Para piorar, o centroavante conseguiu criar confusão com a comissão técnica. “Durante um dos raros treinos dele conosco, o Heleno despertou a fúria do Aymoré Moreira, nosso treinador, que expulsou ele do campo”, disse o saudoso Formiga. Porém, ele não saiu de campo. Teve que ser carregado para fora da Vila Belmiro.

Aquela foi a última vez que o atacante pisou no gramado da Vila Belmiro e nunca fez um jogo oficial. O mesmo dirigente que o contratou acabou demitindo-o, selando a curtíssima passagem do polêmico Heleno pela cidade de Santos.

Heleno ainda assinaria com o América do Rio de Janeiro, onde fez apenas um jogo, realizando seu desejo de jogar no Maracanã, em 1951, em uma derrota de 3 a 1 para o São Cristóvão. Nesta época, a sífilis já dava sinais de avanço e o jogador já sentia os efeitos da doença.

Em 1952, Heleno é internado pela primeira vez, em uma clínica na Tijuca. A sífilis continuou avançando e consumia a cabeça do jogador, que ficou louco. A insanidade e o estado precário de sua saúde o levaram à morte no dia 8 de novembro de 1959, em Barbacena (MG).
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2 comentários:

  1. Embora controverso é um dos grandes craques da primeira metade de nosso futebol, era um cara que chamava confusão. assisti ao filme, mas sempre preferi o livro é bem mais completo. Heleno é um personagem que sempre admirei pela obstinação e busca insana pela vitória, pelos bons resultados. teve grandes frustrações como não ter sido campeão jogando por seu amado Botafogo, além de não ter estado no grupo da Copa de 50. Já vi muita gente falar que aquela copa poderia ter sido diferente se ele estivesse no grupo, certamente as confusões seriam ainda maiores. Um belo texto e referencia a esse importante personagem.

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  2. Acredito que teríamos vencido aquela copa com heleno...tudo que ele queria.

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